Sinopse: Três homens, um lugar e um acontecimento que vai mudar a vida de todos. Supernova analisa como a essência de uma pessoa pode mudar baseada em um fato do acaso e do destino.
Em tempos de crise política, pandêmica e descrença que nós sentimos perante aos nossos líderes, constatamos que cada vez mais o lado bestial do ser humano está se aflorando, ao ponto que corremos um sério risco de adentrarmos um caminho sem retorno. Curiosamente, esse caminho está inundado de trevas, mas também de luz e da qual nem mesmo ela pode consertar o estrago que já está sendo feito. O filme Polonês "Supernova" (2019) é uma representação do mundo atual prestes a ter um ataque de nervos e do qual corremos sério risco de testemunharmos.
Dirigido estreante Bartosz Kruhlik, o filme é baseado num fait divers no qual o diretor diz ter se inspirado quando leu sobre o trágico atropelamento de uma família, em uma estrada vicinal do campo polonês, em nota de pé de página de jornal. Assistimos uma jovem com os seus dois filhos fugindo do seu marido bêbado, mas ela e as crianças são atropeladas por um determinado político. Com a chegada da polícia e dos paramédicos se tem início a diversas situações em um único ponto da estrada.
Em pouco mais de uma hora de duração, Bartosz Kruhlik nos convida para adentrarmos em uma trama cuja a mesma se passa em um dia ensolarado, como se não houvesse razão nenhuma para acontecer algo trágico. Curiosamente, o prólogo começa em um Plano-sequência, onde gradualmente avistamos a mulher, seus filhos e o marido bêbado tentando convencê-la a não ir embora. Só por essa cena já imaginamos diversos desdobramentos, mas todos eles acabam se tornando errados, pois a realidade acaba sendo muito mais crua do que nós imaginamos.
Há uma curiosa interligação dos personagens uns com os outros na medida em que eles vão surgindo, provocando a sensação para alguns que aquilo pode ser um tanto que inverossímil, mas se tornando coerente na medida que vamos conhecendo as suas motivações, seja do policial, do seu superior, ou dos demais que vão surgindo na tela. É a famosa teoria sobre o efeito borboleta, mesmo que aqui seja em menor escala, mas que a própria cresce na medida em que a situação foge do controle. É algo similar ao que já havia sido visto no filme "Babel" (2007), de Alejandro González Iñárritu, em escalas menores, mas sintetizando o fato de que qualquer mudança na água pode gerar uma onda maldita.
Com a câmera na mão, Bartosz Kruhlik nos passa uma sensação de uma obra quase documental sobre os fatos, como se aquilo estivesse realmente acontecendo. Curiosamente, foram poucos atores profissionais que foram contratados, sendo que a maioria que provoca ali a multidão que irá desencadear o descontrole são apenas moradores comuns da região em que foi feita a obra. O resultado é a transição do lado amador para o perfeccionismo da situação, onde qualquer passo em falso poderia ser benéfico para o resultado final da obra como um todo.
"Supernova" se encaminha facilmente na mesma fileira onde se encontra filmes recentes como "Parasita" (2019) ou "Coringa" (2019), pois são obras que dialogam com a sociedade atual cada vez mais sobrecarregada devido aos diversos problemas em que o mundo se encontra, seja ele moral, político ou de um desprezo cada vez maior das classes dominantes que se acham no dever de menosprezar um lado mais sociável. O epílogo, aliás é simbólico, pois ele fala de um eventual fim do mundo vindo através de uma supernova vinda do espaço, mas bem da verdade ele já está ocorrendo aqui embaixo e o que resta é, ou intervir, ou manter o pouco que nos resta nestes tempos indefinidos.
"Supernova" transita entre a insanidade e a estupidez humana atual perante as situações que poderiam ser evitadas.
Onde Assistir: NOW, Looke e outras plataformas de aluguel.
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