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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 3 de maio de 2024

Cine Especial: 'O Corvo - 30 Anos Depois'

Se você gosta realmente de algo coloque em prática para que assim você possa exorcizar as suas dores internas. Esse é o meu pensamento quando sempre escrevo sobre cinema e talvez tenha sido essa a maneira que o desenhista e roteirista James O'Barr tenha encontrado na vida. No final dos anos 70 a sua noiva havia sido atropelada por um bêbado causando a sua morte e fazendo da vida do escritor um inferno.

Para encontrar algum significado na vida ele começou a criar de forma pessoal uma HQ em que contava a história de Eric Drave, um rapaz que havia sido assassinado junto com a sua noiva na noite do Dia das Bruxas. Um ano depois um corvo pousa em seu túmulo, fazendo com que voltasse a vida e partindo para se vingar contra aqueles que tiraram a sua vida e de sua amada. A HQ foi lançada gradualmente ao longo da década em forma independente, mas sendo logo descoberta pelo grande público e passando a ser cultuada ao longo do tempo.

Quando a HQ foi lançada os heróis dessa arte estavam começando aos poucos sendo levados para o cinema. Porém, para aqueles que ainda são jovens, é necessário entender o mercado daqueles tempos, onde não havia efeitos visuais ainda de ponta e cujo estúdios sempre viam com certo risco investir neste tipo de projeto. Talvez as adaptações mais bem lembradas da época foram "Batman" (1989), "Batman - O Retorno" (1992), "As Tartarugas Ninja" (1990)"Dick Tracy" (1990), "O Sombra" (1994) e "O Máscara" (1994).

Foram filmes que se tornaram grandes sucessos, mas não sendo o suficiente para os estúdios abraçarem o gênero como um todo. Parece que havia certo medo devido a fonte, sendo que alguns produtores ainda via isso como algo infantil e descartável. Não é o caso de "O Corvo", sendo uma trama adulta que fala sobre vingança, em meio a uma cidade violenta e com sua sociedade cada vez mais perdida entre a violência e as drogas. Um material de peso e que se fosse levado a sério renderia um grande filme como um todo.

O até então desconhecido pelos cinéfilos Alex Proyas pertence a geração de diretores que construíram a carreira fazendo vídeo clips pela MTV. Sua intenção era sempre fazer um filme que falasse sobre um indivíduo estranho, deslocado e que acordasse em uma cidade que agora ele desconhece como um todo. Esse enredo, porém, não se aplica no filme estrelado por Brandon Lee, mas sim em "Cidade das Sombras" (1998), obra que ele há tempos queria realizar, mas para isso precisaria de um sucesso para que assim ganhasse carta branca. "O Corvo" veio em um momento oportuno, mas mal sabendo o que posteriormente viria.

Depois de vários testes para o elenco principal, Proyas finalmente escolheu Brandon Lee como ator principal. Conhecido por ser filho de Bruce Lee, o ator estava procurando um desafio maior para a carreira, já que até ali estava colecionando somente filmes de ação no seu currículo como "Assassinato no Bairro Japonês" (1991) e "Rajada de Fogo" (1992). Brandon via no personagem uma forma de abrir caminho para personagens mais desafiadores e que fizesse com que o público não o visse somente como um astro de filmes de ação. Sonho realizado, mas obtendo um alto preço.

Quando quase todas as cenas estavam concluídas o ator acabou sendo gravemente ferido durante as filmagens. Na cena em que se passa no apartamento, onde Eric e sua noiva Shelly (Sofia Shinas) são brutalmente assassinados por bandidos, uma das armas estava carregada com uma bala de verdade e ferindo mortalmente o ator. Brandon foi levado para o hospital, mas logo em seguida viria a falecer em 31 de março de 1993. Alex Proyas não queria retornar para concluir o filme, porém, ele voltou para terminar as filmagens que restavam a pedido da noiva de Brandon, pois ela acreditava que ele gostaria que o filme fosse lançado.

Olhando para traz é impressionante como o filme acabou se tornando o que ele é depois de trinta anos, pois além dessa tragédia o diretor possuía um orçamento apertado de apenas R$ 6 milhões de dólares e fazendo com que diversas possibilidades fossem limadas ao longo da produção. Porém, Proyas se aproveitou da simplicidade para realizar algo mais crível, como se fosse realmente possível alguém voltar dos mortos para buscar vingança e que andasse pela noite vestindo de preto e correndo pelos telhados. Visualmente o protagonista serviu de modelo para as adaptações de HQ seguintes, como "Blade" (1998) e até mesmo "X-Men" (2000), sendo que o figurino escuro era muito mais verossímil do que qualquer outra coisa que poderia se criar na época e acabar ficando ridículo.

Além disso, embora seja um personagem criado por James O'Barr, o ator Brandon Lee fazia questão de sempre fazer a própria maquiagem no seu rosto, sendo que as vezes parecia que nunca era perfeito, mas era intencional vindo do próprio ator que desejava que tudo parecesse mais crível assim como também a roupa que gradualmente começava a ficar mais rasgada. E se Brandon fazia questão de levar o papel a sério o mesmo pode-se se dizer de Alex Proyas que fazia com que cada cena tivesse um significado, seja quando o corvo sobrevoava a cidade em chamas, ou quando era imundada por uma enorme chuva. Com um visual extremamente gótico, o filme transita nos melhores momentos do expressionismo alemão assim como também dos tempos do cinema Noir, sendo que ambos os casos era algo que estava sendo muito revisitado nos tempos da era MTV.

Neste último caso, é evidente que Proyas criou um filme que transita para elementos do vídeo clipe daqueles tempos, sendo que a sua câmera sempre segue em movimento, mas não de uma forma frenética, porém, mais suave e como se não houvesse limitações. Um belo exemplo disso é na cena do encontro entre Eric e o policial Albrecht (Ernie Hudson), pois quando o primeiro desaparece a câmera gira em torno do policial em 360º graus de forma fluida e que nos evidência a não existência do protagonista em cena. Além disso, a beleza das cenas são quase todas entrelaçadas com ótimas músicas compostas pelas melhores bandas de sucesso da era MTV como no caso Stone Temple Pilots com a sua música "Big Empty".

Curiosamente, é um filme que agrada tudo e a todos, desde a geração MTV, como também do já citado cinema expressionista, Noir, com diversos elementos dramáticos e até mesmo com ótimas cenas de ação. Era o início dos anos noventa, onde o subgênero "Exército de um homem só" estava se desgastando e era preciso ser revitalizado. John Woo, por exemplo, foi um que deu novo sangue para esses filmes, ao injetar muita câmera lenta, folhas e pássaros voando e fazendo com que tudo se tornasse mais poético. A pedido de Brando Lee, o diretor Alex Proyas cria uma incrível sequência de tiroteio quando Eric invade a reunião entre os bandidos comandada por Top Dollar (Michael Wincott) é o resultado é simplesmente perfeito.

O filme foi lançado em 1994, sendo que no Brasil o seu lançamento foi em 19 de agosto do mesmo ano e todos ainda sentindo a perda de Brandon Lee. Tendo recebido ótimas críticas pela crítica especializada o filme acabou se tornando um verdadeiro sucesso, sendo indicado a vários prêmios e levando o MTV Movie Awards 1995 de melhor canção. Logicamente, o filme renderia mais quatro continuações, uma pior do que a outra, além de um remake que será lançado ainda esse ano e que já está gerando opiniões divisórias. Curiosamente, a história ganharia uma versão televisava, desta vez estrelado por Mark Dacascos, mas obtendo somente uma temporada.

Em tempos em que o gênero de HQ de Super Heróis para o cinema anda sofrendo o seu desgaste após anos com diversos sucessos, é sempre bom olharmos para trás para obtermos uma nova visão sobre esse tipo de filme que era lançado antes de virar moda. "O Corvo" estreou em um momento que não havia muito vícios ao usar fórmulas manjadas, mas sim nos passando uma identidade própria e que falava por si. Entre dores e perdas o filme é um exemplo de esforço dos seus realizadores em fazer algo original, que se diferenciasse se comparado ao que hollywood lançava na época e que com certeza teria aberto novas portas para Brandon Lee em vida.

"O Corvo" não é somente uma das melhores adaptações de HQ para o cinema, como também o melhor filme que soube nos transmitir o calor da geração MTV dos anos noventa.  


NOTA: O filme foi lançado em Bly-Ray pelo Obras Primas do Cinema com diversos extras e incluindo a última entrevista de Brandon Lee.   

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