Nota: Filme exibido para os associados do cineclube de Porto Alegre no dia 24/03/18.
O Insulto
Sinopse: Toni é um cristão
libanês que rotineiramente rega as plantas de sua varanda. Certo dia,
acidentalmente, ele acaba molhando Yasser, um refugiado palestino, iniciando um
desacordo que evolui para julgamento e toma dimensão nacional.
A violência atual do qual o
Brasil passa, onde há no fundo questões políticas, raciais, e crenças, não se
limita somente em nosso país, como também é um problema global que está cada
vez mais aumentando no mundo. Porém, determinadas situações, por vezes banais,
poderiam ser evitadas através de um dialogo, mas às vezes o problema se
encontra muito além de nossa visão. O Insulto é uma trama que se passa do outro
lado do mundo, mas não tem como não se identificar com a história, pois os atos
e consequências dentro da trama estão cada vez mais rotineiros do outro lado da
tela.
Dirigido por Ziad Doueiri
(West Beyrouth), a trama se passa em Beirute, onde acompanhamos a rotina do
Cristão Libanês Toni Hanna (Adel Karan), casado com uma bela esposa e
aguardando a chegada de sua primeira filha. Certo dia, ele acidentalmente acaba
molhando um trabalhador chamado Yasser (Kamel El Basha), um refugiado
palestino. Entre insultos e agressões físicas, ambos iniciam uma disputa na
justiça, onde o julgamento pode proporcionar dimensões imprevisíveis.
Se criando então o ato e a consequência, o cineasta Ziad Doueiri procura apresentar os personagens de uma
forma humana, mas fazendo a gente se perguntar por que eles agem assim de uma
forma tão inconsequente. Claro que, aos poucos, se percebe que ambos os lados
carregam cicatrizes emocionais, onde as guerras e os preconceitos de décadas os
fizeram serem moldados de uma forma que, talvez, desejassem terem sido outros
tipos de pessoas ao longo da vida. Mas
por mais fortes que tenham sido nunca é fácil esconder a dor e o ódio que vive
crescendo no decorrer do tempo.
Tecnicamente o filme é
dinâmico, onde uma situação iniciada em uma varanda toma proporções que ninguém
acredita e fazendo com que não nos desviemos o olhar da tela. Hábil como
ninguém, Ziad Doueiri ainda insere pequenos elementos que se tornam dinamites
para despertar a raiva de seus protagonistas. Quando a gente acha que haverá
uma trégua, eis que o papel da mídia vinda da TV, por exemplo, se torna uma
fonte, não só parcial, como também semeando o ódio de uma forma inconsequente.
Mas é no cenário do tribunal
que o filme nos brinda com os seus melhores momentos, pois além de fazer nos
lembrar de grandes clássicos do cinema dentro do subgênero tribunal, os
advogados de ambos os lados roubam a cena. Se a advogada Nadine (Diamand Bou
Abboud) transmite total virtude em defesa de Yasser, o advogado de Toni,
interpretado com intensidade pelo ator Camille Salamé, nos surpreende por
momentos dos quais nos faz a gente se dividir sobre ele, pois nunca sabemos,
até certo ponto, até onde ele irá para ganhar a causa. O ápice do enfrentamento
entre os dois advogados se encontra nos momentos em que ambos tentam encontrar
uma lógica em meio a uma situação que periga a qualquer momento declinar para o
ódio e a insanidade.
Porém, o ato final nos
brinda com momentos emocionantes, onde a ficção transita em uma realidade, mais
especificamente na guerra Civil Libanesa, conflito que aconteceu entre 1975 e
1990. É aí que o passado e o presente então se cruzam e fazendo com que os
personagens principais parem e reflitam sobre quem é realmente o culpado pela
semente de ódio que germinou e que pode então cessa-la por um pequeno gesto
humano e solidário. Não há como apagar o passado, mas não significa que se deve
sempre carregá-lo.
O Insulto é sobre a
humanidade atual em conflito, onde cada vez mais se encontra se afundando em
discursos fascistas e preconceituosos, mas não significa que não aja uma luz no
fim túnel e o filme sintetiza muito bem isso.
Nota: O filme segue em cartaz na casa de Cultura Mario Quintana de Porto Alegre as 19h.
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