MOSTRA
APRESENTA HISTÓRIA ALTERNATIVA DO CINEMA NORTE-AMERICANO NA CINEMATECA
CAPITÓLIO PETROBRAS
A partir de
terça-feira, 20 de março, a Cinemateca Capitólio Petrobras apresenta a mostra
Pioneiros Americanos: Filmes da Coleção Milestone. Com filmes realizados entre as décadas 1910 e
1990, em uma seleção que reúne obras raras e restauradas de diretores como
Shirley Clarke, Charles Burnett, Lois Weber, Kent Mackenzie e Billy Woodberry,
a programação da mostra enfatiza o projeto central da distribuidora e produtora
Milestone Film & Video, apresentando uma história alternativa do cinema
norte-americano. O valor do ingresso é R$ 10,00, com meia entrada para
estudantes e idosos. A Cinemateca Capitólio Petrobras aceita todos os
comprovantes de matrícula.
PIONEIROS AMERICANOS:
FILMES DA COLEÇÃO MILESTONE
A mostra Pioneiros
Americanos: Filmes da Coleção Milestone mostra ao público brasileiro destaques
da distribuidora e produtora americana Milestone Film & Video, em uma
retrospectiva composta por 10 longas e 5 curtas-metragens, dos quais sete
filmes são inéditos no Brasil. Os filmes, todos restaurados, serão projetados em
cópias digitais de alta resolução em 10 sessões ao longo de 10 dias. A mostra
ainda conta com a presença dos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard para
introdução de sessões, um debate com a pesquisadora gaúcha Juliana Costa e um
catálogo digital com textos sobre os filmes, sinopses e programação.
A Milestone Film
& Video - fundada em 1990 - se tornou um importante e influente canal de
divulgação de filmes clássicos em todo o mundo. Os fundadores Dennis Doros e
Amy Heller se comprometeram, em muitos casos, a divulgar o corpo de trabalho de
artistas que merecem ser conhecidos. Entre eles podemos destacar Lois Weber, a
primeira mulher diretora da indústria cinematográfica norte-americana a operar
seu próprio estúdio; Shirley Clarke, cineasta essencial para o cinema
independente norte-americano, cuja obra híbrida de ficção e documentário foi
uma grande influência para o cinema vérité nos Estados Unidos e na Europa; e,
Charles Burnett, renomado cineasta afro-americano, considerado um expoente do
movimento neorrealista de seu país, cujos retratos humanistas e calorosos da
comunidade negra de Los Angeles oferecem uma compaixão rara no cinema até os
dias de hoje.
A programação da
mostra enfatiza o projeto central da Milestone, apresentando uma história
alternativa do cinema norte-americano. Ela começa com o primeiro longa-metragem
documental da história do cinema - Na terra dos caçadores de cabeças (1914), do
etnógrafo e fotógrafo norte-americano Edward S. Curtis - e se estende até os
anos 90, antes da noção de "cinema independente" ser cooptada e
banalizada por Hollywood. A mostra tem curadoria e produção de Mutual Films, e
realização do Centro Cultural São Paulo e da Cinemateca Capitólio Petrobras.
PROGRAMAÇÃO
20 a 28 de março de
2018
20 de março
(terça-feira)
20h - Dança no sol
(dir. Shirley Clarke, 1953, EUA, 7min)
Retrato de Jason (dir. Shirley Clarke, 1967, EUA, 107min)
21 de março
(quarta-feira)
20h - Abençoe seus
pequeninos corações (dir. Billy Woodberry, 1984, EUA, 86min)
22 de março
(quinta-feira)
20h - Word is Out:
Histórias de nossas vidas (dir. Mariposa Film
Group, 1978, EUA,
132min)
24 de março (sábado)
16h - Bunker Hill (dir. Kent Mackenzie, 1956, EUA, 18min)
No Maps on My Taps (dir. George T. Nierenberg, 1978, EUA, 59min)
18h - Notfilm (dir.
Ross Lipman, 2015, EUA/Reino Unido, 129min)
Film (dir. Alan
Schneider com roteiro de Samuel Beckett, 1965, EUA, 22min)
21h - Vitória
estranha (dir. Leo Hurwitz, 1946, EUA, 64min)
25 de março (domingo)
16h - Little Nemo
(dir. Winsor McCay, 1911, EUA, 12min)
Na terra dos
caçadores de cabeças (dir. Edward S. Curtis, 1914, EUA/Canadá, 66min)
18h - Quando chove
(dir. Charles Burnett, 1995, EUA/França, 13min)
Sapatos (dir. Lois
Weber, 1916, EUA, 53min)
20h - Os exilados
(dir. Kent Mackenzie, 1961, EUA, 72min)
28 de março
(quarta-feira)
20h - O casamento do
meu irmão (dir. Charles Burnett, 1983/corte
do diretor de 2007,
EUA/Alemanha, 81min)
FILMES
Dança no sol (Dance in the Sun)
dir. Shirley Clarke, 1953, EUA, 7min
O primeiro filme
concluido de Shirley Clarke e primeiro a explorar a dança – sua profissão
original – é um registro gracioso de movimentos que muitas vezes remete ao
cinema de Maya Deren. O dançarino Daniel Nagrin encena um movimento de dança em
seu estúdio e na praia, criando uma interação lúdica entre esses dois espaços.
A Milestone restaurou Dança no sol, junto com outros curtas de dança e curtas
experimentais de Clarke, como parte do projeto “Project Shirley”.
Retrato de Jason (Portrait of Jason)
dir. Shirley Clarke,
1967, EUA, 107min
Durante doze horas,
em 3 de dezembro de 1966, a realizadora americana independente Shirley Clarke e
seus amigos entrevistaram Jason Holliday sobre sua vida, amores e crenças.
Jason, um homem negro gay de 43 anos que trabalha como michê e sonha com uma
carreira de entertainer em boates, encanta o público com suas histórias de
confronto familiar durante a adolescência em Nova Jersey, as orgias que
participou e a prostituição. Com bom humor, ele relembra seus dias de
faculdade, trabalhando em São Francisco, se tornando um viciado em heroína,
passando tempo na cadeia e no hospital psiquiátrico.
Abençoe seus pequeninos corações (Bless Our Little Hearts)
dir. Billy Woodberry, 1984, EUA, 86min
Abençõe seus
pequeninos corações representa o auge da tendência neorrealista no cinema
independente norte americano, entre os anos 60 e 80, no contexto do movimento
de cineastas negros em Los Angeles conhecido atualmente como o “L.A.
Rebellion”. O filme de Billy Woodberry (o único longa do cineasta por mais de
30 anos até a estreia de seu segundo longa em 2015) é uma crônica sobre os
efeitos devastadores do desemprego, sobre as famílias da comunidade negra de
Los Angeles. Nate Hardman e Kaycee Moore oferecem interpretações avassaladoras
de um casal cuja família é desestabilizada por eventos que estão além de seu
controle. Se a salvação persiste, é graças ao retrato sensível da vida
cotidiana que segue.
Word is Out: Histórias de nossas vidas (Word Is Out: Stories of Some of
Our Lives )
dir. Mariposa Film
Group, 1978, EUA, 132min
Em 1978, Word Is Out
surpreendeu o público em todo os Estados Unidos quando apareceu nos cinemas e
depois na televisão. Realizado por um coletivo de seis cineastas gays, o
documentário se tornou um ícone do movimento pelos direitos LGBT dos anos de
1970. O filme apresenta um mosaico de entrevistas com 26 homens e mulheres gays
ao redor de todo o país que descrevem com bom humor e lucidez suas experiências
pessoais ao se assumirem, se apaixonarem, se decepcionarem e lutarem contra
preconceitos e leis discriminatórias. Os entrevistados, com idades que variam
entre 18 e 77 anos e estilos entre donas de casa e travestis, incluem a poeta
Elsa Gidlow, a ativista política Sally Gearhart, o inventor John Burnside e o
cineasta Nathaniel Dorsky. O filme originalmente foi restaurado por Ross Lipman
do UCLA Film & Television Archive e lançado pela Milestone em 2008 na
ocasião de seu 30º aniversário. E, quarenta anos depois de seu lançamento
inicial, Word is Out continua sendo um registro fundamental da experiência de
homens e mulheres gays nos Estados Unidos, no início do movimento pelos
direitos LGBT.
Bunker Hill
dir. Kent Mackenzie, 1956, EUA, 18min
Mackenzie fez este
documentário poético como filme de conclusão de mestrado, quando estudava na
USC (University of Southern California), cinco anos antes de completar Os
exilados. O filme é um retrato da área residencial de Bunker Hill, no centro de
Los Angeles, com foco na vida de seus velhos residentes. Conforme os
assistimos, dia e noite, em suas atividades cotidianas, ouvimos seus
pensamentos. O filme procura passar uma idéia integral, tanto da vida interior
como exterior, dessas pessoas.
No Maps on My Taps
dir. George T. Nierenberg, 1978,EUA, 59min
A era de ouro do
sapateado durou toda a primeira metade do século XX, tendo como representantes
artistas extraordinários como Bill “Bojangles” Robinson, John Bubbles, Fred
Astaire, Gene Kelly e Eleanor Powell. Porém, nos anos 50, com ascensão do
rock&roll, os clubes de sapateado começaram a mudar de perfil, deixando os
grandes artistas de sapateado praticamente desempregados. Em 1979, entretanto,
foi lançado o importante documentário de Nierenberg No Maps on My Taps com
música de Lionel Hampton e a dança de Bunny Briggs, Chuck Green e Harold
“Sandman” Sims. O amor de Nierenberg pela dança e por esses grandes dançarinos
de sapateado fez desse alegre documentário um hit de audiência e crítica.
Notfilm
dir. Ross Lipman,
2015, EUA/Reino Unido, 129min
Intrigado com a
história da produção da obra Film, seu restaurador Ross Lipman decidiu contá-la
em um documentário que explora diferentes aspectos de sua realização. Film
contou com uma equipe de gigantes de vanguarda do século XX que se reuniu no
Lower East Side em Nova Iorque em 1964 para rodar a obra. Entre eles estavam o
produtor Barney Rosset - fundador da Grove Press, editora americana de William
S. Burroughs, Henry Miller e do próprio Beckett. Alan Schneider, importante
diretor de teatro que foi escolhido pelo autor para dirigir o filme, também o
único de sua carreira. Boris Kaufman, irmão de Dziga Vertov e cinematógrafo dos
filmes de Jean Vigo. Buster Keaton, o comediante mais auto-reflexivo da era do
cinema mudo. Notfilm foi o primeiro longa-metragem produzido pela Milestone.
Film
dir. Alan Schneider
com roteiro de Samuel Beckett, 1965, EUA, 22min
A frase do filósofo
Bishop Berkeley "esse est percipi" ("ser é perceber")
inspirou o único filme do escritor e teatrólogo irlandês Samuel Beckett,
realizado cinco anos antes de ganhar o prêmio Nobel de Literatura. Mudo e em
preto e branco, Film é uma perseguição entre dois personagens E (eye/olho), o
olhar subjetivo da câmera, e O (objeto), interpretado pelo já velho Buster
Keaton. O tenta desesperadamente evitar ser percebido enquanto foge cambaleando
pela rua até trancar-se em um quarto cheio de olhos, onde continua sua batalha
por auto-aniquilação.
Vitória estranha
(Strange Victory)
dir. Leo Hurwitz,
1946, EUA, 64min
O documentário
Vitória estranha foi realizado em um período no qual críticas à sociedade
americana eram vistas como uma traição. Ainda assim, este filme, pouco visto e
recém restaurado, compara a população dos Estados Unidos pós-guerra aos
inimigos fascistas que o país derrotou. Ele desafia o sentimento futilmente patriótico
e auto-congratulatório, popular nos EUA, na época, ao desmascarar a hipocrisia
das relações domésticas racistas e anti-semitas, acompanhando a vitória do país
sobre um inimigo evidentemente racista e genocida. Enquanto ouvimos um narrador
(Gary Merrill) condenar a hipocrisia americana do pós-guerra, nós vemos uma
mistura de imagens originais e de arquivo que mostram como os afro-americanos
eram oprimidos, discriminados, segregados a piores moradias e estudos,
proibidos de votar e vítimas da violência policial. Veteranos negros que haviam
sido encarregados de pilotar aeronaves, retornaram para casa para encontrar
ofertas de trabalho em posições desqualificadas.
Little Nemo
dir. Winsor McCay,
1911, EUA, 12min
Winsor McCay era um
cartunista do New York Herald que também realizou as primeiras animações do
cinema. Seu filme de estréia, Little Nemo, se baseou em sua tira de quadrinhos,
de mesmo nome. McCay trabalhou em sua animação por um ano, sempre que
encontrava tempo em sua agitada agenda. Um prólogo com a atuação do próprio
diretor foi acrescentado e cada frame do filme foi colorido a mão. A cópia da
Milestone foi masterizada a partir da única cópia em 35 mm existente do filme.
Na terra dos caçadores de cabeças (In The Land of the Head Hunters)
dir. Edward S.
Curtis, 1914, EUA/Canadá, 66min
O renomado fotógrafo
Edward S. Curtis dedicou sua vida a documentar o mundo dos indígenas norte
americanos. Ele criou um dos primeiros longas-metragens dramáticos da história
do cinema - uma obra-prima estrelando membros da tribo Kwakwaka'wakw (Kwakiutl)
da Colúmbia Britânica. O melodrama fantasmagórico de Curtis conta a história da
jornada espiritual de amor e desilusão de um guerreiro, frente uma batalha
entre tribos para salvar sua noiva. O estilo documental do filme que se
concentra em detalhes históricos e o lendário olhar para composição de Curtis
fazem de Na terra dos caçadores de cabeças um dos filmes mais bonitos da era
silenciosa e uma impressionante evocação da cultura nativa norte americana,
famosa por sua incrível herança artística. Alguns aspectos do filme se basearam
na tradição oral dos Kwakwa'wakw e retratam com precisão rituais tribais. A
versão de Milestone do filme é uma reconstrução tingida da obra original de
Curtis (que para muitos anos ficou perdida), que vem com uma nova gravação da
trilha sonora original.
Quando chove (When it Rains)
dir. Charles Burnett,
1995, EUA/França,13min
No dia do Ano Novo,
um contador de histórias local (interpretado por Ayuko Mabu) tenta ajudar uma
mulher (Florence Bracy) a pagar seu aluguel para que ela e seus filhos não
sejam colocados para fora de casa. A ajuda, no final, vem de um lugar
inesperado. O realizador Billy Woodberry (que colaborou com Burnett em Abençõe
seus pequeninos corações) aparece em um pequeno, porém memorável papel. Quando
chove é um belo retrato musical de uma comunidade afro-americana de South
Central, Los Angeles, o cenário para vários dos filmes de Burnett. O crítico Jonathan
Rosenbaum classificou o filme como um dos melhores de todos os tempos e
escreveu, “Este é um dos raros momentos do cinema em que o jazz influência
diretamente a narrativa do filme.”
Sapatos (Shoes)
dir. Lois Weber,
1916, EUA, 53min
Eva Meyer (interpretada
por Mary MacLaren) é uma pobre vendedora de lojas de 1,99. Ela é a única
assalariada de uma família de três irmãs, mãe e um pai que não consegue arrumar
emprego. No fim de cada semana, Eva entrega obedientemente seu salário para sua
mãe (Mattie Witting), mas, ao se ver cada vez mais sem saída, considera as
investidas de Cabaret Charlie (William V. Mong), um mulherengo com más
intenções. Sapatos foi adaptado de um conto de um conto do mesmo nome de Stella
Wynne Herron, inspirado por sua vez, no livro sobre prostituição, A New
Conscience and an Ancient Evil, da reformista social Jane Addams, escrito em
1912. A epígrafe do filme diz: "Quando seus sapatos se tornaram usados
demais para aguentar um terceiro solado e ela possuía nada além do que 90 centavos
para um novo par, desistiu da luta; usando suas próprias insolentes palavras,
ela foi ‘vendida por um novo par de sapatos’". A sessão dupla de Quando
chove e Sapatos será seguida por um debate com Juliana Costa, pesquisadora
gaúcha da obra de Lois Weber e de outras das primeiras realizadoras de cinema.
Os exilados (The
Exiles)
dir. Kent Mackenzie,
1961, EUA, 72min
O longa de estréia de
Mackenzie mostra um dia na vida de um grupo de jovens indígenas americanos que
deixaram suas reservas nos anos de 1950 para morar em Los Angeles, no bairro de
Bunker Hill – uma área residencial degradada com mansões vitorianas decadentes.
O filme estrela os atores não profissionais Yvonne Williams, Homer Nish e Tommy
Reynolds em um retrato enérgico, sem melodrama, de uma comunidade
marginalizada. O roteiro foi montado a partir de uma série de entrevistas que
são apresentadas com voz em off. Nenhum outro filme da época retratou os
nativos americanos como protagonistas, e consequentemente, Os exilados não
conseguiu distribuição, sendo lançado apenas em 2007, décadas depois de sua
realização e da morte prematura de Mackenzie em 1980. Para muitos críticos e
pesquisadores, é um dos primeiros filmes neorrealistas feitos nos Estados
Unidos.
O casamento do meu
irmão (My Brother's Wedding)
dir. Charles Burnett,
1983/cortedo diretor de 2007, EUA/Alemanha, 81min)
Charles Burnett é
frequentemente considerado um dos maiores cineastas afro-americanos. Seu
segundo longa-metragem (realizado após o renomado O matador de ovelhas, de
1977), O casamento do meu irmão é inteligente, engraçado, triste de cortar o
coração e atemporal. Pierce Mundy (interpretado por Everett Silas) é um jovem
negro que trabalha na lavanderia de seus pais, no degradado bairro de South
Central em Los Angeles, sem perspectivas para o futuro e tendo seus amigos de
infância sido mortos ou presos. Com a saída da prisão de seu melhor amigo e a
preparação do casamento de seu irmão com uma mulher de família rica, Pierce
navega por suas obrigações conflitantes enquanto procura descobrir o que ele
próprio quer para sua vida. O drama, que se desloca por diferentes
protagonistas com um tom de comédia, foi inicialmente roubado de Burnett por
seus produtores, que tentaram, em vão, distribui-lo nos Estados Unidos em uma
versão de duas horas. Apenas em 2007, quando diversos filmes de Burnett foram
adquiridos pela Milestone, o diretor conseguiu reeditar o filme em sua versão
preferida mais curta, que passou a ser a mais circulada.
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