Nos dias 07 e 08 de Abril eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre participando do curso Cinema Russo: Diretores, Diretoras e um pouco de História, criado pelo Cine Um e ministrado pela editora da revista cinema Teorema Ivonete Pinto e pela pesquisadora de cinema Juliana Costa. Antes disso, eu estarei por aqui postando sobre os melhores filmes daquele país, cujo alguns clássicos nos ensinam até mesmo o verdadeiro significado da palavra “socialismo”.
OUTUBRO (1928)
Sinopse: Filme de comemoração ao 10º Aniversário da Revolução
Soviética de 1917, na qual os Bolcheviques derrubaram o governo de Kerensky.
Também conhecido como ‘Os Dez dias que Abalaram o Mundo’, foi realizado com recursos
imensos, utilizando gente do povo que havia realmente participado da Revolução
nas ruas.
O cinema nasceu como curiosidade, como entretenimento, mas ao mesmo
tempo ganhou status de arte e do qual também documenta a verdade. Porém, ao
longo da história, o cinema também foi usado como é uma ferramenta da qual pode
desvirtuar uma história verídica, ou passando uma ideia para ser consumada pelo
público geral. Se Adolf Hitler, por exemplo, usava o cinema para passar a sua
propaganda nazista, recentemente o cinema brasileiro foi invadido pelo filme
Lava Jato: A lei é para todos, do qual desvirtua por completo os verdadeiros
fatos e passando a ideia de que há somente um único inimigo a ser combatido em
nossa realidade política.
Portanto é preciso ter um cuidado para não cair no conto do vigário,
mesmo sendo através de uma arte como cinema da qual nós apreciamos tanto. Ao
longo de sua existência, o cinema nos brindou com títulos que tenta nos passar
certo grau de verossimilhança com relação aos verdadeiros fatos da história,
mas sendo poucos cineastas que ousaram tamanho feito ao longo dessas décadas.
Sergei Eisenstein (O Couraçado Potemkine) talvez pertença essa minoria, ao
criar com precisão, mas ao mesmo tempo passando um olhar autoral, sobre os
verdadeiros fatos ocorridos na revolução soviética em Outubro de 1917.
Usando “não atores”, sendo eles próprios que haviam participado dos
dez dias do governo provisório após a queda do Czar, Eisenstein cria um
minucioso retrato daquele período, beirando a quase uma espécie de documentário
e se distanciando de qualquer momento previsível. Da queda da estátua de Czar,
para então invasão do povo dentro do palácio, é como se Eisenstein realmente
tivesse participado daquele movimento e registrando as principais mudanças ao longo
do seu percurso. Porém, o cineasta vai além, ao criar uma montagem engenhosa,
quase frenética, onde determinadas cenas se sobrepõem a outras e criando um
mosaico cheio de detalhes.
Segundo as próprias palavras do cineasta na época, ele usou a sua obra
para desenvolver suas teorias sobre as estruturas dos filmes, usando um
conceito que ele apelidou de “montagem intelectual”, editando junto às
filmagens de objetos aparentemente desconexos em ordem para criar e encorajar
comparações intelectuais entre eles. Um dos exemplos mais notáveis no filme
dessa técnica é uma imagem barroca de Jesus que é comparada, através de uma
série de sequências de imagens, com ideias hinduístas, Buda, deuses astecas e
finalmente ídolos primitivos a fim de sugerir as igualdades entre as religiões:
o ídolo é comparado com o militarismo para criar uma ligação entre o
patriotismo e fervor religioso pelo estado.
Tendo exibido
no Cinebancários no ano passado em de Porto Alegre, OUTUBRO é um filme
histórico pela sua proposta, em querer nos passar os verdadeiros fatos da
história, que vai contra os movimentos conservadores de ontem e hoje e dos
quais querem sempre desvirtuar os fatos históricos.
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