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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: OS 8 ODIADOS



Sinopse: Durante uma nevasca, o carrasco John Ruth (Kurt Russell) está transportando uma prisioneira, a famosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que ele espera trocar por grande quantia de dinheiro. No caminho, os viajantes aceitam transportar o caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson), que está de olho em outro tesouro, e o xerife Chris Mannix (Walton Goggins), prestes a ser empossado em sua cidade. Como as condições climáticas pioram, eles buscam abrigo no Armazém da Minnie, onde quatro outros desconhecidos estão abrigados. Aos poucos, os oito viajantes no local começam a descobrir os segredos sangrentos uns dos outros, levando a um inevitável confronto entre eles.

 

Ao abandonar o mundo contemporâneo e viajar para o passado, a partir do filme Bastardos Inglórios e seguido por Django Livre, Tarantino decidiu explorar épocas e locais diferentes para fazer um retrato da sociedade de ontem e fazendo um paralelo com a de hoje. Assistimos judeus dando o troco contra os alemães, assim como negros se vingando contra os brancos, mas em meio aos tiros e sangue escorrendo, há uma crítica ácida com relação a nossa sociedade que, em pleno século 21, ainda precisa evoluir e saber realmente pensar. O cenário de Os 8 Odiados (um mero armazém em plena nevasca) serve para colocar em pratos limpos inúmeras discussões, desde racismo, direitos humanos e até onde é válido as guerras que, surgem para um bem maior, mas se tornam um droga mortífera contra a humanidade.
A trama se passa alguns anos após o fim (aparentemente) da guerra civil Americana. Num ponto qualquer do país, John Ruth (Kurt Russell) está transportando uma prisioneira, a bandida Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para ser presa e enforcada numa cidade. Em meio a viajem, dão carona para um caçador de recompensa (Samuel L. Jackson) e para Chris Mannix (Walton Goggins), que será o novo xerife da cidade que estão indo. Devido a uma forte nevasca, são obrigados a parar num armazém do meio do nada, onde dão de encontro com mais quatro personagens lá dentro e que serão peças importantes no decorrer da trama.
As peças do tabuleiro estão colocadas e resta para o cinéfilo esperar quem vai dar o primeiro tiro para gerar a confusão toda. Até lá, somos apresentados gradualmente a cada um dos personagens, para então sabermos (até certo ponto) a real natureza de cada um deles. Devido a isso, o roteiro exige de nós certa paciência com a apresentação de cada um deles, sendo que, a primeira hora de projeção, é somente comandada por inúmeros diálogos de humor negro bem típico de Tarantino. 
Já tendo todos os personagens apresentados, é ai que Tarantino entra em cena realmente: com sua câmera, o cineasta vagueia pelo cenário daquele lugar opressor, onde a qualquer momento, qualquer um que der um passo em falso irá gerar consequências desastrosas. Se dois personagens chaves estão tendo um dialogo pra lá de absurdo, por exemplo, pode ter certeza que ao mesmo tempo algo a mais está acontecendo. Porém, assim como fez em seus outros filmes, Tarantino gosta de retornar na mesma cena, mais precisamente nos mostrando outro ângulo e fazendo de nós cúmplices de uma situação que os demais personagens (nem todos) desconhecem.
São situações que até mesmo remetem aos seus primeiros filmes (como Cães de Aluguel) e dialoga com a proposta que ele passou em seus dois filmes anteriores. Curiosamente é um filme que não nos coloca de nenhum lado, pois cada um dos personagens tem uma conduta duvidosa, porém, humana. Não há heróis ou vilões para a gente adorar ou odiar, mas sim pessoas com cada um com a sua história, mas que nem todas são reais, ou até mesmo boas.

Só mesmo grandes interpretes para interpretar personagens com condutas duvidosas e somente Tarantino seria capaz de criar a proeza de reunir grandes astros num mesmo cenário. Se Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Walton Goggins, Michael Madsen e Tim Roth são caras já conhecidas do universo tarantinesco, o mesmo não se pode dizer de Jennifer Jason Leigh: afastada de grandes papeis do cinema e tendo se dedicado mais a TV (como a série Weeds) Leigh finalmente ganha um papel de peso em sua filmografia, ao passar toda a loucura, selvageria e imprevisibilidade de sua Daisy Domergue, cuja presença sempre rouba a cena de outros em momentos chaves da trama.
O final do segundo ato, e o terceiro como um todo, nos brinda com momentos de grandes surpresas, violência, sangue, e até mesmo palavras do Presidente Abraham Lincoln, escritas num papel ensanguentado e que se torna peça chave de encerramento, não só do filme, como também da proposta que Tarantino começou a passar a partir de Bastardos Inglórios. Mais do que uma trilogia épica, o cineasta nos convidou para assistirmos a três grandes filmes sobre qual é o papel social das pessoas de ontem e hoje, cujas condutas resultam em preconceito, guerras, mortes e o surgimento de um dialogo cada vez mais escasso. Vindo de um diretor conhecido em fazer sequências de violência, por vezes explicita, não deixa de ser irônico afinal das contas o resultado final dessa trilogia épica.
Por mais absurdo que seja, Os 8 Odiados vem a provar que, talvez, Quentin Tarantino seja sim um cineasta humanista, mas só se aprofundando nessa sua última obra, e do resto de sua filmografia, para então compreendermos melhor essa minha teoria. 




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