1º) LIMITE (1931)
Sinopse: A trama
começa por nos apresentar três pessoas, um homem e duas mulheres, num pequeno
barco no mar alto. Já sem agua, debaixo de forte sol e prestes a ficar sem
comida, apresentam-se no extremo da desolação. O restante do filme mostrará
através de sucessivos flashbacks o que levou cada um deles a esta situação de
isolamento da sociedade, concluindo então com uma (certa forma de) resolução.
“Limite”, o único
filme concluído por Mario Peixoto, filmado em 1930 quando o realizador tinha 22
anos de idade. Um filme que, tendo estreado em 1931, não chegou a ter
distribuição comercial e cuja única cópia esteve em risco de destruição em 1959
por deterioração, mas que, graças a um trabalho de restauro durante os vinte
anos seguintes, foi recuperado e alcançou finalmente a consagração em 1988,
quando foi eleito pela Cinemateca Brasileira como o melhor filme brasileiro de
todos os tempos.
O que torna o filme
tão especial é o cuidado, o planejamento e sensibilidade colocados em cada
plano, na sua interação com a banda sonora (apenas musical), na utilização de
meios puramente cinematográficos (de uma forma que para mim se aproxima da
magia) para expressar este sentimentos de aprisionamento, desolação e fuga
(diria que tão louca como o amour fou nos filmes surrealistas) da sociedade. É
para mim difícil encontrar paralelos no cinema para a expressão destes
sentimentos com esta força. Talvez só na fuga de Karin no fim do “Stromboli” ou
no suicídio de Alain Leroy no “Le Feu Follet”. Mas esses são filmes diferentes.
Este é um filme que deve ser
o mínimo explicado e não o tentarei adiantar mais. Como afirma o próprio
Peixoto, a experiência oferecida por “Limite” não pode ser adequadamente
capturada pela linguagem, mas foi feita para ser sentida. Para ele o espectador
deve ser subjugado às imagens como “angustiantes acordes de uma sintética e
pura linguagem de cinema”. O seu filme é como um “grito almejando ressonância
ao invés de compreensão”. Para ele “o filme não ousa (ou não quer) analisar.
Ele mostra. Ele se afirma como um diapasão, capturando o fluxo entre passado e
presente, detalhes de objetos e contingências como se sempre tivesse existido
nos seres e nas coisas, ou destes se desprendendo tacitamente”.
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