David Cronenberg
continua sendo uma pessoa que vai ao extremo. Depois de destrinchar terras tão
distintas quanto o body horror (gênero
do qual ele é um dos grandes cultores, desde pelo menos Calafrios [1975]),
clássicos da literatura outré (Mistérios e Paixões, de 1991, e Crash –
Estranhos Prazeres, de 1996) e uma recente mudança pelo universo da moral e
tentativa da pratica do bem (Marcas da Violência, Senhores do Crime), o diretor
agora se envereda pelo lado obscuro do mundo da celebridade, com Mapas para as
Estrelas.
Um dos filmes mais corajosos
do ano que passou, Mapas possui uma critica forte sobre figuras imprevisíveis,
mas que jamais escondem o seu lado frágil. Havana Segrand (Julianne Moore, numa
interpretação espetacular) é uma atriz, cujo brilho se encontra desgastado,
vivendo assombrada pela imagem de sua mãe já falecida (Sarah Gadon), de quem
guardou apenas lembranças ruins e pecaminosas. Agatha (Mia Wasikowska) tem o corpo
marcado por cicatrizes, e chega a Hollywood com um passado obscuro e que irá
confrontá-lo de frente. Já Benjie Weiss (Evan Bird) é uma espécie de Justin
Bieber caricato e mimado, sendo filho de um casal que oculta a rotina oprimente
sob uma aparência de sofisticação (John Cusack e Olivia Williams).
Pouco que eu descrevi
acima mal dá para sintetizar o teor dramático e o humor negro em doses cavalares
que permeiam todo o decorrer do filme. Há humor, mas não rimos e sim nos
espantamos, já que Mapa para as Estrelas acrescenta mais uma incomoda
investigação pessoal, da qual o diretor minuciosamente disseca desde os anos
1960 sobre a natureza mais escura do ser humano.
Cronenberg, porém,
consegue isso de uma forma ainda refinada, com uma abordagem mais pelo lado do
terror psicológico (estilo visto em filmes como Cisne Negro), longe da
violência explícita que tornaram seu cinema cultuado nos anos 70 e inicio dos 80.
Aqui, o que começa como uma apresentação do lado mais fútil das celebridades
vai se transformando numa trama tensa, chocante e enveredando para um final que
com certeza irá dividir a opinião das pessoas que assistirem. Eu conhecendo
como ninguém Cronenberg, esse final não poderia ser diferente.
O elenco é a chave do
sucesso para o filme: Julianne Moore entrega mais uma vez um desempenho brilhante,
num ano que comoveu plateias e a Academia de Hollywood, como a professora com
Alzheimer de Para Sempre Alice. John Cusack parece que finalmente decidiu
voltar a atuar de verdade, como o manipulador Dr. Weiss. E Evan Bird, da série
de tv The Killing – Além de um Crime, é uma revelação,
enfrentando um dos personagens mais desagradáveis do filme com perfeição.
Difícil falar dos demais – Mia Wasikowska, de Alice no País das Maravilhas, e
Robert Pattinson, da série Crepúsculo, também possuem desempenhos convincentes,
assim como o lado técnico da obra. A fotografia de Peter Suschitzky, parceiro habitual
do cineasta, e a trilha de Howard Shore, ambas são irretocáveis.
Infelizmente devido ao seu
teor forte (com direito até mesmo de incesto) Mapas para Estrelas esta sendo exibido em poucos cinemas do circuito. Porém, é um filme que irá sobreviver com o tempo na memória de todos os cinéfilos, mesmo para
aqueles com o estômago frágil.
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