Sinopse: Tiros em um baile
de black music na periferia de Brasília ferem dois homens, que ficam marcados
para sempre. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar
que a culpa é da sociedade repressiva.
Branco sai preto
fica, o cineasta Adirley Queirós namora com o Cinema marginal dos anos 60
e 70, nitidamente se inspirando em filmes de Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci
(O bandido da luz vermelha e Bang bang). Aqui as regras
da verossimilhança são quebradas na construção da trama: desdém aos gêneros, quadrinhos,
animação, musical, cultura pop, satírico, documental, ficção, tudo misturado
num imenso liquidificador e criando um sabor genuíno. Nessa salada, Queirós deixa
o cinéfilo com a pulga atrás da orelha, pois a ficção e documentário se misturam
a todo o momento (lembrando obras recentes como Castanha). Pegando
um evento traumático que ocorreu na metade dos anos 80, na cidade satétite de
Ceilândia, o cineasta quer falar sobre preconceito e a separação das classes sociais
em Brasília (e o Brasil como um todo). Durante um baile funk, policiais
militares saíram invadindo e atacando a socos as pessoas negras do local. Aos
gritos, a pessoa que se diz autoridade disse: "Branco sai preto
fica". Entre os sobreviventes, acompanhamos as historias de dois dos
dançarinos: Marquim e Sartana. Marquim perdeu o movimento das pernas e Sartana
usa perna mecânica, consequência da selvageria policial. Sonhos arruinados, os dois,
na parte fictícia, criam um esquema para destruir a capital do país: lançar uma
bomba "cultural", que contém músicas e outros itens que eles
consideram importantes e que serão usados como arma contra o preconceito. O
filme se passa em três tempos: passado (por meio das fotos e matérias de
época, além da narração off e depoimentos), presente ( a vida atual dos dois
sobreviventes, que moram em Ceilândia e sofrem com a questão da pobreza e do
fato de serem deficientes físicos.) e futuro (um vingador vem do futuro para colher registros
que comprovem a violência criada pelos policiais). É justamente na parte ficção científica em que o filme nos puxa certas risadas e ganha atenção total do cinéfilo:
de uma forma bem simples tecnicamente, mostra um dialogo através de um telão,
sendo que esses momentos remete o clássico seriado Jornada nas Estrelas. Mostra
uma viagem pelo espaço usando trilhos do metrô e um quiosque metálico onde o
personagem viaja pelo tempo. Ame ou odeie o filme, uma coisa não há como negar
de forma alguma: a coragem do cineasta em querer fazer o seu filme, da sua
maneira e sem se intimidar com as suas consequências. Tendo a segurança pelo
que faz, apenas pela paixão de gostar naquilo que está criando, se inspirando
numa história trágica de seus protagonistas, em meio a uma trilha que remete os
bons tempos dos bailes funk, para não dizer de uma época que se tornou mais dourada
conforme os anos passam.
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