Sinopse: O filme é adaptação
do livro de memórias de Jordan Belfort que no Brasil ganhou o nome de O Lobo de
Wall Street. Belfort foi um corretor de títulos da bolsa norte-americana que
entrou em decadência nos anos 90. Sua história envolve o uso de drogas e crimes
do colarinho branco.
Entre o início de 2003 a junho do mesmo ano, eu trabalhava como promotor de vendas em Porto Alegre, onde
eu vendia consórcios e prometia para o cliente que ele conseguiria em pouco
tempo um carro. Mas o que eu dizia para ele era um discurso copiado à exaustão,
cujas mesmas frases eu dizia para todos os clientes, que infelizmente não liam
a letra miúda do contrato quando assinavam e devido a isso, nada de
carro tão cedo na garagem. Quando as vacas começaram a ficar magras e senti a
falcatrua no ar cada vez mais empestando aquele lugar, decidi então cair fora e
tentar procurar outra coisa mais honesta para mim, antes que fosse tarde demais.
Tempos depois eu soube
que alguns foram presos devido a esse esquema e atualmente, até aonde eu sei,
essa empresa trabalha apenas em seguros. Somente eu e outro amigo da época é
que temos uma ideia de como aquilo era uma loucura, que precisava ser louco
para conseguir dinheiro a todo custo, mesmo que para isso pudesse custar a sua própria
alma. Todas essas lembranças de um período de desespero para conseguir um
emprego e dinheiro, vieram a minha mente ao assistir O Lobo de Wall Street,
nova parceria do diretor Martins Scorsese e Leonardo DiCaprio.
Baseado nas memórias de
Jordan Belfort acompanhamos o protagonista interpretado por DiCaprio, que é um
corretor de títulos da bolsa norte-americana. Durante o dia ele ganhava milhões
de dólares por minuto e nas noites gastava com sexo e drogas, além das viagens
internacionais. Dinheiro, poder, mulheres e drogas nunca eram suficientes,
porém, suas artimanhas e a vida corrupta levaram-no para a prisão.
É aquela velha
historia de que poder corrompe as pessoas, mas até lá, se a pessoa não sai já
no principio, acaba subindo e subindo, ao ponto que o poder que investiu acaba
se tornando sua maldição, mas ao mesmo tempo tendo o dom de criar ouro, para o
bem ou para o mal. Nisso, Scorsese retrata de uma forma enlouquecedora, com uma
montagem rápida, câmera sempre em movimento, música ao fundo, diálogos rápidos
e afiados, que fazem do filme, mesmo com 3 horas de duração, o longa mais ágil do diretor desde Cassino que possuía o mesmo tempo de projeção. A intenção dele talvez nunca fosse endeusar esse universo mentiroso que foi de Belfort,
mas mostrar o seu dia a dia e como precisava ser louco, ambicioso e ter uma energia
fora do comum, para saber sobreviver e ganhar num mundo como esse.
Loucura e ambição são
os ingredientes que moldaram a vida do personagem, sendo que essas virtudes
suspeitas, para seguirem em frente sempre lado a lado, era preciso um escape
para ele, sendo drogas e mulheres aos montes. Sexo e drogas é outra coisa que
chove no filme do Scorsese, onde o protagonista e seus companheiros se esbaldam
sem pestanejar em situações loucas e com uma grande dosagem de humor negro que
não se via na carreira do diretor há um bom tempo.
Claro que além do lado
autoral do cineasta, o filme funciona também graças ao ótimo desempenho dos
seus atores, principalmente de DiCaprio. De uma parceria com Scorsese que
iniciou a partir Gangues de Nova York, DiCaprio cada vez mais se consolida como
um dos melhores intérpretes da nossa geração e aqui ele simplesmente incorpora
o seu personagem de uma forma tão assombrosa e explosiva, que fico me
perguntando se ele não saiu afetado durante o percurso. Curiosamente, essa
energia não se sente em seu personagem no principio do filme, mas sim no
personagem Mark Hanna, que deu o empurrão para que Belfort seguisse nesse
universo de negócios ilícitos e aqui é interpretado por Matthew McConaughey, que
mesmo em poucos minutos em cena, nos brinda com uma cena que se tornou clássica
instantaneamente.
Embora sejam baseados
em fatos reais, alguns irão suspeitar que algumas situações absurdas (acredite, tem muitas!) na realidade não aconteceram, mas os que vivenciaram aquilo e
segundo o próprio Belfort, realmente tudo aconteceu. Então, se presenciarmos um
dos protagonistas sofrendo uma incrível dose de drogas, mas mesmo assim
conseguindo pegar o carro e dirigindo com o corpo todo mole até chegar a sua
casa, acredite, realmente aconteceu. Aliás, essa parte é disparada o momento
mais ensandecido do filme e tudo causado pelo personagem Donnie Azoff,
companheiro de Belfort e interpretado pelo comediante Jonah Hill, no que talvez
seja o seu melhor desempenho na carreira.
É claro que os atos finais
do filme mostram que o crime não compensa e isso é muito bem representado numa bela
seqüência onde vemos o tira bom interpretado por Kyle Chandler indo de trem para
casa e seguindo sua pacata vida honesta. Um contraste se compararmos ao destino
de Belfort, que embora tenha pagado pelos seus erros, estamos falando da
America, que se diz a terra das oportunidades, ou seja, para todos. Os minutos
finais sintetizam bem isso, onde eu simplesmente não pude deixar de me enxergar
no ano de 2003, em meio a dúzias de pessoas em busca dos seus sonhos, mas mal
sabendo (ou sabendo muito bem), que sempre há um porém em se tratando de vendas
ou a forma mais fácil de conseguir dinheiro na vida.
O Lobo de Wall Street
passa o recado para nós, que na realidade somos ovelhas em meio a inúmeros lobos,
mas em vez de sermos devorados, corremos o risco de perder a nossa lã que nos
cobre e revelar o lobo que não queremos despertar em nós mesmos.
2 comentários:
Muito bom o filme gostei muito!
Que bom que gostou
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