Sinopse: Populares na
Europa medieval, os bestiários eram catálogos que reuniam informação sobre animais
reais e fantásticos, acompanhados por ilustrações e lendas antigas cujas
principais personagens eram animais exóticos. O filme desdobra-se como se de um
livro de imagens fílmicas se tratasse, onde os seres humanos e os animais estão
em exibição. Ao ritmo da mudança das estações do ano, os animais e as pessoas
observam-se entre si. Temos a oportunidade de ver criaturas fascinantes e encantadoras:
por um lado, búfalos, hienas, zebras, rinocerontes, avestruzes, por outro, taxidermistas
e tratadores de animais. Todos habitam organizada e silenciosamente um quadro
que o espectador observa. Uma meditação deslumbrante sobre a consciência da
natureza e as fronteiras entre natureza e "civilização".
Dirigido por Denis Côté cujo seus filmes são confinados aos
circuitos mais alternativos, fornece aqui em sua mais nova obra, inúmeras qualidades
estéticas,
juntamente com uma reflexão que nasce no espectador que assiste. Enquanto a maioria
das salas de cinema passa filmes convencionais, Bestiáire surge como uma verdadeira lufada de ar
fresco, cujos protagonistas são animais
em um zoológico, que embora não digam palavra alguma, expressam seus supostos
modos e sensações que transmitem para a câmera, de acordo com o lugar que eles
estão no momento. Como na maioria das obras deste tipo, parece absolutamente
necessário se criar uma história que enlaça o comportamento humano com os dos
animais (assim como acontece em animações,
documentários ou ficção), mas Bestaire evita
nas armadilhas que ocorrem em outros filmes, apresentando os animais em uma
relação consistente e crua com o os humanos que surgem na tela e com o próprio espectador
que assiste.
A relação entre os animais e os seres humanos, uma vez que é
mostrado, prova por vezes ser pacifica, mas que não esconde o lado hipócrita dessa
relação, para não dizer cruel. A crueldade realista, para não dizer bestial: um
taxidermista agindo friamente com o que faz de melhor, estudantes nas artes
plásticas e visitantes do zoológico. Mas eles estão ali presentes em sua
relação primaria com os animais, isto é, em um desejo de posse e dominação: as cabeças
empalhadas referem se ao troféu de caça, os guardas que controlam o ritmo de
vida no animal, tratadores que alimentam de hora em hora os animais, mas que
não muda o fato deles estarem privando a liberdade do animal dentro do zoológico,
para então dar mais segurança para as massas humanas alienadas que os visitam.
O filme como um todo é
produzido através das grades das gaiolas, que constantemente fica lembrando o
encarceramento e observação criada em torno dos animais encarcerados gerando em
alguns momentos sublimes, mas também de pura tensão: a cena que mostra zebras
nervosas sendo colocadas em cubículos, da há sensação de que a qualquer momento
elas serão abatidas. Do começo ao fim, somos apenas observadores de mãos atadas
e o filme também abre com pessoas observando, mas de uma forma diferente: seus
olhos observam o animal (jaz empalhado) enquanto suas mãos reproduzem os
contornos no papel. Este processo de trazer o espectador para o local de observador
junto com outras pessoas que surgem na tela, o diretor quer simplesmente encenar
uma relação pré-existente de dominante / dominado que caracteriza a relação ao
animal.
NOTA: O filme novamente será apresentado no próximo sábado as
17horas na sala P.F GASTAL. Mais
informações sobre a sessão Plataforma você encontra na pagina da sala clicando
aqui.
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