Quem sou eu

Minha foto
Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

Pesquisar este blog

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Cine Dica: O melhor do nosso cinema: CHEIRO DO RALO

 LOURENÇO:  FAZ QUE NEM A MERDA VOLTE DEPOIS. 

Sinopse: Lourenço (Selton Mello) é o dono de uma loja que compra objetos usados. Aos poucos ele desenvolve um jogo com seus clientes, trocando a frieza pelo prazer que sente ao explorá-los, já que sempre estão em sérias dificuldades financeiras. Ao mesmo tempo Lourenço passa a ver as pessoas como se estivessem à venda, identificando-as através de uma característica ou um objeto que lhe é oferecido. Incomodado com o permanente e fedorento cheiro do ralo que existe em sua loja, Lourenço vê seu mundo ruir quando é obrigado a se relacionar com uma das pessoas que julgava controlar.
  
De uma vez por todas o cinema brasileiro provou que não deve nada a produções americanas e que às vezes o próprio cinema americano nos deve um filme com uma historia de qualidade, mesmo gastando todos os rios de dinheiro que obtém. Mas eis que um pequeno filme feito na raça surpreende muita gente, inclusive eu que me pego uma vez ou outra vendo e revendo essa pequena obra, que para mim é um grande clássico moderno. O Cheiro do Ralo é um fascinante estudo sobre as relações de poder entre quem tem e quem não tem: sedução, taras, fantasias, desejos, amor, dependência, cinismo e insegurança.
Tudo isso embalado, com um dos roteiros mais inteligentes dos últimos anos, levado às telas pelo diretor Heitor Dhalia (diretor de “Nina”) e por uma interpretação magistral de Selton Mello. Ele é o filme, apesar de interpretar um sujeito que está longe de ser um ser humano exemplar (muito pelo contrário), sua entrega ao personagem é tão completa que conseguimos entende-lo e, até mesmo em alguns momentos assustadores, nos identificarmos com ele. Selton é Lourenço, um cara solitário e cínico que dirige uma decadente loja de penhores, como se fosse um executivo de uma grande empresa.
Ele tem uma secretária, que faz a triagem dos clientes, um segurança (interpretado por Lourenço Mutarelli, autor do livro em que o filme foi baseado) e Lourenço, que se senta atrás de uma mesa para receber vendedores o dia inteiro. Os clientes trazem toda espécie de lixo para tentar vender para Lourenço, cujos critérios para a compra variam: ele paga apenas 30 reais por um faqueiro de prata e oferece no máximo 100 reais por um violino Stradivarius, mas gasta 400 reais em um olho de vidro sem valor.
Lourenço tinha uma noiva (Fabiana Guglielmetti) com quem rompe faltando pouco para o casamento.

Lourenço: “eu não tenho nada pra te oferecer, e você não tem nada pra me oferecer”.

A mulher, inconformada, passa a fazer ameaças e a persegui-lo. 

Lourenço: “toda mulher é igual”, pois se você “se você bobear, os convites vão para a gráfica”.

Falando em mulher, há  garçonete do bar onde Lourenço vai comer quase todos os dias. Ela tem um nome impronunciável.

 “Lourenço: uma mistura do nome do pai, da mãe e de alguma celebridade”.

 E ele está apaixonado por ela. Melhor dizendo, Lourenço está mesmo apaixonado é pela “bunda” dela. Ele fica no balcão fingindo ler algum romance policial enquanto espera ansioso, que a moça se vire e mostre o corpo para ele.

“Lourenço: se a comida daqui fosse boa, seria então o paraíso”. 

A garçonete (interpretada por Paula Braun) começa a gostar da atenção e entra no jogo de sedução de Lourenço até que um dia, inevitavelmente, ele acaba falando mais do que devia e o “clima” termina. Por fim, há o bendito cheiro do ralo. 
Pacientemente, Lourenço explica para cada cliente que entra na loja, que o cheiro não vem dele, mas sim do ralo do banheiro, que está com algum problema. Até que um dia, um cliente, comenta que, já que Lourenço é o único a usar o banheiro, o cheiro só pode vir dele. Ele culpa o cheiro pelo seu mau humor, por seu cinismo, por sua vida. Ao invés de consertar o banheiro, ele tenta primeiro simplesmente cimentar o ralo, mas o encanamento parece estar conspirando contra ele.

 “Lourenço: esses canos não são o que parecem, sendo que é por ai que eles nos observam”.

Não é um filme fácil: o personagem é asqueroso e o roteiro é tão direto e cínico quanto ele. A sucessão de personagens bizarros (que funcionam como se o filme fosse composto por uma série de curtas metragens) trás de tudo, mas no fundo o que se vê é uma relação de poder. Os vendedores estão lá porque precisam de dinheiro e alguns (como uma drogada que sustenta o vício vendendo coisas roubadas) fazem qualquer coisa por um pouco de dinheiro.
Lourenço tem que tocar o negócio, mas, antes de tudo, precisa ter uma relação de dominação com todos à sua volta. Por vezes o cliente é mais forte e ele se deixa dominar. Ele fala de um “pai” que nunca conheceu e que ele tenta montar através de pedaços como o olho de vidro e uma perna mecânica.
Ele é estranhamente sedutor em um momento, para no seguinte se revelar um completo crápula. Suas falas são diretas, cínicas e, por isso mesmo, engraçada por sua franqueza. A  garçonete é muito mais do que um traseiro bonito. Ela sabe do poder de sedução que tem, mas qual é o limite entre o charme e a vulgaridade? Ela diz a Lourenço que estaria disposta a se mostrar para ele de graça, mas que ele estragou tudo quando disse que queria pagar pra ver. Por outro lado, quando precisa de dinheiro, ela vai procurá-lo. O que Lourenço parece (ou não quer) entender, é que tudo é válido desde que seja consensual, mas isso atrapalharia o jogo de poder dele. Ou seja, tudo tem seu preço.
Feito em um esquema de trocas e parcerias, o filme foi produzido por pouco mais de 300 mil reais, mas parece muito mais caro. A direção de arte é muito boa e ele tem um ar atemporal que lembra os filmes dos irmãos Cohen (Barton Fink, A Roda da Fortuna). A edição dá um show à parte, com cortes muito interessantes nas cenas de transição, quando vemos Selton Mello andando pelas ruas da Mooca, onde foi rodado o filme.
O elenco é composto por uma série de atores pouco conhecidos, mas muito bons e algumas participações especiais, como Alice Braga na lanchonete, Tiazinha na TV e Paulo César Peréio como uma voz ao telefone. O esquema de filmagem de “guerrilha” foi necessário porque os temas “pouco atraentes” do roteiro não conseguiram trazer investidores.
Um filme que mistura de tudo um pouco, desde o drama a maior comédia de humor negro.

Indispensável.

Me sigam no facebook e twitter.

2 comentários:

LEO disse...

Mto bom esse filme mesmo....

e foi um dos melhores entre os nacionais q vi nos últimos anos!!!

tbm recomendo o filme: "NINA" (baseado na obra do Mutarelli tbm e igualmente imperdível)!!!

Abs!

Marcelo Castro Moraes disse...

Ia exatamente escrever ele sobre hoje hehe