SESSÃO
PLATAFORMA EXIBE DOCUMENTÁRIO CANADENSE BESTIAIRE NA SALA P. F. GASTAL
O filme da Sessão
Plataforma de setembro é Bestiaire, do canadense Denis Côté, que participou dos
festivais de Sundance, Berlim e Toronto. Imagine Bestiaire como um filme
residência em um zoológico. Cotê faz um filme não sobre animais, mas sobre
imagens em extinção. Uma meditação sobre a vida e o movimento, sobre a criação
de imagens para representação do real, onde a todo o momento a câmera está
revelada como intermediador imprescindível desse processo. Não é um filme
apenas sobre a câmera e enquadramentos. Mas com seus rígidos e belíssimos
quadros, Cotê faz com que o espectador e os personagens (vale ressaltar personagens
não dirigíveis), troquem olhares constantes. Uma intimidadora experiência.
Bestiaire será exibido dia 24 de setembro, às 20h, com reprise no sábado, dia
28 de setembro, às 17h. O valor do ingresso é de R$ 3,00.
Bestiaire. Canadá, 2012, 72 minutos. Direção
de Denis Côté. Documentário. Exibição em Blu-ray, com legendas em português.
Abaixo, texto dos
curadores Davi Pretto e Giovani Borba e da produtora Paola Wink sobre o projeto
Sessão Plataforma:
BASE
Uma base para se
estar mais próximo aos filmes, pensando os filmes e pensando o cinema.
Foi com esse desejo
que concebemos a Plataforma; imaginando uma estrutura horizontal, praticamente
suspensa, onde se pode ir além. Um espaço para compartilhar a experiência
cinematográfica da sala, e que vai além dela, e a descoberta de novos filmes,
de novos realizadores. Lugar que nos aproxima do horizonte e nos convida a
contemplar, nos convida a refletir.
A Plataforma carrega
um conjunto de ideias e ações que venham a encontrar novos caminhos para a
situação paradigmática que nos encontramos atualmente na cinematografia
brasileira. Vemos uma quantidade grande, ainda que desigual, de ações e
investimentos governamentais, aliado com a facilidade trazida pela
transformação para os equipamentos digitais (câmeras, projetores, etc). Vemos
uma quantidade bastante significativa, e que cresce exponencialmente, de filmes
nacionais lançados, inúmeros novos realizadores de lugares que antes eram
desprovidos da possibilidade de produzir. Vemos a formação e crescimento de
movimentos e realizadores que buscam uma produção mais horizontal e igualitária
de criação coletiva, que corre em paralelo e independente de um modelo
industrial. Porém há ainda um abismo que distancia a possibilidade de diálogo e
inclusão desses filmes e cineastas com produções de grande orçamento e o
circuito comercial “de shopping”. Nessa inclusão, quando ocorre, essas obras
são forçadas a se enquadrar em um modelo industrial, que se propuseram a contrapor.
A democratização das salas de cinema não legitimaria esse novo cinema, afinal
essas obras já percorrem um circuito completo por si só. Festivais, mostras,
cineclubes e exibições online que já somam números de público para essas obras,
maiores que filmes de grande orçamento que pairam apenas em uma rede
convencional de exibição. É imprescindível pensarmos como esses dois modelos de
fazer cinema podem interagir sem a necessidade de nenhum deles perder sua
personalidade.
Essa questão da afirmação e preservação do
âmago desse novo cinema também é indiretamente abalada quando ações do estado
de financiamento fazem realizadores submeter seus projetos em modelos
clássicos, onde são exigidos documentos dignos de uma proposta industrial.
Roteiros, metas e justificativas. Projetos de realizadores internacionais
renomados que trabalham com propostas fluídas e híbridas de encontro e acaso
dificilmente seriam aprovados em editais no modelo encontrado no Brasil. Ainda
parece que esbarramos em um pensamento de criação de um produto óbvio, como uma
linha de montagem. Mais uma vez, vemos uma tentativa inadequada de controlar e
definir o descontrole.
A diversidade cinematográfica atravessa as
fronteiras entre gêneros, bitolas, formatos, meios de exibição, de linguagem e
metragem. Desta mesma maneira, pensamos que uma janela para este outro cinema
pode se apresentar de maneiras também diversas, onde o formato com que se
apresentam os filmes é parte de uma proposta artística.
Foi deste pensar os filmes que queremos mostrar
e como mostrá-los, que surge a Sessão Plataforma. Com o entendimento de que a
Plataforma não está para uma mostra, tampouco festival de filmes. Nossa
proposta é oferecer uma sessão única, e mesmo exibindo regularmente, essa
premissa da sessão única faz de cada uma das sessões, uma nova edição, para um
pequeno universo específico de cinema. Onde cada filme traz uma reflexão,
imprime uma ideia, aponta novos caminhos, proporciona um outro olhar. Uma
experiência cinematográfica periódica e extensiva; um formato horizontal, ao
invés do formato vertical, intensivo e anual de eventos do gênero.
A Sessão Plataforma é apenas uma das vertentes
desta rede maior que propomos para refletir, exibir, escrever e produzir junto
com esse novo cinema. Desta Plataforma, nosso olhar se lança neste horizonte,
em busca da produção contemporânea ao redor do mundo que explora nas
possibilidades narrativas e estéticas, sem artifícios mirabolantes, que
atritam, provocam e instigam; que possam reinventar o fazer cinematográfico, sob
a ótica das mais diferentes culturas, de onde volta e meia nos surpreendem as
cinematografias pouco conhecidas.
Davi Pretto, Giovani Borba,
Paola Wink.
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