Nos
dias 15 e 16 de agosto, estarei participando do curso SERGIO LEONE - ERA UMA
VEZ O SPAGHETTI WESTERN, criado pelo CENA UM e ministrado pelo professor Rodrigo
Carreiro. E enquanto os dois dias não vêm, por aqui, estarei escrevendo um
pouco sobre o que eu sei desse cineasta,
que deu novo status para o gênero do Western e que se sente isso até hoje.
SERGIO LEONE E SUA ÓPERA
NO OESTE:
CINEASTA FOI UM DOS QUE RESGATOU A GRANDEZA DOS WESTERNS CLÁSSICOS COM HISTÓRIA
DE VINGANÇA INFLUENCIADA PELA ÓPERA.
Se tiver um filme que represente
a filmografia de Leone como um todo, esse filme é Era uma vez no Oeste. É curioso que um dos principais artífices do
mais americano dos gêneros seja um italiano que nunca fez muita questão de aprender
uma palavra sequer em inglês, pois em sua opinião não era necessário, pois já
compreendia o gênero pela sua essência como um todo. Apaixonado por westerns
desde a juventude, Sergio Leone decidiu inovar esse gênero (nos anos 60 já meio
desgastado), injetando uma espécie de humor negro, um lado mais cru e com personagens ambíguos, em que os status de bem
e mal não eram suficientes para defini-los.
A trilogia dos dólares trouxe
reconhecimento e respeito ao cineasta até então desconhecido aos olhos do mundo.
Composta por Um Punhado de Dólares (refilmagem não autorizada de O Guarda
Costas de Akira Kurosawa), Por uns Dólares a Mais (meu preferido dos três) e
Três Homens e um conflito, todos estrelados pelo até então cara novo Clint Eastwood
e rodados na Itália. Sobretudo nos dois primeiros, a ação é ininterrupta e há
pouco espaço para os diálogos, mas para muitos, Três Homens e um Conflito é o
melhor dos três, mesmo possuindo inúmeros momentos de pausa, sem dialogo, mas
tudo em volta de um duelo psicológico entre os protagonistas, que acabou
rendendo inúmeros elogios e que serviria de base para o que viria depois na
filmografia de Leone.
Todos fizeram bastante sucesso nos Estados
Unidos, levantando a moral do gênero daquela época e o que levou a Paramount a
oferecer ao diretor um orçamento bem generoso para rodar um filme no qual mal
sabiam que se tornaria uma obra prima. Leone por sua vez, não estava nem um
pouco interessado em fazer mais um western ou ficar rotulado como um cineasta
de um único gênero. Naquele tempo, ele planejava trabalhar na adaptação de um
livro que, anos depois, resultaria em Era uma Vez na America (1984), mas
aceitou mais um desafio, somente por existir uma possibilidade de criar uma
trilogia sobre a America (completada por Quando Explode a Vingança).
Para a alegria de todos, trabalharam
no roteiro de Era uma vez no Oeste, dois importantes nomes do cinema Italiano, Bernardo
Bertolucci e Dario Argentino (famoso por filmes de terror). Na trama, Três
pistoleiros, entre eles o temido Frank (Henry Fonda, em seu primeiro papel de
vilão e um dos melhores de sua carreira), são enviados para convencer um
fazendeiro a ceder suas terras para a construção de uma enorme ferrovia que cruzará
o oeste. Acabam matando o homem e seus filhos, numa seqüência magistral, onde
gradualmente é mostrado quem são os assassinos, sendo que na época, os americanos
ficaram chocados quando deram de cara com Henry Fonda sendo o vilão e matando a
sangue frio a criança da família com um tiro. A viúva Jill,(Claudia Cardinale
no auge da beleza), recém chegada do leste e em busca de riquezas, decide ficar
nas terras e se une a um pistoleiro misterioso (Charles Bronson, como mocinho)
para ajudá-la na vingança. Também recebe ajuda do ambíguo Cheyenne (Jason
Robarts).
Falando assim, parece até muito
simples, mas quem espera encontrar aqui
o ritmo veloz da trilogia dos Dólares, vai se assustar. Era uma vez no Oeste é
um filme que se eleva a níveis de uma opera (embalado pela trilha inesquecível de Ennio
Morricone, fiel colaborador de Leone), grandioso, lento (a abertura, em que os três
homens esperam um trem dura 14 minutos, sem diálogos) e marcado por closes no
rosto dos atores na cena de tiroteio. As filmagens tiveram lugar na Espanha e
no Monument Valley, nos Estados Unidos, cenário dos grandes clássicos de John
Ford como no Tempo das Diligencias e Rastros do Ódio. Logicamente, uma espécie de
homenagem de um mestre ao outro.
Embora sua longa duração, é um
filme que passa rapidamente, graças a um roteiro bem construído, direção
magistral de Leone e momentos chaves nos quais entraram para historia do
cinema. Curiosamente, o filme não foi muito bem recebido na época de sua estréia
em território americano, mas gradualmente foi conquistando cinéfilos, que foram
entendendo a proposta que o diretor queria passar, que nada mais era do que uma
declaração de amor ao gênero, de suas varias fases de sua historia e culminando com um
fim melancólico, mas justo. Se por um lado os americanos demoraram um pouco a
compreendê-lo, em Paris, o filme ficou em cartaz mais de 40 semanas em uma sala na época,
pois as pessoas não paravam de ir vê-lo duas ou três vezes.
Assim como Stanley Kubrick,
Sergio Leone dirigiu pouco (nove filmes), mas falou muito em cada uma de suas
obras, e por isso mesmo, merece ser redescoberto pela nova geração de cinéfilos
que preza a gostar de diversos filmes não importando qual a sua época distinta.
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