Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: Uma adolescente embarca em uma viagem com seus orgulhosos pais, irmão mais novo e cachorro amado para começar seu primeiro ano na faculdade. Mas seus planos de se unir como uma família logo são interrompidos quando os dispositivos eletrônicos do mundo se revoltam e rapidamente organizam um apocalipse robô.
O fato de nós seres humanos estarmos cada vez mais conectados ao sistema das redes sociais tem rendido diversos documentários sobre o assunto e sobre o perigo de estarmos cada vez mais presos a isso. Porém, eu acredito que uma crítica sobre sistema em que vivemos pode sim também ser feita de uma forma divertida e ao mesmo tempo reflexiva. "A Família Mitchell e a Revolta das Maquinas" (2021) é diversão pura e alinhada com os dilemas atuais em que as famílias de hoje enfrentam.
Produzido pela Sony e dos mesmos realizadores de "Homem-Aranha no Aranhaverso" (2018), o filme conta a história de Katie Mitchell, que é aceita na faculdade de cinema dos seus sonhos e seu pai decide aproveitar para realizar uma viagem em família para levá-la à universidade. Porém, seus planos são interrompidos por uma revolução robótica e agora os Mitchells terão que unir forças em família para trabalhar juntos para salvar o mundo.
Para começar, o filme possui um ritmo frenético, quase ininterrupto, onde o traço cartunesco e cores vibrantes fazem da história quase um vídeo game. Eu digo quase, pois há sim uma preocupação na construção de cada um dos personagens principais que moldam essa família e da qual a gente facilmente se identifica. Ao mesmo tempo, a crise familiar da falta de comunicação que todos ali estão passando é um retrato real de muitas famílias atuais que vivem no mundo que não conseguem largar do seu famigerado celular até mesmo nas reuniões de família na mesa.
Isso acaba se alinhando com as velhas fórmulas de sucesso dos filmes de ficção, onde a inteligência artificial se revolta contra o seu próprio criador e decide dominar a raça humana para os seus propósitos. Tudo moldado com um humor crítico, ácido e muito divertido. Não deixa de ser hilário, por exemplo, a participação de uma dupla de robôs que ficam fora do sistema e decidem ajudar a família.
Mas, talvez, a crítica acida mais certeira seja realmente a obsessão da sociedade atual estar cada vez mais convencida de vender a sua imagem falsa de felicidade nas redes sociais como no caso do Instagram. Na trama constatamos que a falsa felicidade jamais irá substituir a verdadeira, pois a real felicidade não cabe em um único quadrado de foto, mas sim é preciso ser sentida realmente pelo seu próximo. Nada mal para uma animação que é somente para ser curtida com toda a família, mas dando uma verdadeira lição de moral nas entrelinhas.
"A Família Mitchell e a Revolta das Maquinas" é diversão e reflexão na medida certa para toda a família e cujo os ingredientes nem o sistema quebra.
Sinopse: A ambiciosa aspirante a atriz Eve Harrington se infiltra no camarim da estrela consagrada Margo Channing, que após ouvir sua história triste, resolve ajudá-la. Mas Eve parece só ter intenção de usá-la para entrar no show biz.
Embora tenha sido em tempos mais conservadores foi a partir da entrada da década de cinquenta que certos realizadores decidiram fazer um retrato mais cru da mão que alimenta, ou seja, Hollywood. Embora esbanje glamour com seus astros, alinhado com super produções que valiam ouro, convenhamos, tudo é um jogo de aparências, dos quais quem ganha é quem faz a melhor artimanha. Mas seria possível os engravatados de plantão permitirem tais filmes que critiquem o que rola por detrás das cortinas?
Embora não seja o alvo principal, Hollywood sofre uma crítica acida nas entrelinhas com o seu clássico "A Malvada" (1951), um dos grandes filmes do cinema norte americano. Se tira o cenário de Hollywood e adentramos ao cenário da Broadway, mas há atores, guerra por papeis, estrelismo e fofocas entre os bastidores. Um tiro perfeito vindo de alguém que sabe como funciona as engrenagens e coube ao cineasta Joseph L. Mankiewicz orquestrar a tarefa.
Embora nunca ter aparentado possuir uma visão autoral como cineasta, por outro lado, ele foi responsável por altos e baixos dentro do estúdio Fox e obtendo carta branca mesmo quando um projeto tinha ares de naufragar. Portanto, o projeto "A Malvada" tinha para ser um grande fiasco, mas foi graças ao seu elenco estelar e o tom sarcástico que os mesmos deram para a trama é o que fizeram do filme se tornar uma obra prima. Mas no que se trata a trama exatamente?
Na noite de entrega do prêmio Sarah Siddons, todas as atenções se voltam para Eve Harrington (Anne Baxter). Utilizando o flashback, a vida de Eve é revelada, desde quando conheceu e foi contratada como secretária de Margo Channing (Bette Davis), uma grande estrela da Broadway, até ela mesma alcançar o estrelato. Ou seja, o filme começa aonde termina e ficamos presos as origens de cada um daqueles personagens, principalmente com relação a Eve.
Porém, o filme pertence e sempre pertenceu a Bette Davis e cuja atuação neste filme é novamente extraordinária. Meio que esquecida por alguns anos, a interprete retorna com tudo neste filme, ao fazer uma atriz de meia idade sentido o sucesso escorregando entre os dedos e sentindo a presença de Eve como uma ameaça futura. Se em um primeiro momento achamos de que se trata de uma paranoia vinda de sua parte, logo se percebe que ela não estava totalmente errada.
A personagem de Bette Davis seria uma espécie de crítica ácida ao tratamento que Hollywood faz as veteranas atrizes, sendo elas relegadas aos poucos ao esquecimento e dando lugar a jovens talentos em busca do estrelato. Porém, há um preço a ser conseguido que, por vezes, essas jovens se vendem ao sistema orquestrado pelo machismo da época. Não é à toa, portanto, que ao vermos uma até então desconhecida Marilyn Monroe surgindo do nada em cena e usando a sua beleza para atingir os seus objetivos, mesmo que lhe custe muito, sintetize muito bem esse meu pensamento.
A cena, aliás, acontece em uma festa na casa da personagem de Bette Davis e onde muitas mascaras acabam caindo após inúmeras bebidas. É a partir daqui, por exemplo, que Eve vai revelando as suas reais intenções por detrás das cortinas e fazendo com que muitos fiquem um contra o outro ao longo da projeção. Não deixa de ser irônico, por exemplo, ao vermos as duas interpretes face a face em um momento de discussão, sendo que ao fundo está justamente Marilyn Monroe testemunhando aquele momento.
Irônico eu digo porque ambas as atrizes no mundo real jamais obteriam o grande estrelato que a própria novata atriz obteria nos anos seguintes, mesmo lhe custando a sua vida como todo mundo bem sabe na entrada dos anos sessenta. Voltando ao filme, não é à toa que a personagem Eve Harrington se tornaria uma das grandes vilãs da história do cinema, mas sem com o uso da violência, mas sim com mentiras e persuasão ao longo da projeção. Anne Baxter jamais obteria outro grande feito, pois o seu personagem era único e somente ela poderia ter feito.
Ao final da projeção, constatamos que o estrelismo tem o seu começo, meio, fim e recomeço, pois sempre haverá uma nova Eve para se vender ao sistema do sucesso mesmo lhe cobrando um alto preço. O filme se tornou o recordista da cerimônia do Oscar, obtendo quatorze indicações e ganhando seis, dentre elas de melhor filme e direção. Curiosamente nenhuma das atrizes principais levariam a estatueta e se tornando essa a grande ironia da história.
Setenta anos já se passaram, mas "A Malvada" continua atual com relação ao seu recado sobre o que é feito realmente o estrelato e o preço que pode lhe custar que pode ser até mesmo a sua alma.
Onde assistir: Relançado recentemente em Blu-Ray e sendo conferido pelo TC.
Sinopse: Ao nascer, a Viúva Negra, então conhecida como Natasha Romanova, é entregue à KGB, que a prepara para se tornar sua agente suprema. Porém, o seu próprio governo tenta matá-la quando a União Soviética se desfaz.
Os Melhores Anos de Uma Vida
Sinopse: O ex-piloto de corridas Jean-Louis Duroc está convencido de que seus melhores anos ficaram para trás. Agora, ele reside em uma casa de repouso e se recusa a fazer novas amizades. Sempre sozinho, ele ainda sonha com a mulher que mais amou.
4 x 100 - Correndo por um Sonho
Sinopse: Uma derrota na final Olímpica do revezamento 4×100 marca para sempre as vidas das atletas. Três anos depois, Maria Lúcia, a responsável pela eliminação, segue brilhando no atletismo e na mídia, enquanto Adriana que trabalhou duro na competição, vive frustrada de pequenas lutas de MMA.
(Huo Zhe Chang Zhe - China, 2020, 105min). Direção de Johnny Mao, com Zhao Xiaoli, Gan Guidan, Liu Min. Arteplex Filmes, 14 anos. Drama.
Sinopse: Zhao Li mantém sua família e alguns poucos artistas unidos em torno de uma pequena trupe de ópera, que faz apresentações em um teatro degradado na periferia de Chengdu, na China. A região está passando por uma modernização urbana e não demora para que Zhao Li receba o aviso de demolição do teatro. Mas Li prefere esconder a notícia de todos, enquanto luta para procurar por um novo espaço em que eles possam cantar e viver – ao mesmo tempo em que sua sobrinha questiona o apego às tradições.
17h30 – O MUNDO DE GLÓRIA
(Gloria Mundi - França, 105min, 2020). Direção de Robert Guédiguian, com Ariane Ascaride, Jean-Pierre Darroussin. Imovision, 14 anos. Drama.
Sinopse: O diretor francês volta novamente seu olhar para pessoas que sofrem com as dificuldades financeiras. A história se passa em Marselha, no sul da França, onde um bebê chamado Gloria acaba de nascer. Os pais da criança, Mathilda e Nicolas, são jovens e têm empregos precários, bem como seus avós paternos. A família se organiza como pode para cuidar da criança, até que Daniel, pai de Mathilda, sai da prisão depois de vários anos. O filme rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza para Ariane Ascaride.
SALA 2 / EDUARDO HIRTZ
14h30 – CINE MARROCOS
(Brasil, 75min, 2020). Documentário de Renato Calil. Bretz Filmes, Livre.
Sinopse: Uma das salas mais emblemáticas da capital paulista no período áureo dos cinemas de rua, o Cine Marrocos acabou desativado - e se transformou em abrigo para moradores de rua, sem-teto e imigrantes. Em meio à antiga decoração e diante de uma situação tão emblemática, o diretor Ricardo Calil resolveu convidar os moradores a encenarem trechos de filmes exibidos no grandioso Festival Internacional de 1954, que reuniu clássicos como “A Grande Ilusão”, “Crepúsculo dos Deuses” e “Júlio César”. O filme foi o vencedor do Festival de Documentário é Tudo Verdade em 2019.
16h – FIRST COW: A PRIMEIRA VACA DA AMÉRICA
(First Cow - EUA, 120min, 2021). Direção de Kelly Reichardt, com John Magaro, Orion Lee, Toby Jones. Vitrine Filmes, 14 anos. Comédia dramática.
Sinopse: Nos Estados Unidos do início do século XIX, em plena marcha para o Oeste, dois homens buscam uma chance naquela que ficou conhecida como a terra das oportunidades. Eles são Cookie, um homem branco pobre, e King-Lu, um imigrante chinês, também pobre. Embalados pelo ideal de que o trabalho pode garantir seu sucesso, eles montam um pequeno negócio gastronômico - mas dependem do leite da única vaca que existe na região e que não lhes pertence. O filme participou da seleção oficial do Festival de Berlim 2020.
18h30 – VERÃO DE 85
(Été 85 - França, 2020, 100min). Direção de François Ozon, com Félix Lefebvre, Benjamin Voisin, Philippine Velge. Califórnia Filmes, 16 anos. Drama.
Sinopse: No verão em que completa 16 anos, Alexis se perde no mar da Normandia e é salvo do afogamento por David, de 18 anos. Aos poucos, Alexis vai se encantando com seu novo amigo – assim como todas as pessoas da região. O verão de 1985 vai marcar para sempre a vida de Alexis – para o bem e para o mal. O filme é uma adaptação do romance “Dance on My Grave” (1982), do britânico Aidan Chambers, e integrou a seleção do Festival Varilux de Cinema Francês.
PREÇOS DOS INGRESSOS:
TERÇAS, QUARTAS e QUINTAS-FEIRAS: R$ 12,00 (R$ 6,00 – ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). SEXTAS, SÁBADOS, DOMINGOS, FERIADOS: R$ 14,00 (R$ 7,00 - ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). CLIENTES DO BANRISUL: 50% DE DESCONTO EM TODAS AS SESSÕES.
Professores tem direito a meia-entrada mediante apresentação de identificação profissional. Estudantes devem apresentar carteira de identidade estudantil. Outros casos: conforme Lei Federal nº 12.933/2013. Brigadianos e Policiais Civis Estaduais tem direito a entrada franca mediante apresentação de carteirinha de identificação profissional.
*Quantidades estão limitadas à disponibilidade de vagas na sala.
A meia-entrada não é válida em festivais, mostras e projetos que tenham ingresso promocional. Os descontos não são cumulativos.
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Sinopse: Luca vive aventuras com seu novo melhor amigo, mas a diversão é ameaçada por um segredo: seu amigo é um monstro marinho de outro mundo que fica abaixo da superfície da água.
A Pixar é conhecida como o estúdio que atrai tanto crianças como adultos, mas isso graças a mensagem adulta nas entrelinhas do roteiro. "Divertida Mente" (2015), por exemplo, é um verdadeiro estudo sobre os sentimentos mais profundos do ser humano e que negar a tristeza seria como negar também uma peça essencial de nossas vidas. Porém, há casos que o estúdio procura somente nos divertir, mesmo quando as mensagens positivas para todas as idades estão todas lá, como no caso de "Carros" (2006), "O Bom Dinossauro" (2015) e o recente "Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica" (2019).
Ao longo do tempo, o estúdio sempre procurou se atualizar com relação aos fatos do mundo, principalmente em tempos em que diversidade está cada vez mais aflorada entre os principais assuntos da sociedade. Ao invés de colocar determinados assuntos dentro do armário, o estúdio optou em trazer personagens em que diversas pessoas pudessem se identificar, mesmo que na maioria dos casos de uma forma indireta. "Luca" (2021) é um filme que entra na fileira dos filmes do estúdio que vieram somente para nos divertir, mas que não deixa de tocar em assuntos que nos fazem a gente pensar e se identificar.
Dirigido por Enrico Casarosa, o mesmo de "Vida - A Vida é Uma Festa" (2018), o filme conta a história sobre o amadurecimento sobre um jovem que vive um verão inesquecível repleto de sorvetes, massas e passeios intermináveis de scooter. Luca compartilha essas aventuras com seu novo melhor amigo, mas toda a diversão é ameaçada por um segredo profundamente bem guardado: eles são monstros marinhos de outro mundo, logo abaixo da superfície da água.
Assim como diversos filmes de aventura, o filme é sobre a superação, mais precisamente em vencer o seu medo em conhecer o restante do mundo, mesmo quando ele aparenta ser perigoso. Luca é um personagem curioso com relação a superfície, o que faz ele sempre desejar ir em terra firme, mesmo quando os seus pais lhe dizem ao contrário. Alberto, portanto, seria a sua ancora para lhe puxar acima da superfície e conhecer as inúmeras novas possibilidades.
Visualmente o filme é um verdadeiro colírio para os olhos, onde a Riviera Italiana em que se passa os principais acontecimentos da trama presta uma bela homenagem a cultura italiana. Portanto, não se surpreenda, por exemplo, se houver referências aos clássicos do cinema italiano, principalmente aqueles dirigidos por Federico Fellini e protagonizados por Marcello Mastroianni. São ingredientes que trazem ainda mais vida ao filme como um todo, porém, é na questão sobre aceitação que fala mais alto.
Por serem seres do fundo do oceano, Luca e Alberto temem pelas suas vidas e pela amizade que fizeram com a sua nova amiga Giulia Marcovaldo. Juntos, o trio decide participar de uma corrida de bicicletas e assim conquistar a sua tão sonhada motocicleta Vespa. Porém, eles terão dificuldade perante as diversas adversidades, sendo que a maioria vem do preconceito.
É aí que estúdio entra em um assunto delicado, sobre aceitação do seu próximo, mesmo quando o mesmo é diferente de você, mas que não significa que ele não mereça um lugar ao sol ao seu lado. Curiosamente, o filme lembrou em alguns casos o ótimo "A Forma da Água" (2017), de Guilherme Del Toro, cujo os personagens centrais lutavam pela felicidade, mesmo quando o preconceito e a ganância dos seres humanos lhe perseguiam. Embora a realidade seja ainda mais crua e dura com aqueles que são diferentes, o filme vem em um momento em que nós precisamos sim ter a mente cada vez mais aberta e aceitarmos que a diferença não é uma divisa, mas uma qualidade do seu próximo a ser explorada.
Com começo, meio e fim bem amarrados, "Luca" é uma divertida aventura e cuja a sua lição de moral nas entrelinhas deve ser vista e revista por todas as pessoas.
“É urgente que a gente pare o genocídio indígena", afirma Luiz Bolognesi após premiação de “A Última Floresta” no 71º Festival de Berlim
Produção Gullane e Buriti Filmes venceu o prêmio do público na mostra Panorama
O filme “A Última Floresta”, dirigido por Luiz Bolognesi (“Ex-Pajé”) e produzido pela Gullane e Buriti Filmes, em associação com a Hutukara Associação Yanomami e o Instituto Socioambiental (ISA), venceu o prêmio do público na mostra Panorama no 71º Festival de Berlim. Esta é a terceira vez que a Gullane é premiada no festival – em 2018 “Ex-Pajé” venceu o prêmio especial do Júri Oficial de Documentários da Mostra Panorama – e a segunda vez que vence a categoria Audience Award, também conquistada pelo filme “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, em 2015. O Panorama Audience Award acontece desde 1999. Este ano, a mostra Panorama apresentou 16 longas-metragens, sendo “A Última Floresta” o único representante brasileiro. Luiz Bolognesi assina o roteiro do filme ao lado do xamã e líder político Yanomami Davi Kopenawa. De Berlim, onde foi acompanhar as sessões presenciais do filme na edição Summer Special (em março, a primeira fase do festival foi online), o diretor afirmou:
“Esse prêmio é muito importante não só para nós que fizemos o filme, mas para o cinema brasileiro - que fez aniversário nesse dia 19, - e sobretudo para a imagem dos povos indígenas, dos povos Yanomami, que estão sob ataque nesse momento, lutando contra uma invasão de mais de 20 mil garimpeiros ao seu território. É fundamental que a imagem do filme rode os países e o planeta para que a gente possa fazer pressão para a retirada desses invasores ilegais tanto das terras dos Yanomamis como das terras dos Munduruku. Esse prêmio significa que o mundo está de olho e eu espero que o governo brasileiro cumpra a constituição e retire esses invasores da terra legalmente constituída e de direito dos Yanomami. É urgente que a gente pare o genocídio indígena imediatamente", disse Luiz Bolognesi.
O produtor Fabiano Gullane que assina a produção ao lado de Caio Gullane e da Buriti Filmes (Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi), também comentou a premiação: “São projetos com grande articulação internacional, que só reforçam um dos valores da Gullane, que é incentivar o mercado audiovisual brasileiro e a exportação de conteúdos brasileiros para o mundo. É uma grande conquista para o nosso audiovisual em um momento de tanta tristeza no nosso país", afirmou.
Em junho “A Última Floresta” também conquistou o prêmio de Melhor Filme no 18º Seoul Eco Film Festival, na Coreia do Sul, e foi exibido no DocsBarcelona - Festival Internacional de Documentários, na Espanha, em maio, no Wairoa Maori Film Festival, na Nova Zelândia, e no Biografilm Festival, na Itália, em junho. No Brasil, teve sessões no Festival Pachamama em maio e em junho, no Festival Internacional Imagem dos Povos e na Mostra Ecofalante de Cinema, durante a Semana do Meio Ambiente. A primeira sessão no Brasil ocorreu no 26º É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários 2021. O longa também foi exibido nos festivais Visions du Réel, na Suíça, e no Hot Docs, no Canadá.
“A Última Floresta” retrata o cotidiano de um grupo Yanomami isolado, que vive em um território ao norte do Brasil e ao sul da Venezuela há mais de mil anos. O xamã Davi Kopenawa Yanomami busca proteger as tradições de sua comunidade e contá-las para o homem branco que, segundo ele, nunca os viu, nem os ouviu. Enquanto Kopenawa tenta manter vivos os espíritos da floresta, ele e os demais indígenas lutam para que a lei seja cumprida e os invasores do garimpo retirados do território legalmente demarcado. Mais de 10 mil garimpeiros ilegais, que invadiram o local em 2020, derrubam a floresta, envenenam os rios e espalham Covid e outras doenças entre os indígenas. Com distribuição da Gullane, a estreia do filme no Brasil está prevista para 2021.
Sinopse: Em um território Yanomani isolado na Amazônia, o xamã Davi Kopenawa Yanomani tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade. Os jovens ficam encantados com os bens trazidos pelos brancos; e Ehuana, que vê seu marido desaparecer, tenta entender o que aconteceu em seus sonhos.
Direção de Produção e Assistente de Direção: Carolina Fernandes
Som Direto: Rodrigo Macedo
Trilha Sonora: Talita del Collado
Mixagem: Armando Torres Jr., ABC, Caio Guerin
Supervisão de Edição de Som e Mixagem: Caio Guerin, Rosana Stefanoni
Supervisão de Imagem: Luisa Cavanagh
Supervisão de Efeitos Visuais: Eduardo Schaal
Produção Executiva: Daniela Antonelli Aun, Ana Saito, Pablo Torrecillas
Produtores: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Lais Bodanzky e Luiz Bolognesi
Produtora: Gullane e Buriti Filmes
Produção Associada: Hutukara Associação Yanomami e Instituto Socioambiental (ISA)
Apoio: Amazon Watch, Greenpeace, Rainforest Foundation US, Rainforest Foundation Norway, Survival International
Distribuidora: Gullane
Sobre Luiz Bolognesi:
Roteirista premiado, escreveu e dirigiu o longa-metragem de animação Uma História de Amor e Fúria (2013), vencedor do prêmio Cristal de Melhor Longa Metragem em Annecy. O filme foi exibido nos cinemas de seis continentes e premiado nos festivais de Tóquio, Shangai, Atenas, Bordeaux, Strasbourg, Buenos Aires e pela Academia Brasileira de Cinema. Foi exibido na América Latina pela HBO e TV Globo.
O documentário Ex-pajé, onde assina o roteiro e a direção, recebeu o prêmio especial do júri nos festivais de Berlim e Chicago, prêmio da Crítica no Festival É tudo Verdade, além de outros prêmios nacionais e internacionais.
Também fazem parte de seu currículo como diretor e co-diretor, obras como o curta Pedro e o Senhor, Cine Mambembe, O Cinema Descobre o Brasil, A Guerra dos Paulistas, Lutas.doc, Educação.doc, Juventude Conectada e Guerras do Brasil.doc.
Assina os roteiros dos filmes Bicho de Sete Cabeças, O Mundo em Duas Voltas, Chega de Saudade, Terra Vermelha, As Melhores Coisas do Mundo, Amazônia, Planeta Verde, Elis e Bingo - O Rei das Manhãs. Seus trabalhos receberam prêmios nacionais e internacionais e foram exibidas em países dos cinco continentes.
Sobre Davi Kopenawa Yanomami:
Davi Kopenawa Yanomami é xamã e porta-voz do povo Yanomami. Por 25 anos, ele liderou incansavelmente a longa campanha nacional e internacional para garantir os direitos à terra dos Yanomami, pela qual ganhou reconhecimento em todo o mundo e em seu país natal, o Brasil.
Davi nasceu por volta de 1956 em Marakana, uma comunidade Yanomami no norte da Amazônia. Em 1983, Davi começou a lutar pelo reconhecimento da vasta área habitada pelos Yanomami. A área Yanomami foi oficialmente reconhecida pelo governo brasileiro pouco antes de sediar a primeira Cúpula da Terra da ONU no Rio de Janeiro, em 1992.
Durante os anos 1990 e início dos anos 2000, Davi fez muitas viagens ao exterior para se reunir com órgãos governamentais e ONGs para arrecadar fundos para projetos vitais de saúde e educação com os Yanomami, bem como para expor as ameaças contínuas de garimpeiros, colonos e fazendeiros.
Em 1989, Davi ganhou o prêmio UN Global 500. Em 1999, Davi foi agraciado com a Ordem do Rio Branco pelo presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Em 2008, o júri do prêmio espanhol Bartolomé de las Casas concedeu a Davi uma Menção Honrosa. Em 2012 a Câmara Municipal de Boa Vista (RR) premiou Davi com a Honra ao Mérito. Em 2019, ele recebeu o prêmio Right Livelihood por seu trabalho na proteção do meio ambiente. Em 2021, ele se tornou membro da Academia Brasileira de Ciências.
Sobre a Gullane:
A Gullane é uma das maiores produtoras e incentivadoras do mercado audiovisual brasileiro, além de uma das principais exportadoras de obras independentes. Fundada em 1996 pelos irmãos Caio Gullane e Fabiano Gullane, já soma em seu catálogo mais de 50 filmes lançados com destaque no cinema nacional e no exterior e 30 séries para televisão e plataformas digitais.
Entre os filmes e séries de destaque estão "Carandiru", “Bicho de Sete Cabeças”, “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”; a franquia “Até que a Sorte nos Separe”; “Que Horas ela Volta?”, "Como Nossos Pais”, “Bingo - o Rei das Manhãs”; as séries “Alice” e "Hard" (HBO), "Unidade Básica - 1a e 2a temporada" (Universal Canal), “Carcereiros” (Globoplay), “Irmãos Freitas” (Space e Amazon Prime), “Ninguém Tá Olhando” e "Boca a Boca” (Netflix). Já coleciona mais de 500 prêmios e seleções em importantes festivais de cinema e televisão do Brasil e do mundo como Mostra de Cinema, Festival do Rio, Cannes, Veneza, Berlim, Sundance, Toronto, MIPTV e Emmy.
Sobre a Buriti Filmes:
A Buriti Filmes é uma produtora audiovisual independente fundada em 1997 por Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi. Ao longo desses anos, produziu cerca de dezesseis obras entre curtas, séries, documentários e longas-metragens.
Na ficção teve sua estreia na competição oficial do Festival de Locarno com o filme Bicho de Sete Cabeças (coprodução Brasil/ Itália - 2001) - de Laís Bodanzky. Filme que projetou o ator Rodrigo Santoro para o mundo e que se tornou um clássico na cinematografia brasileira.
Entre os filmes e séries de destaque estão Educação.doc, Cine Mambembe - O Cinema Descobre o Brasil, Mulheres Olímpicas, As Melhores Coisas do Mundo, Guerras do Brasil.doc, Chega de Saudade, As Melhores Coisas do Mundo, Uma História de Amor e Fúria, Como Nossos Pais e Ex-Pajé.
Suas obras conquistaram prêmios nacionais e internacionais, incluindo o mais importante prêmio de animação mundial, em Annecy e melhor filme no Festival de Gramado. Também teve seus filmes exibidos em mais de 30 países.
Durante 15 anos foi responsável pelos os projetos sociais Cine Tela Brasil de ensino e exibição de filmes nas periferias do Brasil, promovendo o encontro entre cinema e educação nas comunidades de baixa renda. O projeto levou mais de 1.3 milhões de pessoas ao cinema, a maioria pela primeira vez, em 759 bairros de todo o Brasil e produziu mais de 450 curtas de jovens moradores de periferias.
Atualmente produz a animação Viajantes do Bosque Encantado, com direção de Alê Abreu ainda sem data prevista de estreia. O longa-metragem de ficção Pedro, com direção de Laís Bodanzky e coprodução Biônica Filmes está em fase de finalização, com previsão de estreia em 2021.
Sinopse: Um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade desse "futuro" criado por Huxley não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade atual.
Os conflitos mundiais do início do século 20 fizeram com que muitos escritores criassem histórias fictícias, mas que serviam de metáfora sobre os dilemas e os problemas que a sociedade da época passava. Se por um lado "A Revolução dos Bichos" e "1984", ambos de George Orwell, cuja as histórias eram sobre o temor do comunismo, por outro lado, "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury, sintetizava o temor de um poder autoritário de queimar o conhecimento e de uma sociedade cada vez mais presa em uma espécie de reality show ao vivo. "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, foi o mais antigo, escrito em 1932 e servindo até mesmo de modelo para as ficções que vieram posteriormente.
Na história, conhecemos uma sociedade em que não se nasce mais da forma tradicional, mas sim são criadas biologicamente para serem perfeitas, onde a felicidade é a lei e cuja as regras sociais são essenciais. Não há religião, mas também não há uma liberdade de ir e vir, a não ser que deseje viver fora dessa realidade, onde então o indivíduo decide viver em uma região onde uma outra sociedade vive uma espécie de realidade primitiva, mas mantendo os sentimentos e os velhos costumes de um tempo já esquecido. O livro com certeza renderia uma ótima adaptação para o cinema, assim como os demais livros citados tiveram ao longo das décadas.
Porém, "Admirável Mundo Novo" parece que não teve a mesma sorte. Ao meu entender, os realizadores de Hollywood talvez acreditassem que era inviável uma produção como essa para a tela grande e que não atenderia as exigências, tanto dos fãs do livro, como também do marinheiro de primeira viagem que nunca leu o conto. É aí que chegamos ao telefilme "Admirável Mundo Novo" (1980), produção que vista hoje se percebe o seu lado precário de produção, mas que, curiosamente, parece bastante fiel a sua fonte original.
Dirigido por Burt Brinckerhoff, com roteiro de Robert E. Thompson e Doran William Cannon, a produção foi lançada na tv norte americana em 7 de março de 1980. No Brasil, segundo as minhas fontes, a produção foi dividida em quatro capítulos e sendo exibida pela Bandeirantes e Rede Globo. O telefilme ganhou certo culto na época de sua exibição, mas logo foi esquecido.
Um dos fatores para que a maioria do público de hoje não se lembre desse telefilme é devido a sua produção, que revista hoje é nitidamente precária, cujo o orçamento em reconstituir a realidade mostrada no livro fica somente na superfície e cuja atuação da maioria do elenco se percebe que não se esforçaram para se destacarem em cena. Porém, é curioso observar que é a produção mais fiel na questão do enredo, possuindo várias passagens quase idênticas daquelas escritas Aldous Huxley. Em determinados momentos, por exemplo, se nota que não importa o quanto ficaria ridícula as cenas, desde que fossem fieis a sua fonte.
Embora com as suas limitações, a produção, assim como a sua fonte original, previu algumas situações em que a sociedade de hoje conviveria, como no caso de a obrigação de sempre demonstrarmos felicidade pelas redes sociais e contradizendo com que acontece com a nossa realidade do dia a dia. Há também a questão da divisão, onde uma parcela de afortunados colhe o que é de bom nesta realidade cheia de recursos, enquanto uma outra parcela vive nos subterrâneos e fazendo o trabalho duro. São temas vistos em clássicos do cinema como "Metrópoles" (1927) e da literatura como "Viagem no Tempo" de HG Wells e que continuam atuais até mesmo nos dias de hoje.
Do elenco se destaca o ator Kristoffer Tabori, que interpreta o "selvagem" e principal protagonista da trama. Nascido de uma união proibida, "o selvagem" possui sentimentos e motivações de uma época esquecida, o que faz dele não se enquadrar tanto na realidade primitiva como também de uma realidade cheia de regras e cada vez menos humana. O destino do protagonista é um só e que fará com que ele se torne uma espécie de ideia e que será impregnada ao longo do tempo por aquela sociedade.
Embora seja uma produção bastante falha, o telefilme "Admirável Mundo Novo" de 1980 ainda é hoje a obra mais fiel do clássico Aldous Huxley e que fará com que muitos cinéfilos e leitores tenham interesse de ler o clássico literário.