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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 16 de junho de 2023

Cine Especial: Batman - Por Tim Burton

 Algo Estava Acontecendo 

Quando eu era criança a minha mãe me levava junto com ela para o centro de Porto Alegre para ir consultar o médico para cuidar de sua saúde. Eu acho que era entre 1988 ou já início de 1989 e para mim Porto Alegre era enorme com os seus arranha céus e que faziam me lembrar um certa Gotham City das HQ do Batman. Por coincidência, algo de estranho estava acontecendo, pois comecei a enxergar símbolos do homem morcego por todos lados, desde nas paredes, como também em bancas, postes e nas roupas das pessoas.

Dias depois eu estava assistindo uma matéria especial na tv sobre o futuro lançamento de “Batman” (1989) para o cinema e fazendo com que ficasse eufórico, já que era o meu personagem preferido dos HQ. Mal imaginava a magnitude do longa-metragem, já que a minha visão do herói que eu tinha em carne e osso ainda era do seriado dos anos sessenta e, portanto, eu não estava preparado pelo lado mais sombrio e principalmente da visão autoral de Tim Burton. Olhando para trás percebo que o filme tinha tudo a ver com relação ao que o personagem estava passando nos anos oitenta, já que ele foi repaginado por Frank Miller e gerando assim obras primas como "Cavaleiro das Trevas" e "Batman - Ano Um".

O filme foi um projeto que se estendeu por vários anos, mas o estúdio queria lançar o longa em 1989 de qualquer jeito, principalmente para pegar carona com o aniversário de cinquenta anos do personagem criado por Bob Kane. A missão não foi fácil, mas o filme é um daqueles tipos de obras que os Deuses do cinema sorriem para que dê tudo certo e foi isso que aconteceu ao longo do tempo. Curiosamente, o estúdio optou por um diretor que a pouco havia adquirido o seu primeiro grande sucesso, mas que nasceu para carregar o fardo.

Tim Burton havia lançado em 1988 "Os Fantasmas Se Divertem" (1988) comédia de humor sombrio que mescla elementos do gênero de horror e se tornando rapidamente um filme cultuado e revelando o lado autoral do cineasta como um todo. Embora não tenha lido uma HQ sequer do personagem Burton captou a essência logo de imediato, já que ela possui elementos dos quais moldaram o realizador ao longo dos anos, desde ser uma figura gótica que vive nas sombras e que se mistura em uma cidade sombria e, por vezes, assustadora. Aliás, é preciso reconhecer que os cenários que representam a cidade são um verdadeiro espetáculo, do qual quase se assemelha a magnitude de outro clássico da época "Blade Runner" (1982) e não é à toa que o filme viria a ganhar um Oscar de melhor Edição de Arte.

O que não foi fácil para o diretor foi a escolha do seu protagonista, já que o estúdio com certeza desejava um grande astro, mas ao invés disso o realizador sonhava trabalhar com um ator comum que conseguisse nos passar o lado mais humano do homem morcego. Já tendo trabalhado com o diretor em "Os Fantasmas se Divertem" Michael Keaton foi a escolha bastante questionada para época, tanto é que choveram cartas indignadas dos fãs que não enxergavam o ator como Batman. Mais de trinta anos depois esses mesmos fãs parecem terem se arrependido de terem jogado paus e pedras contra o intérprete, pois após o lançamento do filme e anos seguintes muitos consideram como o melhor Batman do cinema até hoje.

Quem ainda se saiu melhor nesta história foi Jack Nicholson, um dos grandes talentos do cinema e cujo anos oitenta ele vinha de grandes sucessos como "O Iluminado" (1980) "Laços de Ternura" (1983) e "As Bruxas de Eastwick" (1987). Para a construção do seu Coringa ele decidiu se distanciar da visão que o público tinha com relação ao personagem que havia sido interpretado por Cesar Romero no seriado dos anos sessenta e se inspirando mais na versão mais adulta e violenta vista no clássico "A Piada Mortal" de Alan Moore. Além disso, é mais do que nítido que o ator buscou inspiração em outros personagens que ele havia interpretado, como no caso do pai que se torna um verdadeiro psicopata no já citado "O Iluminado".

O resultado é um Coringa nascido para Jack Nicholson, onde o intérprete se divertiu sendo ele mesmo, mas colocando para fora o seu demônio interior e nos brindando com uma interpretação digna de Oscar. Não é à toa que por muito tempo esse foi considerado o Coringa definitivo, até a chegada de um certo Heath Ledger, mas essa é uma outra história que merece uma análise mais detalhada. Curiosamente, Jack Nicholson se tornou ator mais bem pago na época, já que ele assinou um contrato de porcentagem nos lucros e que deu ao ator cerca de 50 milhões de dólares.

Mas quem acabou caindo de paraquedas na produção foi realmente Kim Basinger. Inicialmente quem faria a repórter investigativa seria Sean Young, que chegou até mesmo interpretar a personagem e participar de algumas cenas, porém, Young fraturou a clavícula durante as filmagens, em uma cena em que precisava montar um cavalo juntamente com Michael Keaton. Em última hora, foi chamada Basinger, uma atriz que na época ainda era inexperiente, mas já colecionava alguns sucessos como "9 1/2 Semanas de Amor" (1986).

Um Novo Começo 

Pode-se dizer que "Batman" foi o primeiro grande filme a se tornar um sucesso antes mesmo de ter estreado. Havia outdoor em todas as cidades, álbuns de figurinhas, brinquedos, camisetas e tudo que era possível para atrair uma grande fatia do público. Se hoje isso pode parecer comum com tantos lançamentos de filmes baseado em HQ isso era para época algo incomum e fazendo do filme uma sessão obrigatória mesmo para aqueles que não eram cinéfilos ou fãs de HQ. O resultado foi uma bilheteria de mais de quatrocentos milhões e sendo uma quantia exorbitante para aqueles tempos.

Não demorou muito para que outros estúdios corressem contra o relógio para fazer as suas adaptações de HQ para o cinema, porém, era uma outra época e esses lançamentos eram muito esporádicos e bem diferente de hoje em dia. O mais próximo da magnitude que Tim Burton havia criado foi apresentado em "Dick Tracy" (1990), dirigido e estrelado por Warren Beatty e cujo seu visual era cartunesco, colorido e que remetia as HQ dos anos trinta. Mas se há uma coisa que ambas as obras tinham em comum era a sua trilha sonora, sendo que elas foram elaboradas por Danny Elfman. 

Ópera Cinematográfica 

Tá certo que Hans Zimmer havia criado uma fantástica trilha sonora para a trilogia de "Cavaleiro das Trevas" de Christopher Nolan, mas se há uma trilha definitiva sobre Batman é a que foi criada por Danny Elfman em 1989. Na abertura, por exemplo, ela começa ecoar vagarosamente, assim como a câmera do diretor que vai se direcionando para as paredes escuras de pedra e logo depois se revela ser um grande símbolo do morcego. A trilha de Elfman se casa com perfeição em cada cena do personagem e cujo seu ápice se encontra quando obtemos o primeiro vislumbre do Bat-sinal no céu.

O Fantasma da Ópera 

De todas as versões que Batman teve para o cinema essa não é somente a mais cinematográfica, como também a mais artística e das quais possuem raízes tanto expressionistas como também teatrais. Neste último caso, por exemplo, o ato final do filme foi totalmente inspirado na peça "O Fantasma da Ópera" que estava fazendo um maior sucesso em Londres naquela época e que havia sido assistido por Jack Nicholson. Convencido pelo ator, Tim Burton e seus produtores e roteiristas decidiram reescrever o ato final e o resultado é esse que testemunhamos a mais de trinta anos atrás e sendo apontado como um dos grandes momentos da história do cinema. 

Expressionismo Alemão 

Devido ao grande sucesso do filme não demorou para que houvesse uma continuação, mas diferente do filme anterior, Tim Burton teve controle total do projeto e fazendo com que sua visão autoral dominasse a obra do começo ao final. "Batman - O Retorno" (1992) é o filme mais gótico do personagem, violento, estranho e maravilhoso a todo momento. Gotham City é aqui uma cidade ainda mais sombria, com as suas enormes e estranhas estátuas e cujo formato dos seus prédios remetem ao melhor do expressionismo.

Neste último caso, o filme é uma bela homenagem a esse importante período do cinema alemão, já que Burton cresceu assistindo a esses longas e exemplos é o que não faltam no filme para concordar com essa minha observação. Christopher Walken, por exemplo, interpreta o corrupto milionário chamado Max Schreck, sendo que esse nome é do ator que interpretou Drácula no clássico expressionista "Nosferatu" (1922). E o que dizer do visual do Pinguim interpretado por Danny DeVito, sendo que é claramente uma homenagem ao vilão do clássico "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920).

Porém, há uma pincelada de elementos extraídos dos filmes de terror dos anos trinta e dos quais se destaca através da Mulher Gato, já que o seu traje preto todo remendado parece mais uma bela homenagem ao que foi visto nos primeiros filmes de "Frankenstein". Falando na personagem, já se passaram vários anos e outras atrizes de grande talento a interpretaram, mas nenhuma supera o assombroso trabalho que Michelle Pfeiffer, pois a sua Selina Kyle é uma figura trágica, abusada moralmente pelo seu patrão e sobrevivendo através de uma estranha relação com os gatos. A cena em que ela retorna para casa e começa a liberar toda a sua raiva para fora é, na minha opinião, uma das melhores atuações da atriz em sua respeitável carreira. 

O Maior Prêmio Veio Através do Tempo 

Embora seja tão bom quanto o primeiro, "Batman - Retorno" não foi o sucesso esperado que o estúdio tanto queria, sendo que os produtores começaram acusar Tim Burton como inadequado para continuar na cadeira como diretor nos filmes seguintes. Olhando para trás se percebe que a Warner somente queria dinheiro, não somente através da bilheteria, como também na venda de brinquedos e qualquer outra bugiganga que pudesse obter algum lucro. Sai de cena Tim Burton e começa a era Joel Schumacher que nasceu somente para vender "Batman Eternamente" (1995) e o terrível "Batman e Robin" (1997) como meros produtos a serem vendidos para o mercado e não como cinema de qualidade como era visto no passado.

O tempo passou e provou o quanto o estúdio estava errado, ao ponto da maioria dos cinéfilos reconhecer que Batman nas mãos de Tim Burton foi uma das melhores coisas que aconteceram para o personagem no cinema e cuja fidelidade era o que menos importava, mas sim sendo feita de coração, elegância e puramente cinema. Não é à toa, portanto, que depois de mais de trinta anos Michael Keaton retorna na pele do personagem em "The Flash" e calando por completo aqueles detratores do passado.

"Batman" e "Batman - O Retorno" por Tim Burton é cinema de qualidade, sobrevivente ao teste do tempo e possuindo uma ousadia que as adaptações atuais quase nunca alcançam. 


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