Sinopse: Uma jovem sereia faz um acordo com uma bruxa do mar para trocar sua bela voz por pernas humanas para que possa descobrir o mundo acima da água e impressionar um príncipe.
O clássico "A Pequena Sereia" (1989) eu tive o privilégio de assistir em uma sessão especial neste ano na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre e posso dizer que é, sem sombra de dúvida, uma das melhores animações dos estúdios Disney e que ajudou a inaugurar o que chamamos hoje de “a era de ouro” da casa do Mickey. Portanto, ao anunciarem que fariam uma versão com atores logo se temeu que o estúdio cometesse um grande pecado capital, principalmente pelo fato de que suas versões recentes em Live action tenham falhado de forma previsível. Pois bem, a nova "A Pequena Sereia" não é superior ao clássico, mas é um belo filme a ser assistido de mente aberta e dar crédito aos pontos positivos na obra.
Dirigido por Rob Marshall, do filme "Chicago" (2003), e baseado no clássico literário do dinamarquês Christian Andersen, publicado pela primeira vez em 1837, o filme conta a história de uma das filhas do Rei Tritão (Javier Bardem), Ariel (Halle Bailey), uma bela e espirituosa jovem sereia com sede de aventura. Desejando descobrir mais sobre o mundo além do mar, Ariel visita a superfície e se apaixona intensamente pelo arrojado Príncipe Eric (Jonah Hauer-King), ao salvá-lo de um naufrágio. Mas para procurá-lo em terra firme e se aproximar do príncipe humano, a sereia pede ajuda à bruxa do mar, Úrsula (Melissa McCarthy), e aceita ceder sua voz para que a feiticeira lhe dê pernas. Agora, ela terá o desafio de se comunicar com o rapaz ao experimentar a vida em terra firme, além de entrar em conflito com os valores de sua família.
Rob Marshall é conhecido por realizar filmes que resgatam os tempos em que o cinema ganhava lucro através dos filmes musicais. Além disso, ele surpreendeu ao inserir o lado mitológico do universo das sereias no filme "Piratas do Caribe - Navegando nas Águas Misteriosas" (2011). Portanto, era uma questão de lógica que tal responsabilidade caísse em suas mãos e posso dizer que até que ele cumpriu bem a missão.
Usando praticamente a mesma tecnologia que havia sido usada na criação de cenas em que os atores parecem estar embaixo da água no filme "Aquaman" (2018), o filme é um colírio para os olhos, onde as cenas no fundo do mar são um verdadeiro mosaico cheio de detalhes e cujas suas cores fortes sintetizam um mundo quase intocável. Infelizmente essa tecnologia realista acaba por prejudicar o lado mais carismático de alguns personagens que amamos, como no caso de Sebastião, Linguado e Sabidão, pois desde a nova versão de "O Rei Leão" (2019) o estúdio tem essa teimosia pelo realismo, mas fazendo com que os personagens não nos passem vida como era antes. Ao menos Sebastião é o menos prejudicado e seu momento musical "Aqui No Mar" compensa um pouco esse ponto negativo.
Falando em números musicais pode-se dizer que o filme também não nos decepciona, principalmente quando a protagonista comanda. Em sua estreia como atriz, a cantora Halle Bailey realmente não desaponta, ao ponto de se tornar o verdadeiro coração e voz do filme como um todo, pois ela nos passa doçura e o desejo que a sua personagem sente ao desejar conhecer o restante do mundo. Já Jonah Hauer-King desaponta em um número musical, mas ao menos o seu personagem é mais bem explorado do que na versão original e fazendo com que Eric e Ariel tenham muito mais em comum.
Aliás, é notório que o encontro dos dois não seja tratado somente como uma história de amor, como também pela curiosidade que ambos têm com relação em conhecer novos mundos e não se limitarem somente onde nasceram. Neste ponto o filme acerta ao nos passar uma mensagem positiva com relação ao não preconceito perante ao desconhecido, do qual ele precisa ser aceito e explorado, pois o mundo de hoje não se pode haver mais muros para se dividir, mas sim pontes para nos unir. Curiosamente, o preconceito que o rei Tristão tem com relação aos seres da superfície é muito mais explicado e fazendo a gente compreendê-lo com relação a esse ponto.
Todos do elenco, portanto, se esforçam para dar o seu melhor em cena, mesmo quando os efeitos visuais e escolhas duvidosas do estúdio atrapalham em alguns momentos do desenvolvimento da história. Todos, por exemplo, tinham medo da personagem Ursula na versão original, principalmente pelo fato dela ter sido criada com um traço forte e nos passando toda a sua verdadeira maldade. Aqui isso se perde um pouco, já que atriz Melissa Mccarthy se esforça ao máximo ao interpretar a personagem, mas não obtendo aquela aura maligna que nós sentíamos medo e acaba por se perdendo no caminho. Aliás, por mais que o estúdio tente usar o seu CGI da maneira perfeita, ele prejudica a vilã em um momento crucial no ato final da trama e não passando menor impacto se formos comparar ao clássico.
Como podem ver, é um filme que possui os seus erros e acertos, dos quais representam o momento atual do estúdio ao não saber ao certo como agradar o seu público. Ao menos os envolvidos escolhidos para a tamanha empreitada deram tudo de si e isso é visto na tela, mas cabe o estúdio voltar a entender que um filme não é feito somente por tecnologia ou nostalgia, mas sim realizado de coração por aqueles que se dedicam ao fazer a arte cinematográfica. Resumindo, "A Pequena Sereia" se sustenta como filme ao obter a sua alma própria, mas a Disney precisa cada vez mais ouvir as críticas contra ela.
Veja também: Revisitando “A Pequena Sereia (1989)”
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