nota: Filme exibido para associados no último dia 17/06
Sinopse: O senhor Polsky é um solitário e mal-humorado sobrevivente do Holocausto que vive uma vida pacata em uma cidadezinha. Até que um homem misterioso se muda para a casa ao lado, e Polsky começa a achar que seu novo vizinho é Adolf Hitler.
Em tempos em que a Extrema Direita atual tenta dominar os principais potenciais do mundo a figura de Adolf Hitler sempre surge como uma lembrança a ser estudada para que novos ditadores jamais surgem em cena. O cinema, por sua vez, tanto o retratou como o verdadeiro mal em pessoa, como também o deixou mais humano, mas não menos problemático como foi visto em "A Queda - As Últimas Horas de Hitler" (2004). "Meu Vizinho Adolf" (2022) usa o humor para revelar uma sociedade dividida pelo temor, mas que basta enxergar o próximo mais a fundo para se dar conta em não levantar determinados muros.
Dirigido por Leon Prudovsky "Meu Vizinho Adolf" é um filme israelense e polonês de comédia dramática que se passa na América do Sul, em 1960. Mr. Polsky (David Hayman) é um sobrevivente do Holocausto que vive sozinho e aprecia a solidão. Porém, seu isolamento é abalado com a chegada de um novo vizinho, Mr. Herzog (Udo Kier). Imediatamente, Polsky desconfia do homem, e acredita que ele seja, na verdade, Adolf Hitler. Apesar das acusações, ninguém acredita no homem, e ele decide começar uma investigação por conta própria para provar sua teoria.
Com uma abertura singela sobre o passado de Polsky o filme já se encaminha para o cenário principal da trama, onde o protagonista começa a ficar paranoico com a possibilidade de Hitler estar bem ao seu lado e não medindo esforços para pegá-lo. A trama começa a ganhar elementos até mesmo do clássico "Janela Indiscreta" (1954), pois o protagonista começa a usar uma câmera fotográfica, além de ler livros que falam sobre a verdadeira pessoa de Hitler como um todo. Para aqueles que querem compreender as raízes do mal em pessoa essa parte, ao menos, se torna um verdadeiro mosaico de informações para dizer o mínimo.
Porém, as aparências enganam e ambos os personagens começam a se aproximar com cada um por um motivo. Se Polsky quer atravessar a cerca do vizinho para aguar as rosas que lembram o seu passado, por outro lado, Mr. Herzog começa a se aproximar do primeiro a partir do momento em que ele descobre que ambos são fascinados pelo xadrez. A partir daí eles começam a se conhecerem melhor, mesmo quando Polsky ainda insiste em sua teoria.
Ambos os protagonistas possuem personalidades distintas, mas compartilhando entre si cicatrizes físicas e emocionais que adquiriram ao longo da guerra. Leon Prudovsky procura fazer um retrato de uma sociedade, seja ela do passado ou presente, dividida através dos seus medos que nasceram através do horror da insanidade do homem, mas que nunca custa a gente baixar a guarda e descobrir novas camadas. Neste último caso, por exemplos, os dois ficam reticentes com relação um ao outro, mas que logo percebem que precisam de ajuda para serem ouvidos.
Tanto David Hayman como Udo Kier se saem muito bem ao interpretar duas personalidades complexas, sendo que a segunda se apresenta como um ser misterioso, mas que não é tudo o que o primeiro imaginava desde o início. Na reta final, se percebe que as sequelas de um passado infernal persistem em assombrar aqueles que presenciaram, mas cabe os mesmos enfrentarem os seus medos e procurarem entender que todos se encontram neste mesmo tabuleiro. Ao final, percebemos o quanto Polsky merecia baixar a sua guarda para só assim fazer as pazes consigo mesmo.
"Meu Vizinho Adolf" é uma bem-humorada comédia dramática que fala sobre os medos e paranoias de ontem e hoje, mas cujos sentimentos precisam ser combatidos para seguirmos em frente.
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