Sinopse: Em São Paulo, onde a pichação cobre mais muros e prédios do que qualquer outro lugar no planeta, Trinchas comanda um grupo de pichadores que escala os edifícios mais altos para deixar sua marca.
Sinceramente eu não gosto da pichação, pois ela acaba chegando aos monumentos históricos, culturais e sujando assim um pouco da nossa história. Porém, se ela existe é porque ela vem de uma minoria excluída da sociedade e da qual grita para ser ouvida, mesmo que para isso corram até mesmo sério risco de vida. "Urubus" (2021) fala sobre uma parte dessa sociedade que adentra a noite, se arriscando ao escalar enormes arranha céus para deixar a sua marca e dizer para nós alguma coisa.
Dirigido pela estreante Cláudio Borrelli, a trama se passa na quarta maior cidade do mundo, São Paulo, onde a pichação cobre mais muros e prédios do que qualquer outro lugar no planeta, Trinchas (Gustavo Garcez) comanda um grupo de pichadores que escala os edifícios mais altos para deixar sua marca. Mas, quando Trinchas conhece Valéria (Bella Camero), uma estudante de pós-graduação em arte, uma paixão surge entre os dois. Os mundos distintos do casal colidem, resultando na invasão da 28ª Bienal de São Paulo.
Embora novo no ramo da direção, Cláudio Borrrelli surpreende com a câmera na mão, ao criar uma abertura digna de nota. Por dez minutos, vemos o grupo de pichadores escalando um enorme prédio para pichar o parapeito, mas ao mesmo tempo a tensão aumenta com a possiblidade da chegada da polícia. Se tem, portanto, uma corrida contra o tempo, onde a edição frenética das cenas faz com que respiremos fundo e fazendo a gente se perguntar qual o destino daqueles jovens que se arriscam em tudo.
Porém, é preciso observar que a produção é do veterano Fernando Meirelles, especialista em obter atores novatos para formar o seu elenco, mas conseguindo extrair deles interpretações que não devem nada se for comparado aos veteranos. Se isso deu certo com o seu clássico "Cidade de Deus" (2002) aqui a situação não é diferente e fazendo com que a trama obtenha uma pegada mais forte com relação ao mundo real que se encontra em nossa volta. Embora a trama já seja baseada em fatos verídicos, esse artifício colabora para que tudo se torne ainda mais verossímil.
Baseado no caso da invasão da 28ª Bienal de São Paulo em 2008, onde pichadores invadiram o local em que não havia nenhuma arte para ser exposta, o evento repercutiu no mundo inteiro e gerando até mesmo documentários posteriormente como no caso, por exemplo, "Pivetta" (2021). Aqui, a personagem da vida real vista antes naquele documentário é agora interpretada pela atriz Bella Camero, do filme "Marighella" (2021) e da qual se torna uma representação do nosso olhar perante aquele universo desconhecido e do qual é sempre censurado pela grande mídia corporativa. Porém, o estreante Gustavo Garcez dá um verdadeiro gás ao filme ao encarnar com perfeição um jovem com uma fúria contida dentro de si e da qual extravasa a partir de suas pichações.
O realismo das interpretações de todos do elenco vai ao extremo, principalmente pelo fato de que os diálogos são moldados por gírias, linguagem chula e que só quem pertence a essa vida, por vezes, irá compreendê-la. Claro que, logicamente, é uma vida da qual possui inúmeros perigos, desde ao fato de sofrer repreensão vinda da polícia, como também ter atritos com gangues que não aceita pichações em seus territórios. Tudo acaba gerando uma verdadeira panela de pressão e da qual a mesma explode independente do que aconteça.
Ao final, o mundo real bate forte na porta desses jovens sem muitas opções, mas cuja sua rebeldia e persistência chama a nossa atenção pela sua coragem de irem contra a um sistema que não aceita grandes ondas na água. Uma vez sendo feita cabe aqueles que se encontram presos ao sistema que comecem a ouvir esses excluídos e para que assim a maioria da sociedade possa, enfim, compreendê-los. Claro que nem todos terão a mente a aberta para pôr isso em prática, mas não significa que a batalha está perdida.
"Urubus" é um retrato de alguns indivíduos perdidos no mundo, mas que obtém algum caminho no momento que as suas pichações se tornam um curioso significado para outros.
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