Sinopse: A luta diária de trabalhadoras do sistema público de saúde brasileiro em defesa da vida, em um país abandonado por seu presidente.
Embora seja um crítico de cinema eu preciso de outros trabalhos para me sustentar, seguir em frente e obter recurso para continuar escrevendo a todo custo. Atualmente trabalho como Controlador de Acesso no trânsito desde novembro de 2019, sendo um trabalho que não me imaginava nele, mas me superei e me dei muito bem com ele. Porém, eu jamais me imaginava usar luvas e máscaras cirúrgicas durante esse processo, mas foi exatamente que aconteceu comigo e com muitas pessoas no decorrer do tempo.
A pandemia do Covid-19 nos colocou em um cenário que antes era somente visto nos filmes de ficção, mas cuja essa realidade veio e nos pegou com tamanha força que fico até mesmo surpreso por ainda estarmos aqui. Houve inúmeras perdas, das quais não podem ser esquecidas, mas também houve diversas vidas que foram salvas e muito se deve ao trabalho voluntário e principalmente vindo daqueles que trabalham pelo SUS, um sistema público de saúde eficaz e que jamais deve ser pensado em ser cancelado em nossas vidas. "Quando Falta o Ar" (2021) é um retrato sobre os primórdios da pandemia, mas nos revelando o quão árduo seria essa batalha.
Dirigido por Ana Petta e Helena Petta, ambas as cineastas decidiram que era necessário registrar a luta de mulheres na linha de frente do SUS, durante o combate à pandemia de Covid-19. Abordando a pandemia com foco nos diferentes tempos e dimensões envolvidas no cuidado em saúde, o longa revela a face humana da luta coletiva contra o vírus, trazendo a interseção da saúde com a religiosidade, a desigualdade social e o racismo estrutural presentes no país. O documentário apresenta registros de equipes atuantes em São Paulo (Hospital das Clínicas), Recife (UBS do Morro da Conceição), Pará (Hospital Municipal de Castanhal e equipe de saúde de Igarapé Miri) e Salvador (Complexo Penitenciário Lemos de Brito).
Com diversos planos-sequências, as cineastas seguem esses homens e mulheres corajosos, que vão para salvar e orientar uma população desorientada com relação ao que estava realmente acontecendo com o nosso país, pois ainda estávamos sendo governados por um governo que liderou a desinformação e não liberando medicamentos realmente eficazes contra a doença. É como se estivéssemos testemunhando uma força rebelde que quebra o sistema, pois ao fazer isso se preza em tentar salvar o maior número de vidas possível, pois a maioria já tem uma noção da enorme catástrofe que estará por vir. Portanto, não deixa de ser singelo quando vemos os mesmos em aconselhar as pessoas, com suspeita de ter contraído a doença, em permanecer em suas casas, mas de uma forma para que elas possam compreender gravidade que estávamos passando.
Cada pessoa apresentada em cena tem uma história para contar, desde um senhor de idade enfermo que possui diversos netos, como também os próprios deste serviço público que se encontram nesta batalha árdua e que deixam até mesmo a sua vida pessoal em segundo plano. Curiosamente, o documentário não se estende somente nas periferias ou nos hospitais, como também nos próprios presídios onde os prisioneiros podem estar sendo colocados como grupo secundário para serem salvos, mas que pedem por socorro e se abraçando a sua fé para continuarem vivos. Portanto, ao vermos um prisioneiro comemorando pelo fato de seu resultado ter dado negativo se torna um momento fortíssimo, pois o mesmo se vê com poucos recursos, mas tendo a sua fé intacta para se manter de pé e continuar respirando.
Neste último caso, infelizmente, testemunhamos os enfermos em seu leito, tendo dificuldade de respirar e nos provocando uma verdadeira aflição. Imediatamente as cenas me remeteram ao fato de que Manaus sofreu com a falta de oxigênio e tendo que escolherem com relação sobre quem viveria e quem morreria, pois o recurso não era para todos e não obtendo nenhuma ajuda daquele desgoverno. Não há como não se emocionar ao vermos uma enfermeira em pôr em prática todas as suas forças para reanimar uma pessoa que havia parado de respirar e tendo, ao menos, um pouco de satisfação quando viu que o seu esforço valeu a pena com todo o seu sacrifício.
Ao final, constatamos que esses heróis do mundo real ainda possuem a sua vida pessoal, mas da qual se torna apenas um local de repouso, pois o pedido de socorro pode chegar a qualquer momento. O documentário em si é uma representação de uma força contra o sistema, pois o próprio estava sendo viciado pela desinformação, fake news e por um homem que estava no poder que não estava nem aí pelas vidas humanas. Coube então a força dessas pessoas comuns que fizeram e ainda fazem a diferença.
"Quando Falta o Ar" é um documentário sobre o prelúdio com relação ao que viveríamos durante a pandemia, mas cujo esse cenário de horror foi combatido com força graças aos homens e mulheres do SUS.
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