Sinopse: Mulheres em uma colônia isolada lutam para se reconciliar com sua fé após uma série de agressões.
Embora vivemos em tempos de igualdade é notório que há também um retrocessos cada vez maior em nossa sociedade e do qual aflige principalmente as mulheres. Se existem filmes ou séries como, por exemplo, "Contos da Aia", é porque eles nos dizem que a ficção não está muito distante do nosso mundo real. "Entre Mulheres" (2022) fala sobre tempos não muito distantes, em que um grupo de mulheres procuram decidir qual é o melhor caminho para se trilhar, pois dominadas pelos homens isso é uma coisa que elas não podem mais suportar.
Dirigido por Sarah Polley, além de ser produzido e atuado por Frances McDormand, o filme é baseado no livro homônimo de Miriam Toews e inspirado em eventos reais ocorridos na colônia de Manitoba, na Bolívia, A trama é sobre mulheres de uma comunidade religiosa que lutam para conciliar sua fé com a realidade. Em 2010, as mulheres da comunidade isolada seguem a religião da igreja Menonita, e acabam descobrindo um segredo chocante sobre os homens da comunidade que controlaram suas vidas e fé. É revelado que os homens usaram anestésicos para drogar e estuprar mulheres e meninas durante a noite por muitos anos, às vezes resultando em gravidez.
O filme se torna forte em sua proposta principalmente se você for ir assisti-lo sem nenhuma informação, pois achamos em um primeiro momento que a trama se passa no século 19, quando na verdade ocorre em pleno século 21. Isso acontece porque a trama se passa em uma colônia isolada do mundo, onde a tecnologia quase não existe e fazendo com que a fé se torne a palavra dominante. Por outro lado, a fé em Deus se torna somente uma cortina de fumaça para o mundo dos homens, sendo que eles usam e abusam de suas mulheres e fazendo despertar nas mesmas o desejo de se questionar se aquele mundo ainda vale a pena em se manter nele.
Curiosamente, a presença dos homens é quase nula, sendo que quando eles aparecem são somente de costas ou nas sombras, pois se tornam pela perspectiva das protagonistas como verdadeiros monstros uma vez que praticam tamanho abuso. Somente August, interpretado pelo ator Ben Whishaw, é o que se torna a figura masculina constante, mas sendo alguém cheio de amor, com enorme conhecimento e que usa esses dons para ajudar as suas amigas a todo custo. Uma vez que as atrocidades acontecem elas decidem se reunirem em um celeiro é então que o filme toma forma como um todo.
Vale destacar a esplendida fotografia acinzentada, quase sem vida, como se aquele universo particular não houvesse muito perspectiva de tempos mais dourados. Há, por exemplo, a promessa da vinda como sempre de Jesus Cristo, da qual elas ainda possuem a crença nisso, mas que acabam começando a questionar por que acontece essas coisas quando Deus poderia protegê-las. O filme transita entre a lógica e a fé, onde a crença dá força para aquelas mulheres, mas não significa que ficaram cegas totalmente e abrindo as suas mentes com relação a possibilidade do que fazerem melhor para elas.
Com grande elenco, cada uma das personagens é interpretada por atrizes poderosas, das quais conseguem construir para elas mulheres fortes, mas que não escondem a sua fragilidade e cansaço perante horror que passaram. Destaque para Claire Foy e Rooney Mara, sendo que ambas não escondem a fúria em seus olhares perante a situação em que estão vivendo, mas também procurando a usar a lógica para não se rebaixarem perante os seus algozes. A violência, por sua vez, está sempre presente, mas nunca de forma explicita, mas sim nos revelando as suas consequências.
Vale destacar e muito os diálogos das protagonistas, sendo que eles são extensos, ao ponto de ficarmos nos perguntando qual será a sua conclusão, pois a reunião entre elas provoca desdobramentos impressionantes. Ao final, concluímos que não cabe aos homens decidirem os destinos das mulheres, pois elas próprias têm o poder para isso uma vez que o horizonte está bem na frente para ser explorado. Infelizmente o percurso é árduo, mas que precisa ser enfrentado.
Indicado a dois Oscar, incluindo Melhor Filme, "Entre Mulheres" fala sobre a força das mulheres com relação as suas escolhas e cuja decisão acontece no momento em que todas se unem para obterem novos rumos e abraçar a liberdade.
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