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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Cine Especial: Sessão do Clube de Cinema de Porto Alegre -- 'A Acusação'

Nota: Filme exibido para os associados no último Domingo (11/12/22)

Sinopse: Alexandre é um ótimo filho e todos o consideram um garoto amável e responsável. Durante uma breve visita a Paris, ele conhece Mila, a filha do companheiro de sua mãe, e a convida para uma festa. No dia seguinte, Mila acusa Alexandre de estupro. A polícia logo começa uma exaustiva investigação, o que destrói a harmonia da família. 

Desde que o produtor de cinema Harvey Weinstein foi preso pelos crimes de estupro cometidos pelo mesmo a Hollywood atual tem cada vez mais tocado no assunto e lançando filmes como uma espécie de pedido de desculpas para todas mulheres que sofreram com essa barbárie. No recente "Ela Disse", por exemplo, talvez seja um dos primeiros filmes em retratar esse período turbulento que sacudiu a cidade do cinema, porém, esse assunto delicado não se limita somente no território cinematográfico norte americano, mas sim para o outro lado do oceano. O francês "A Acusação" (2021) vem em um momento para escancarar o fato que talvez a Justiça ainda coloca em panos quentes sobre esse assunto, pois ainda tenta proteger os mais afortunados.

Dirigido por Yvan Attal, "A Acusação" é baseado no livro de Karine Tuil. A família Farel é incrível, Jean (Pierre Arditi é um eurudita francês, sua ex- esposa, Claire (Charlotte Gainsbourg), uma escritora feminista radical, juntos eles têm Alexandre (Ben Attal), um filho perfeito. Uma família perfeita. Quando Jean vai à Paris visitar sua mãe, conhece Mila (Suzanne Jouannet), filha do novo parceiro de sua mãe, e decide convidá-la para uma festa. No dia seguinte Jean descobre que Mila fez um boletim de ocorrência contra ele alegando que foi estuprada, destruindo a harmonia da família e promovendo uma briga judicial e midiática.

Mais do que um filme que explora o crime sobre abuso sexual, os realizadores foram até mesmo corajosos na questão sobre até que ponto a mulher é realmente abusada de acordo com a visão da Justiça. Curiosamente, as cenas que servem de prelúdio para o possível crime são apresentadas de forma fragmentada, como se os realizadores quisessem que nós mesmos tiremos as nossas próprias conclusões. Tudo em forma de capítulos, para que cada personagem central da trama pudesse ser bem apresentado diante dos nossos olhos e para que então tenhamos uma noção da formação e caráter de cada um deles.

Jean, por exemplo, é alguém poderoso vindo da mídia, do qual se envolve com jovens mulheres, mas não se dando conta sobre até que ponto as suas investidas são realmente corretas. A cena, por exemplo, em que ele se envolve sexualmente com a sua futura e jovem esposa obtemos então uma noção do que ele pode, ou não, ter ensinado ao seu filho ao longo dos anos e colocando diante de nós a expressão do rosto da jovem após essa cena. Aliás, esse momento é ambíguo, pois ficamos nos perguntando qual será em seguida a reação dela após se envolver com Jean e cuja as respostas não vem muito a tardar.

Ao mesmo tempo, o filme explora como os dois lados da moeda, seja esquerda ou direita, ao tratar sobre o assunto do abuso sexual atual e do qual se estende com relação aos imigrantes que vão para a França e que muitos deles são de origem de governos Patriarcados. Por conta disso, Claire se apresenta como uma personagem complexa, do qual culpa os imigrantes pelo aumento dos números de abuso sexual pelo país, mas não observando o fato que esses atos cometidos podem acontecer independente de qualquer nacionalidade que seja. Ao ver diante da possibilidade de ter um filho abusador ela acaba, então, encarando o próprio veneno diante da proliferação dos mais diversos discursos vindos da internet.

O terceiro ato do filme faz com que obra entre facilmente na lista do subgênero "Filmes de Julgamentos" e dos quais fazem com que nós não piscamos os olhos. Na medida em que o julgamento avança, concluímos que talvez a culpa esteja não somente dentro desse crime em si, como também da possibilidade da própria sociedade ser responsável pela formação de uma geração que não busca uma noção sobre quais são os verdadeiros limites com relação ao sexo e cujo o abuso realmente acontece quando se atravessa esse limite e se tornando então um verdadeiro crime. A cena final por si só é emblemática, pois talvez não cabe a nós somente tirarmos as nossas próprias conclusões sobre o que realmente tenha acontecido, mas sim como também os próprios envolvidos durante o ato.

"A Acusação" fala sobre o papel da Justiça perante um crime do qual coloca em xeque o status atual de uma sociedade genuinamente abusiva e hipócrita. 

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