Segue a programação do Clube de Cinema na próxima terça-feira.
CICLO NOVA HOLLYWOOD
Sessão comentada Clube de Cinema
(MOSTRA CINECLUBES - SALA REDENÇÃO)
ENTRADA FRANCA
Local: Sala Redenção, Campus Central da UFRGS
Data: 13/12/2022, terça-feira, às 19:00 horas
"Muito Além do Jardim" (Being There)
EUA, 1979, 130 min, legendado, 10 anos
Direção: Hal Ashby
Elenco: Peter Sellers, Shirley MacLaine, Jack Warden, Melvyn Douglas, Richard Dysart, Richard Basehart
Sinopse: Chance, um homem ingênuo, passa toda a sua vida cuidando de um jardim e vendo televisão, seu único contato com o mundo. Quando seu patrão morre, é obrigado a deixar a casa em que sempre viveu e, acidentalmente, é atropelado pelo automóvel de Benjamin Rand, um grande magnata que se torna seu amigo e chega a apresentá-lo ao Presidente. Curiosamente, tudo dito por Chance é considerado genial. Paralelamente a saúde de Benjamin está crítica e Eve Rand (Shirley MacLaine), sua esposa, se apaixona por Chance.
Sobre o Filme:
Hal Ashby foi um cineasta que possuía uma maneira incomum ao falar sobre as metamorfoses que os EUA estavam passando na década de 70. No seu longa "Ensina-me a Viver" (1971), por exemplo, fala sobre um casal inusitado em meio a uma sociedade norte americana alienada e que não sabia ao certo em que caminho trilhar em meio a tamanhas turbulências políticas e sociais. O seu clássico "Muito Além do Jardim" (1979) fala sobre um indivíduo que não possui nenhum peso sobre esse mundo do qual poderia carregar e fazendo com que ele se torne incomum aos olhos de uma sociedade cansada e mastigada pelo sistema que os mantem presos.
Baseado no livro do escritor polonês Jerzy Kosinski, o filme conta a história de Chance (Peter Sellers), um homem ingênuo, que passa toda a sua vida cuidando de um jardim e vendo televisão, seu único contato com o mundo. Ele nunca entrou em um carro, não sabe ler ou escrever, não tem carteira de identidade, resumindo: não existe oficialmente. Quando seu patrão morre, é obrigado a deixar a casa em que sempre viveu e, acidentalmente, é atropelado pelo automóvel de Benjamin Rand (Melvyn Douglas), um grande magnata que se torna seu amigo e chega a apresentá-lo ao Presidente (Jack Warden). Curiosamente, tudo dito por Chance ou até mesmo o seu silêncio é considerado genial. Paralelamente a saúde de Benjamin está crítica e Eve Rand (Shirley MacLaine), sua esposa, se apaixona por Chance.
A primeira vez que eu assisti ao filme ele me fez lembrar de "Forrest Gump" (1994), já que ambos os protagonistas são inocentes perante a realidade em que vivem. Porém, Chance vai muito mais além, já que é uma pessoa que nunca havia tido contato com o exterior, a não ser através da TV e agindo de acordo com que viu ao longo dos anos através desse meio de comunicação. Curiosamente, o filme veio em um momento em que o cinema estava fazendo até mesmo uma crítica acida com relação aos meios de comunicação, pois basta pegarmos o clássico da época "Rede de Intrigas" (1976) para termos uma noção da dimensão sobre a manipulação que o indivíduo passava devido a disputa pela audiência televisiva.
Porém, Chance não é uma pessoa exatamente moldada por esses meios, mesmo sendo uma forma dele se comunicar com o mundo exterior, mas sim alguém que responde tudo de uma forma franca e fazendo os demais em volta se perguntarem de que buraco essa pessoa surgiu, ou se realmente existiu. Esses demais personagens em volta dele, por sua vez, já estão mais do que mastigados em meio as inúmeras informações, corrida contra o relógio, a busca pelo poder e uma chance pelo reconhecimento. Chance, por outro lado, age como se a recém tivesse nascido e agindo com naturalidade perante esse mundo louco.
Conhecido pelas comédias clássicas como "A Pantera Cor de Rosa" (1963) e da obra prima "Dr. Fantástico" (1964), Peter Sellers obtém aqui a melhor atuação de sua carreira, ao construir para si um personagem que transita entre a ingenuidade e ao mesmo tempo transmite uma sabedoria através de sua simplicidade para uma sociedade que começou a desconhecer a real beleza da vida mais simples. Se naqueles tempos essa mesma sociedade já estava mais do que presa ao jogo político ou um sistema capitalista ferrenho, o que dizer da geração de hoje cada vez mais presas em seus celulares e que se esquecem de apreciar o céu acima de suas cabeças.
O filme possui um elenco de peso, onde se destaca uma Shirley MacLaine mais bela do que nunca e cuja a curiosidade de sua personagem pelo protagonista irá leva-la para uma noite de amor inusitada. Aliás, é interessante como o filme descreve o sexo daqueles tempos, sendo uma sociedade que cada vez mais se encontra impotente devido ao estresse do dia a dia e procurando meios para obter o prazer há tanto tempo perdido. Isso rende situações hilárias, como no caso, por exemplo do Presidente do país que fica cada vez mais perdido sobre quem é Chance e não podendo satisfazer a sua própria mulher.
O filme possui também uma tocante interpretação do veterano Melvyn Douglas, que interpreta o empresário que acolhe o protagonista em sua casa, mas mal sabendo de sua verdadeira pessoa. Aliás, o mistério sobre a real natureza do personagem central resiste até o seu minuto final, quando vemos o mesmo caminhar calmamente em uma lagoa sem afundar e fazendo com que até hoje muitos tenham diversas interpretações sobre a enigmática cena. Ao meu ver, enquanto os demais personagens se encontram pesados e presos sobre os rumos da vida em que irão tomar no país, o protagonista, por outro lado, se encontra livre de toda essa bagagem e seguindo em frente sem nenhuma direção exata, mas que com certeza obterá uma nova aventura na vida.
"Muito Além do Jardim" é sobre alguém desprendido do mundo sistemático enquanto os demais já estão mais do que perdidos e presos em suas próprias ambições e o que fazem se tornarem menos humanos.
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