Na era de ouro do cinema norte americano a toda poderosa Warner lançava, ao menos, um filme por semana e fazendo com que facilmente alguns deles entrassem para a história. Cada filme pertencia há um gênero, mas havia um ou outro que era muito difícil de ser classificado. A obra prima de Michael Curtis, "Casablanca" (1942) é um dos desses casos que muitos até hoje se perguntam de qual gênero o filme pertence, pois ele acabou se tornando algo único e que talvez não pertença em nenhum grupo especifico.
Nunca me esqueço, por exemplo, sobre uma lista dos melhores filmes de Guerra de todos os tempos, do qual a saudosa Revista Set de cinema havia lançado em uma edição e que "Casablanca" estava incluso. Não demorou para que muitos leitores começassem a questionar a escolha, já que na época quando se falava sobre filme de guerra muitos se lembravam de bombas, tiros e mortes e principalmente após o ótimo "O Resgate do Soldado Ryan" (1998). Talvez o questionamento nasça pelo fato que a maioria dos cinéfilos se lembrem de “Casablanca” unicamente pela sua história de amor e não pelo conflito global que servia de pano de fundo para a trama principal. Se formos pensar mais a fundo todos os personagens envolvidos se conhecerem através da invasão da Alemanha nos demais países Europeus e criando assim uma segunda guerra em que os personagens enfrentam, mais especificamente por sentimentos e conflitos internos não resolvidos.
Rick Blaine (Humphrey Bogart) se apresenta como um dono de um bar e de jogos na cidade Casablanca de Marrocos, local onde muitos Europeus estão fugindo devido a onda nazista que se alastra. Frio e calculista, o personagem baixa a sua guarda no momento em que revê um amor de seu passado, Ilsa Lund (Ingrid Bergman) e que hoje é casada com o francês Victor Laszlo (Paul Henreid) soldado da resistência contra os nazistas. Não demora muito para que, aos poucos, o roteiro nos revele o passado do casal central e dos quais os mesmos se conheceram um dia em Paris.
Basicamente é uma história de amor como tantas que a era de ouro poderia nos oferecer para a época, mas sendo incrementado elementos que fizeram a diferença. Com grande elenco, a produção possui uma das produções mais caprichadas naqueles tempos, tanto é pelo fato que os atores jamais pisaram em Marrocos, pois toda a trama foi rodada em estúdio, mas o perfeccionismo dos realizadores foi tamanho que muitos até hoje acreditam que realmente a trama foi rodada na verdadeira Casablanca. Vencedor de somente três Oscars na época, incluindo Melhor Filme, é pouco para uma produção que nos conquista pela sua beleza visual e de sua história de amor.
Vale salientar que o filme é carregado de diversas fórmulas de sucesso do "subgênero Noir", que na época estava em abundância e a escolha de Humphrey Bogart como protagonista era mais do que óbvia. Afinal, o astro recém havia obtido um grande sucesso com o clássico "O Falcão Maltes" (1941), obra máxima de John Huston e do qual Bogart provou que nasceu para interpretar um detetive durão e imprevisível. Embora longe de ser uma trama policial, não há como negar que visualmente o filme nos prega essa ideia e com o astro em cena essa sensação somente se acentua.
Fugindo das damas fatais da época, Ingrid Bergman apresenta a sua personagem Ilsa Lund como alguém que desde a sua primeira cena já constatamos que ela se encontra em desespero interno e que conhecemos um pouco dele através do personagem cantor e pianista Sam (Dooley Wilson), amigo de Rick e que toca o seu piano no bar local. No momento em que ambos se encontram Ilsa pede para Sam cantar a música "As Time Goes By" e é então que ela e Rick finalmente se reencontram. Vale destacar que essa música entrou para a história do cinema, ao ponto de se tornar um símbolo do estúdio Warner e fui conhece-la muito antes de assistir ao clássico, mais especificamente em um clipe em que reunia diversas cenas dos clássicos do estúdio e que se encontrava nas fitas de VHF que eu alugava.
Como todo grande clássico, há diversas cenas que fizeram o filme entrar facilmente para a história do cinema, mas nenhuma se iguala com a cena final da pista de voo de Casablanca. O protagonista sacrifica o seu amor por um bem maior e permite que Ilsa e Victor partam para os EUA para fugir dos nazistas. Neste momento, o protagonista está pronto para sofrer as consequências nas mãos da Gestapo, mas sendo salvo pelo Capitão Renault (Claude Rains). Ao fim, vemos o protagonista testemunhando o avião partir, mas tendo o consolo de formar uma bela amizade com Renalt e fazendo o filme se encerrar com chave de ouro.
"Casablanca" é aquele típico clássico onde você não conhece pela primeira vez quando o assiste, mas sim através de homenagens e referencias do mesmo dentro de outros filmes, desenhos e séries de tv. Portanto, se você testemunhar alguém tocando "As Time Goes By" conhecerá uma parte da lenda antes mesmo de conhece-la. "Casablanca", não pertence a um gênero especifico, mas sim se encontra inserido nos simbolismos da sétima arte como um todo.
Nota: O filme terá Sessão Especial amanhã as 19 horas na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre.
Faça parte:
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948
Nenhum comentário:
Postar um comentário