Sinopse: Quando André, de 85 anos, sofre um AVC, Emmanuèle corre para junto do pai. Na sua cama de hospital, doente e com metade do corpo paralisado, André pede à filha que o ajude a pôr fim à sua vida. Mas como poderá Emmanuèle honrar tal pedido quando se trata do seu próprio pai?
François Ozon talvez seja um dos diretores franceses mais interessantes dos últimos tempos, pois embora seja um cineasta autoral ele não fica preso em um único gênero. Se "Oito Mulheres" (2002) era um filme policial alinhado com humor, "O Amante Duplo" (2017) era um curioso estudo sobre sentimentos reprimidos e alinhados com um caprichado suspense psicológico. Em "Está Tudo Bem" (2021) adentra em um assunto delicado, mas alinhado com toques de humor com um drama refinado.
No filme, (André Dussollier) um senhor com a saúde cada vez mais debilitada, decide que não quer mais continuar a viver. A partir dessa decisão, ele inicia uma mobilização para conseguir o direito à uma morte assistida numa clínica na Suíça, e precisará enfrentar suas duas filhas relutantes, interpretadas pelas atrizes Sophie Marceau e Géraldine Pailhas. O filme, além de abordar a questão da eutanásia, conta a história de uma família em busca de entendimento acerca da vida e da morte.
Se no premiado "Meu Pai" (2020) testemunhamos a dura cruzada de um idoso que se encontra perdendo as suas lembranças e sua própria razão, François Ozon propõem nos colocar a frente na questão da Eutanásia, da qual ainda hoje é um grande tabu por parte de uma sociedade mais conservadora e religiosa, mas sendo uma solução para não adentrar uma jornada mais dolorosa. Não será a primeira e nem a última vez que o cinema abordará esse assunto enquanto a sociedade em geral não chegar ao bom senso.
Polêmicas a parte, o primeiro ato nos apresenta a situação em que ambas as irmãs se encontram perante algo inevitável, sendo que a personagem de Sophie Marceau é a mais dedicada aos cuidados do pai. Porém, ao mesmo tempo que ela se entrega de corpo e alma ao desafio, por outro lado, ela precisa exorcizar as dores devido as lembranças do passado, principalmente pelo fato que ela e seu pai tiveram diversos atritos. Isso é salientado devido a questão da mãe, brilhantemente interpretada pela atriz veterana Charlotte Rampling, mas tendo uma participação curta, porém, importante para o desenvolvimento da trama.
Ao longo da história, achamos que o filme ficará cada vez mais pesado devido ao tema. Contudo, François Ozon consegue obter uma curiosa transição de momentos dramáticos para alguns pontos de humor e isso se deve justamente ao ótimo desempenho de André Dussollier, cuja a figura de seu personagem oscila de uma pessoa frágil para mais dura e imprevisível. Isso acaba nos provocando diversos sentimentos com relação ao personagem, desde pena, amor e raiva e fazendo a gente se identificar rapidamente com as situações apresentadas na trama.
Do segundo ao terceiro ato, acreditamos até mesmo que ele vá desistir da ideia de tirar a sua vida, já que o seu humor muda no decorrer da trama, principalmente por estar se interagindo ainda mais com as filhas. É claro que no fundo nós desejamos que isso aconteça, já que chega um determinado ponto da história que já estamos mais do envolvidos com os personagens e desejando que o ponto final da trama não chegue. Quando chega ele é indolor, já que as partes presentes da trama se encontram em plena consciência que chegaram aos seus objetivos e tendo, enfim, o dever comprido.
"Está Tudo Bem" fala sobre os dilemas do ser humano quando chega em um ponto crucial da vida e sobre qual é a melhor maneira de se enfrentar ela.
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