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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 10 de junho de 2019

Cine Especial: ‘Suspíria' - Em Dois Atos e em Dois Tempos


Exibido atualmente na Cinemateca Capitólio Petrobras na sessão das 15h45min, o filme “Suspíria - A Dança do Medo” (2018) me chamou atenção por ser um filme que fala muito mais sobre a época em que a trama se passa do que o próprio clássico Suspíria (1977) de Dario Argento. Pensando nisso, decidi fazer uma análise sobre os dois filmes e vocês tendo a chance de tirarem as suas próprias conclusões.  

'Suspíria - A Dança do Medo' (2018) 

Sinopse: Susie Bannion (Dakota Johnson), uma jovem bailarina americana, vai para a prestigiada Markos Tanz Company, em Berlim. Ela chega assim que Patricia (Chloë Grace Moretz) desaparece misteriosamente.  

Entre os anos 60 e 70 o cinema de horror mudou, já que as pessoas do mundo real não se assustavam mais com vampiros ou com lobisomens. Em tempos de escândalos políticos, guerras e o aumento da criminalidade das grandes metrópoles que se alastrava, o público não perdia mais o seu tempo com monstros fictícios, pois o mundo real já era muito mais perigoso. Foi também um tempo em que as pessoas pregavam a paz e o amor, explorando cada vez mais o lado positivo da natureza e experimentando os prazeres do sexo e das drogas.
Coube os realizadores observarem essas mudanças encontradas dentro da sociedade e fazendo com que os seus filmes adquirissem uma linguagem da qual o público se identificasse. Talvez, o melhor filme de terror que soube sintetizar aqueles ventos da mudança foi "O Homem de Palha" (1973), de Robin Hardy, do qual colocava um policial obcecado em suas crenças perante uma comunidade que abraçava os prazeres da carne, do misticismo e do lado oculto da natureza.
Curiosamente, estamos passando por um período semelhante, em que os filmes de horror  continuam transitando para o lado do fantástico, mas fortalecendo uma releitura sobre o que realmente causa medo nas pessoas em tempos de contemporâneos. É o que chamamos do movimento "Pós Terror", do qual são filmes que exploram os medos vindos do mundo atual e transitando em alguns casos pelo gênero fantástico, mas servindo somente como pano de fundo. Títulos como "A Bruxa" (2015), "Corra"(2017), "Ao Cair da Noite" (2017), Hereditário (2018) e o recente "Nós", dos quais são filmes que nos pegam desprevenidos e que falam um pouco sobre os nossos temores vindos do mundo em que vivemos.
É aí que chegamos a “Suspíria - A Dança Do Medo” (2018), do diretor Luca Guadagnino, do filme "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017). Alardeado como refilmagem de Suspíria (1977), do diretor Dario Argento, Luca Guardagnino optou em pegar o básico daquele clássico, porém, expandi-lo para um novo formato e que obtivesse sua identidade própria. O resultado é um filme completamente diferente da obra de 1977, mas representando muito bem aquele clima que os filmes de horror tinham e falando um pouco sobre o próprio mundo daqueles tempos longínquos.
Se passando também no ano de 1977, o filme conta a história de Susie (Dakota Johnson), uma jovem bailarina americana, que vai na conhecida  Markos Tanz Company, em Berlim. Ela chega assim que Patricia (Chloë Grace Moretz) desaparece de formas misteriosas. Tendo um progresso espantoso, com a orientação de Madame Blanc (Tilda Swinton), Susie acaba fazendo amizade com outra dançarina, Sara (Mia Goth), que compartilha com ela os segredos que rondam aquele lugar.
O filme já começa de uma forma mórbida, graças a curta, porém, interessante atuação de Chloë Grace Moretz em cena. Além disso, o filme abre com uma belíssima trilha sonora que fala um pouco até mesmo das músicas daquele ano de 1977, da qual ressoa e fica em nossa memória. Conhecido pelo trabalho no "Radiohead", Thom Yorke trabalhou nas trilhas dos documentários "The UK Gold" (2015), além de "Watershed: Exploring a New Water Ethic for the New West" (2012) e aqui faz um trabalho sublime e fazendo com que a gente não se esqueça facilmente.
Após essa abertura, o público adentra naquele universo sombrio ao lado da protagonista Susie e que, aos poucos, vai se misturando com aquele ambiente como um todo. O filme não demora muito para nos dizer para que veio, mas com um clima mórbido e não poupando os nossos olhos: a cena em que uma personagem é toda manipulada através da dança e terminando de uma forma grotesca sintetiza muito bem isso.
Mas embora o horror fantástico, por vezes gore, domine em alguns pontos do filme, é curioso que a trama possua um pouco dos fatos verídicos acontecidos naquele tempo. Como ela se passa em Berlim, por exemplo, o muro em si acaba surgindo e representando os conflitos políticos daquele período na Alemanha e no mundo. Aliás, o psiquiatra Dr. Jozef Klemperer, impressionantemente interpretado pela atriz Tilda Swinton, já é uma vítima desde o princípio devido as guerras vindas do mundo real e fazendo a possibilidade de ele adentrar ao universo de bruxos acabe se tornando mero detalhe espinhoso.
Visualmente, o filme é único como um todo, onde as cenas das alunas dançando, principalmente nos momentos com Dakota, se tornam algo indispensável. A violência em si se faz presente, mas ela se concentra muito mais em seu ato final, da qual se difere do original e se tornando ainda muito mais assustador. É como se estivéssemos assistindo ao recente "Climax", do cineasta Gaspar Noé, mas moldado com muito sangue, morte e com um final anti-hollywoodiano que irá dividir completamente o público.
"Suspíria - A Dança do Medo" é mais do que uma mera refilmagem, mas sim uma releitura melhorada de um clássico e que fala um pouco das mazelas do nosso próprio mundo.




Suspiría (1977) 

Sinopse: Suzy (Jessica Harper) é uma jovem americana chega em Fribourg para fazer cursos em uma academia de dança de prestígio. A atmosfera do lugar, estranho e perturbador, acaba surpreendendo a garota.  

O cinema de horror Italiano se sobressaiu entre anos 60 e 70, ao criar uma aura atmosférica, por vezes, gótica e com um clima de pesadelo constante. Nestes filmes se destaca a violência chocante, um clima quase gore, cuja a fotografia com cores quentes fazia com que as tramas se separassem do mundo real. Dario Argento e Mario Bava, por exemplo, foram um dos pilares dessa tendência, sendo que o primeiro se destacou com esse "Suspíria" (1977), um filme que daria origem a trilogia "As Três Mães", que incluí ainda Inferno e O Retorno da Maldição - A Mãe das Lágrimas.
A trama acompanha os passos de Suzy (Jessica Harper), um jovem que chega a Fribourg  para ser aluna de uma escola de dança de destaque. Contudo, estranhas mortes começam acontecer na escola, fazendo com que ela desconfie que há algo a mais naquele lugar. A situação piora ainda mais no momento em que a sua colega de quarto Sara (Stefania Casini) suspeita que as professoras possam ser na realidade bruxas.
Visualmente, o filme parece uma continuação de "Seis Mulheres para o Assassino" (1964), do diretor Mario Bava, onde as cores se mesclam com um cenário que mais parece saído de um filme do expressionismo alemão. Logicamente que isso é mais do que proposital, já que Argento cria aqui um clima angustiante para a personagem principal, como se ela entrasse em uma espécie de transe e do qual quase nunca acordasse. O resultado é um filme em que, como um todo, parece um labirinto colorido, porém, nada reconfortante, como se fosse um conto de fadas que não parece que acabará bem.
Para os entendedores de cinema daquela época, é perceptível que Argento pegou carona com os sucessos daquele tempo, em que os filmes de terror cada vez mais abraçavam o lado do mistíssimo, magia negra e exorcismo. Claro que isso explodiu quando "O Exorcista" (1973) foi lançado na época, mas que nem todos obteram o mesmo resultado. O próprio Mario Bava, por exemplo, teve o seu filme "Lisa e o Diabo" (1973) mutilado pelos produtores e para que ele fosse lançado com cenas de exorcismo.
No caso de "Suspiría" de Argento, a sua proposta para explorar o lado sombrio do universo das bruxas estava ali desde o princípio. Porém, o filme envelheceu um pouco mal em alguns pontos, como no caso dos seus minutos finais, que mais parecem que saíram dos filmes clássicos do estúdio inglês Hammer. Isso não enfraquece o potencial do filme, mas não acho que funcionaria nos dias de hoje.
Com o passar do tempo "Suspíria" ganhou status de filme cult e sendo reavaliado pelos fãs do gênero de horror ao longo do tempo.   

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