Sinopse: Enquanto o Rio de Janeiro vive um de seus momentos mais difíceis em relação a segurança pública, aqueles que convivem diariamente com a violência e o medo da morte fazem de tudo para que consigam sobreviver mais um dia.
Abertura da obra já nos mexe, pois ela se coloca contextualizando a criminalização histórica do povo negro que, mesmo após o fim da escravatura, permaneceu nas margens da sociedade branca e que até hoje sofre com um preconceito, seja pelo próprio estado, ou vindo das classes sociais que se acham os donos do mundo. “Relatos do Front” nos apresenta o dia a dia das favelas, onde todos os lados perdem nessa realidade nua e crua.
O documentário é certeiro ao trazer as duas faces da mesma moeda: o policial que mata e morre, que é pobre e negro da mesma periferia e que mata o próprio povo sob o comando de um estado que ganha votos com a guerra sem sentido. Pelo outro lado, o quase sempre negro, da favela, seja ele um traficante que porta o fuzil, ou um simples morador, estudante ou uma criança inocente, que morrem neste mesmo conflito, sem nenhuma boa expectativa para o futuro. E o que o estado ganharia alimentando isso? O estado atualmente lucra com um sistema que se encontra falido.
O documentário coloca na mesa sobre dados, que trazem em estatísticas o atual quadro da violência no estado do Rio de Janeiro, para destrinchar a situação e compreender sobre os que vivem nesta realidade e trazendo uma visão dos dois lados desse conflito infinito. Isso é mostrado de uma forma mais do que explicita com gravações verdadeiras, a maior parte delas durante os conflitos nas favelas, além das manchetes da imprensa e criando um mosaico de informações a todo o momento visto na tela.
Vale destacar que o documentário deixa mais do que claro que faz uma dura crítica contra o próprio estado e de como são feitas as políticas de combate a violência, por vezes, ineficazes e desastrosas. E essa crítica não se limita a realidade atual, pois ela busca em uma linha do tempo sobre a formação da polícia, passando pelos tempos de chumbo, da redemocratização e o estado atual. Com uma trilha sonora dramática, ela insere um ar de dramaticidade para obra e fazendo que os momentos documentados se tornem ainda muito mais dramáticos.
Renato Martins acerta nos depoimentos de suas escolhas, de como a edição das cenas vieram e iniciando com a visão de cada lado separadamente. Seguindo uma leitura especializada e posteriormente com pessoas que vivem no cotidiano de forma ativista em misto com aqueles que também vivem o mesmo cotidiano, mas que sofreram consequências dessa violência. Como um retrato real do Rio de Janeiro, e um reflexo de um país como um todo, “Relatos do Front” deve ser assistido e pensando, principalmente para a parcela de um povo que apoia essa política de confronto ou aqueles que acreditam que uma arma em casa vai resolver todos os problemas de um país moribundo.
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