Sinopse: Jean e Fabiana são namorados, que cursam o último ano do ensino médio em uma pequena cidade do interior e vivem o típico dilema de deixar a cidade em busca de um novo destino ou ficar e continuar a história dos seus pais. Após passarem o dia juntos, Jean toma uma decisão inesperada e Fabiana desaparece. Dois anos depois Daniel e Alanis tentam entender o que está por trás do que aconteceu.
Quando se é jovem é uma época de emoções a mil. Acontecem mudanças graduais, desde a forma de pensar e tendo planos para o futuro, mesmo quando alguns planos, infelizmente, não acontecem. Com isso, há o nascimento de insegurança com relação ao futuro, se criando um lado precipitado e culminando em decisões, por vezes, irreversíveis.
Baseado no livro "Hoje Está um Dia Morto" de André de Leones, "Dias Vazios", filme de estreia do diretor Robney Bruno Almeida, traz jovens protagonistas nessa fase da vida, sendo que a situação se complica ainda mais pelo fato de viverem uma cidade esquecida por Deus. Isso faz com que aja uma sensação de desesperança, rebeldia, tanto pelo fato de não gostar no lugar onde vive, como também a sempre falta de oportunidades que quase nunca surgem. Se cria, portanto, uma sensação de angustia e que acaba envolvendo os jovens protagonistas com força.
Envolvidos nesse clima mórbido vindo desse cenário, Jean e Daniel acabam possuindo uma ligação, mesmo que indiretamente, e vivendo em tempos diferentes do local. Daniel está escrevendo um livro sobre a história de Jean e sua namorada Fabiana, ao mesmo tempo em que ele próprio precisa lidar com sua conflituosa relação com a namorada Alanis. Curiosamente, a trama nos leva de uma maneira que não saibamos separar ambas as histórias, já que elas são bem parecidas em situações familiares. Isso se fortalece principalmente nas conversas com a freira do colégio onde os jovens estudam, e que, aparentemente, há uma repetição em ambos os casos, principalmente com relação a freira, cujo o seu discurso de alto ajuda, por vezes, se repete em ambos os casos.
Dividido em três arcos, o filme vai revelando a ligação das duas tramas, mesmo que isso não seja o foco principal da obra. Nem mesmo o caso do desaparecimento de Fabiana em suas versões vistas no filme sejam algo indispensável para ser analisado. O que conduz o filme como um todo é a inevitável sensação de beco sem saída, como se não houvesse lugar para escapar daquele lugar e obtendo um futuro indefinido por assim dizer.
Ainda que não vá ao ponto sobre os sentimentos complexos dos personagens, a trama traz algo verossímil para a tela e que nos envolve por completo. Mesmo em situações, cuja as atitudes são inconsequentes, elas acabam soando verdadeiras e fazendo com que a gente se identifique com elas. Isso faz com que engrandeça os arcos e fazendo com que se tornem bem realizados.
Esse pensamento se fortalece ainda mais na medida que a história de Fabiana e Jean é contada a partir do livro que Daniel está escrevendo. Isso faz com que se nasça inúmeras possibilidades sobre o que vai acontecer, principalmente pelo fato que tudo que ele escreve pode não ter sido ou tão pouco irá acontecer. Todo esse clima de angústia é elaborado também nas escolhas de imagens, momentos e até mesmo objetos de muito significado.
O fato da freira que conversa com os jovens, por exemplo, culminando dela quase sempre fumar, sintetiza o seu lado fraco e também traz um vel que encobre diversas possibilidades sobre o destino de alguns personagens. "Dias Vazios" é um filme poético e bem construído, crescendo em nossos pensamentos e nos fazendo refletir sobre o nosso mundo.
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