Todos os Homens do Presidente
Nos últimos dias o
povo brasileiro está sendo bombardeado por notícias das quais estremecem os
alicerces de nossa política e afetando então a tão fina e frágil camada de
confiança que ainda tínhamos por ela. Em meio a denúncias, com ou sem provas,
além das delações premiadas, a mídia, para o bem ou para o mau, vem tendo um
papel fundamental para que as pessoas se mantenham informadas com relação
aqueles que nos governam. Mas até onde tudo isso é verídico?
Nem vou me estender
com o fato de que há meios de comunicação atuais, por exemplo, que decidiram
usar os seus recursos para formar um verdadeiro circo, independente de haver ou
não provas concretas contra determinados políticos, desde que isso molde a
mente das pessoas e nasça então um lucro para a fonte graças a audiência. Felizmente já
se foi o tempo em que os nossos recursos para se informar eram limitados, pois
temos a internet, por exemplo, para então pesquisarmos em fontes confiáveis e
formarmos uma opinião própria com relação ao que está acontecendo. Mas o jornalismo,
seja parcial ou imparcial, não é novidade no nosso mundo atual, pois o cinema
já fez questão de mostrar que esse cabo de guerra já dura há muito tempo.
Abaixo, segue cinco filmes essenciais e que refletem o que os brasileiros
passam atualmente em meio a esse furacão de acontecimentos imprevisíveis.
A Montanha dos Sete Abutres (1951)
Sinopse: Repórter
inescrupuloso (Kirk Douglas) explora o drama de um homem preso em uma mina
(Richard Benedict). Ao perceber que esta reportagem pode ser a chance
profissional de sua vida, transforma a operação de resgate em um assunto
nacional, atraindo milhares de curiosos, cinegrafistas de noticiários e
comentaristas de rádio, fazendo uso dos piores expedientes éticos.
Denuncia atroz da
chamada imprensa marrom, aquela que vive do sensacionalismo. E não para nisso:
a história, co-escrita e produzida pelo próprio Billy Wider, acaba afirmando
que esta situação dá ao público o que ele quer. Se a venalidade é suavizada por
certos personagens e comportamentos dramáticos, a narrativa sufoca o espectador
do começo ao fim. Controlado pelo diretor, Douglas tem uma excelente
interpretação até o último segundo de projeção.
Todos os homens do
presidente (1976)
Sinopse: Carl
Bernstein (Dustin Hoffman) e Bob Woodward (Robert Redford), jornalistas do
Washington Post, investigam a invasão da sede do Partido Democrata, ocorrida
durante a campanha presidencial dos EUA, em 1972. O trabalho acabou sendo um
dos principais motivos da renúncia do presidente Richard Nixon, do Partido
Republicano, em 1974. Foi o famoso escândalo de Watergate.
Belo e ágil drama
político, que muitos consideram como um dos melhores filmes sobre o tão falado
escândalo de Watergate que, curiosamente, foi feito pouco tempo depois após á
polêmica que abalou os EUA. A forma como o filme é construído em que recria a
investigação dos repórteres passo a passo, com certeza ao longo do tempo, serviu
de base para a criação de outros filmes sobre investigação, como no caso de
Zodíaco de David Fincher. Infelizmente, o diretor Alan J. Pakula só voltaria a
fazer um filme tão significativo como esse em A escolha de Sofia, mas depois
disso, os outros títulos podem ser considerados dispensáveis.
Outra coisa que
ajudou e muito no filme é a química quase contagiante, da parceria de Dustin
Hoffman e Robert Redford em cena, onde ambos os personagens que eles
interpretam se completam, ao investigar a fundo o importante caso da trama.
Muito embora, Jason Robards (Era uma vez no Oeste), roube a cena a cada momento
que surge e não é a toa que recebeu um merecido Oscar de ator coadjuvante.
Rede de Intrigas
(1976)
Sinopse: Apresentador
de noticiário (Peter Finch) recebe a notícia de que está demitido em razão dos
seus baixos índices de audiência. Um dia, com o programa no ar, comunica a sua
saída da emissora e avisa que se matará na próxima semana, quando o programa
estiver no ar. É imediatamente afastado, mas o público pede a sua volta e como
a rede estava com problemas de audiência resolve lançá-lo. A partir de então
ele passa a encarnar o profeta louco, mas mesmo tendo um comportamento insano a
recepção do público é altamente positiva. No entanto, as pessoas responsáveis
pela sua ascensão agora querem detê-lo.
Apesar de alguns
clichês na trama e nos personagens, o filme é uma sarcástica e absorvente
crônica sobre os bastidores da TV. A eterna luta pela audiência e a ligação
umbilical que ela tem com a apelação e a falta de propósito. Lumet foi um dos
primeiros a retratar com profundidade e nenhuma inocência o que pode acontecer
nos corredores da notícia. O limite entre o ousado, o cinismo, a histeria e a
falta de noção completa dentro de uma rede de televisão que quer tudo menos
perder telespectadores. Oscar de melhor
ator para Peter Finch (que acabou morrendo dias antes da cerimônia), atriz e
atriz coadjuvantes para as atrizes Faye Dunaway e Beatrice Straight e melhor
roteiro para Paddy Chayefsky.
O Informante (1999)
Sinopse: Em 1994,
ex-executivo da indústria do tabaco concedeu entrevista bombástica ao programa
jornalístico 60 Minutos, da rede americana CBS. Dizia que os manda-chuvas da
empresa em que trabalhou não apenas sabiam da capacidade viciadora da nicotina
como também aplicavam aditivos químicos ao cigarro, para acentuar esta
característica. Na hora H, porém, a CBS recuou e não transmitiu a entrevista,
alegando que as consequências jurídicas poderiam ser fatais. Baseando-se nesta
história real, O Informante narra a trajetória do ex-vice-presidente da Brown
& Williamson Jeffrey Wigand (Russell Crowe) e do produtor Lowell Bergman
(Al Pacino), que o convenceu a falar em público.
Há dois conflitos
fortes nesta produção finalista em sete categorias do Oscar: uma é o que
atormenta o executivo Jeffrey (Crowe) em função do seu antigo emprego, o outro
aparece nas ameaças da emissora que emprega o produtor Lowell (Pacino). Nesta
parte, o filme ganha vigor, apesar dos clichês de suspense, algumas vezes
desnecessários e que parecem trapaça narrativa. Há um grande desempenho de
Christopher Plummer como o apresentador Mike.
ZODÍACO (2007)
Sinopse: 1º de agosto
de 1969. Três cartas diferentes chegam aos jornais San Francisco Chronicle, San
Francisco Examiner e Vallejo Times-Herald, enviadas pelo mesmo remetente. A
carta enviada ao Chronicle trazia a confissão de um assassino, dando detalhes
da morte de 3 pessoas e da tentativa de homicídio de outra, com informações que
apenas a polícia e o assassino poderiam saber. As três cartas formavam um
código que supostamente revelaria sua identidade ao ser decifrado. O assassino
exigia que as cartas fossem publicadas, caso contrário mais pessoas morreriam.
Um casal de Salinas consegue decodificar a mensagem, mas é Robert Graysmith
(Jake Gyllenhaal), um tímido cartunista editorial, que descobre sua intenção
oculta: uma referência ao filme "Zaroff, o Caçador de Vidas" (1932).
Os assassinatos e as cartas se sucedem, provocando pânico na população de San
Francisco. A situação faz com que os detetives David Toschi (Mark Ruffalo) e
William Armstrong (Anthony Edwards) e o repórter Paul Avery (Robert Downey
Jr.), que trabalham no caso, tornem-se celebridades instantâneas. Graysmith,
que trabalha no mesmo jornal de Avery, apenas ajuda quando lhe é permitido. Mas
o Zodíaco, como o assassino era chamado, estava sempre um passo a frente.
Baseado em fatos reais
sobre os assassinatos em massa que aconteceu devido ao assassino que auto se
dominava zodíaco. Até hoje não fica muito claro quem foi ele realmente e o que
o filme de David Fincher tenta fazer é trazer uma luz de verdade dessa estranha
história. Por alguns momentos, o filme lembra as investigações retratadas em
filmes como Todos os Homens do Presidente e JFK, mas o filme fala por si graças
a agilidade do diretor em contar a longa história sem cansar.
Destaque para Robert
Downey Jr que na época estava se recuperando em sua carreira e se estabelecendo
em Homem De Ferro.
Curiosidades: O
roteirista Shane Salerno teve a preferência de compra do livro de Robert
Graysmith quando tinha apenas 19 anos. Durante anos ele e Graysmith
desenvolveram o roteiro do filme, até que os direitos de adaptação foram
negociados com a Touchstone Pictures. Mesmo após a venda Salerno escreveu
várias versões do roteiro, encomendadas por diversas administrações da
Touchstone.
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