Sinopse: Um grupo de
pessoas, entre elas mulheres e até crianças ficam presas num caminhão da
polícia. O clima lá dentro é tenso, assim como do lado de fora, cheio de
manifestantes, durante uma crise política envolvendo a saída de Mohamed Mursi
da presidência do Egito.
Política e religião são
temas completamente diferentes um do outro, mas que, infelizmente, o homem
insiste em misturá-los, gerando então conflitos e mortes ao longo da história
da humanidade. Basta termos a 2ª Guerra Mundial como exemplo, mas parece que
nada é o suficiente, pois parece que há um interesse vindo dos poderosos, cuja
ambição é embebedar os povos e viciá-los com determinadas crenças e fazendo delas
um verdadeiro ópio. Clash é um pequeno retrato deste vasto mundo em conflito,
mas um grande exemplo do que acontece em várias partes do globo.
Dirigido por Mohamed Diab, a
trama se passa pouco depois que o Presidente Mohamed, primeiro Presidente
eleito pelo povo no Egito após três décadas, acabou sendo derrubado pelos
militares por pertencer ao Slão. Isso faz com que gere uma onda de protestos,
pois parte do público acredita que sofreram um golpe, gerando então um conflito
entre as autoridades e inúmeros manifestantes. Em meio a tantos conflitos, um
grupo de pessoas vai gradualmente sendo detidas, colocadas dentro de um camburão
e enquanto se prossegue uma quase Guerra Civil no lado de fora no país.
Embora
o conflito se passe no Egito, a sensação que nos passa é de uma espécie de déjà
vu, pois o que vemos não é muito diferente dos outros conflitos que acontecem
em outros países, principalmente em países como o nosso, por exemplo, que vivem
sendo movidos por uma política nascida por recentes golpes. O que vemos aqui é
o conflito entre interesses, crenças e de pessoas das quais não se encontram em
nenhum dos lados, mas que acabam caindo no olho desse furacão. Mesmo num
cenário de pouco espaço, Mohamed Diab cria um retrato cru desse povo dividido
no que acredita, mas que são pessoas comuns, iguais umas as outras e fazendo
então nos identificarmos facilmente com elas.
Embora seja uma ficção, o filme
não deixa de ser em nenhum momento cem por centro realístico, principalmente
pelo fato da forma como o cineasta conduz as cenas. Mohamed Diab faz de sua
câmera uma espécie de personagem que testemunha os principais acontecimentos,
ou fazendo dela os nossos olhos e conseguindo com que tenhamos a sensação de
angustia e até mesmo claustrofobia no decorrer do filme. É um cenário fechado,
mas que proporciona uma verdadeira montanha russa, onde medo, ódio e
desconfiança andam de mãos dadas o tempo todo nesse pequeno cubículo, mas que
aos poucos, os indivíduos que se encontram dentro dele começam a ouvir uma nova
realidade vinda do seu próximo.
Podemos tirar inúmeras conclusões
sobre qual a proposta que Mohamed Diab queira passar para aqueles que assistem a essa
obra. A meu ver o camburão, mesmo sendo um dos piores lugares para alguns, seria
uma espécie de tratamento de choque para aqueles crentes, descrentes, fanáticos
e políticos em conseguirem então ouvir as diferenças da pessoa do seu lado e
para então só assim conseguir aceitar de bom grado as suas diferenças. Não deixa
então de ser irônico, pois elas presas conseguem aos poucos ter um mínimo de confraternização,
enquanto o mundo do lado de fora, mesmo havendo a possibilidade de liberdade,
está se destruindo, pois não estão parando para ver ou ouvir, mas se cegando
graças ao ódio sem sentido.
Uma vez o mundo desgovernado
e violento, o camburão se torna uma espécie de refúgio para os poucos
afortunados que conseguiram abrir os seus corações e conseguindo pelo menos alguma
esperança para continuarem vivos. A cena final é um verdadeiro soco no estômago, pois ela sintetiza um mundo desgovernado e violento e os poucos que restam
se fecham abraçando um mínimo de fé da qual conseguiram. Clash é um retrato realístico
sobre o inferno causado pelas piores drogas do mundo, mas das quais elas não se
encontram numa esquina qualquer, mas sim vindas de poderosos e daqueles que pregam
uma fantasia travestida de realidade.
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