Sinopse: Após o
desaparecimento de sua esposa Madalena, Elon imerge em uma jornada insone pelos
cantos mais sombrios da cidade, buscando entender o que pode ter acontecido com
ela, na tentativa de não perder sua sanidade pelo caminho.
O plano sequência
(tomadas em movimento e sem cortes) não é novidade para aqueles que acompanham
a história do cinema desde sempre, onde câmera se torna os nossos olhos e
fazendo a gente se tornar parte da trama. Martin Scorsese, por exemplo, usou
esse artifício desde o princípio em seus clássicos e mais recentemente László
Nemes fez com que adentrássemos no inferno ao lado do protagonista num campo de
concentração no filme O Filho de Saul. Em sua estreia como diretor, Ricardo
Alves Jr cria em Elon não acredita na morte uma espécie de pesadelo filmado,
onde o protagonista vai numa cruzada de busca, mas que acaba encontrando algo,
por vezes, inexplicável.
Na trama,
acompanhamos a cruzada de Elon (Rômulo Braga de Sangue Azul) em meio a uma
cidade claustrofóbica e sombria. Ele procura a sua esposa Madalena (Clara
Choveaux, ótima) da qual, aparentemente, está desaparecida e ninguém sabe ao
certo onde ela está. Aos poucos, situações corriqueiras dão lugar a momentos
peculiares e dos quais colocam a sanidade de Elon em cheque.
Com a câmera quase
sempre atrás do protagonista, o filme já começa com ele indo a uma busca
desenfreada, onde praticamente nos convida a ser o segundo ou terceiro
personagem em cena e ficarmos sempre na expectativa do que acontecerá em
seguida. No decorrer do tempo percebemos uma persistência, até mesmo doentia,
vinda do protagonista e fazendo a gente se perguntar o que realmente aconteceu
a sua esposa. Porém, o clima soturno, além de personagens ainda mais peculiares
surgindo em cena, nos dá entender que não seja exatamente a esposa dele que
esteja perdida nessa metrópole peculiar.
Aos poucos,
percebemos que o cineasta faz referencias a inúmeros temas dentro da trama,
desde ao clássico da mitologia Grega Orfeu, como também criar uma representação
de um Brasil desconstruído e se encaminhando cada vez mais para o precipício.
Elon seria então uma espécie Orfeu contemporâneo, que desce ao inferno em busca
de sua amada, mas que acaba sofrendo uma trapaça e da qual lhe custa a sua
sanidade. Por outro lado, Elon seria também o cidadão brasileiro de hoje, cada
vez mais afogados em mentiras, falsas promessas e criando para dentro de si uma paranoia e uma falta de fé explicita.
Não é uma trama que
nos passe soluções fáceis, sendo que cada um tem uma interpretação sobre que
assiste na tela. Quando a gente acha que as pontas soltas se enlaçam,
principalmente quando surge rapidamente do nada Madalena numa passagem da
trama, eis que tudo que acreditamos naquele momento cai por terra e reacendendo
novas interpretações sobre o que virá a seguir. É neste ponto que Elon cada vez
mais se adentra aquele submundo sombrio e desconexo e se entregando as consequências
dos seus atos que se iniciaram a partir de sua busca.
Como participação de nomes
importantes, como do autor, cartunista e ator Lourenço Mutarelli de (Que horas
ela Volta?), Elon não acredita na morte é uma pequena e sombria experiência
fictícia, mas da qual não está muito distante de nossa própria realidade atual.
Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram
Nenhum comentário:
Postar um comentário