Nos dias 12 e 13 de novembro
eu irei participarei do curso Abbas Kiarostami: A invenção do real, criado pelo
Cine Um ministrado pela jornalista Ivonete Pinto. Enquanto os dias da atividade
não chegam, por aqui eu irei relembrar um pouco de cada um dos seus filmes, dos
quais ele transmitia o seu lado mais criativo. Algo que infelizmente se
encontra cada vez mais raro no cinema
atual.
Gosto de Cereja
(1997)
Sinopse: O filme mostra a cruzada de um homem que procura por alguém que o enterre após seu suicídio. Apenas um turco, que também
tentou se suicidar no passado, aceita o convite.
Mais do que uma obra
prima, Gosto de Cereja é umaobra-contrutora. Assistir a cruzada de Badii é uma eterna e angustiante dúvida sobre os
reais motivos que o levaram a querer perder a vida de uma forma tão imprevisível.
Talvez ajam filmes similares como esse, mas, mas poucos nos envolvem tanto.
Talvez a câmera sempre perto, por vezes dentro outras vezes fora do carro do
suicida, nos faça querer dizer algo. Kiarostami faz da aridez de Teerã um
agravante ao incomodo causado pela situação. O final é um verdadeiro choque. Vemos os
atores, o diretor e as câmeras que nos fazem repensar que tudo era um filme e
nos força a distanciar do que vimos pelos 90 minutos anteriores. Esse
distanciamento é capaz de fazer com que saibamos que apesar da história, há
vida por traz das câmeras.
O Vento Nos Levará
(1999)
Sinopse: Munido de
câmera fotográfica e telefone celular, um estrangeiro no Irã profundo é tratado
pelos moradores da vila de casas de barro Siah Dareh, no Curdistão iraniano,
como o “engenheiro”. No entanto, ele não chegou de Teerã a serviço da
engenharia, mas da espera. O real motivo da viagem é uma anciã à beira da
morte.
É um filme que fará
você sentir do que entender, de maneira que o sentir se torna mais interessante
do que compreender. A imagem fixa dos campos quando o herói passa na garupa da
bicicleta do médico velhinho, na realidade é a imagem do próprio paraíso
superando a morte que o cinema torna possível.
Dez (2002)
Sinopse:O filme
mostra o lado urbano do Irã, focando os sonhos de sua classe média, mostrando
um lado político de confronto nas relações de um taxista com seus passageiros.
Dez é um filme político.
Especialmente por duas frentes: a cinematográfica e a social, digamos assim.
Cinematográfica e o tempo demonstrou toda a imensa relevância que esse filme
tem, certamente, no sentido de ansiar um filme quase que sem diretor. Ora,
nesse instante mesmo, o filme de Kiarostami revela-se um pleno filme de
Kiarostami. Nesse processo, quando o diretor iraniano decide colocar duas
câmeras dentro de um carro, uma acompanhando a motorista, outra acompanhando o
carona, sua obra toma a naturalidade das interpretações e o processo de montagem
do filme como elementos de norteação de sua obra.
A mulher que é tão
oprimida na realidade iraniana passa a ser o objeto de contemplação e peça
chave da história, infiltrando-se assim, no meio do caminho da psicanálise que
a coloca diante dos complexos freudianos destinados à ela: O Complexo da
Castração, o Complexo de Édipo e a mulher como objeto de contemplação. Tudo
isso ilustrado no filme pela representação da repressão feminina no Irã, pelas
atitudes, demasiadamente, radicais e machistas do filho diante do ciúme
implícito da mãe com o padrasto, e, finalmente, pela mulher como objeto de
contemplação (voyerismo), ressaltada nos close-up’s.
Five Dedicated to
Ozu (2003)
Sinopse: Em
planos-sequências, o documentário apresenta cinco situações cotidianas que
acontecem à beira-mar. Um pedaço de madeira que é levado pelas ondas. Pessoas
andando na praia. A praia obscura no inverno. Um grupo de patos atravessa a
água. Rás em sinfonia enquanto a tempestade cai.
Kiarostami afirmou na
época ao ter filmado esse filme que sua intenção era escapar da escravidão
da narrativa. O filme, realizado em câmera digital, quase sempre fixa, é
composto por 5 planos-sequência de natureza e movimentos humanos com cerca de
10 a 20 minutos cada. No primeiro bloco, observamos um toco de madeira na linha
divisória entre a areia e o mar sendo arrastado por ondas que o quebram em
dois. Um pedaço desaparece do quadro, enquanto o outro permanece na beira da
praia. O quadro escurece. Inicia-se o bloco seguinte. Pessoas caminham e
conversam no calçadão. A tela, agora branca, finaliza o bloco. No terceiro,
cães sentam-se à beira do mar, alternam de posição até deitarem todos sobre a
areia. Em seguida, um grupo de patos cruza a tela em ritmos diversos. No último
bloco, diante de uma tela inicialmente negra, lentamente distinguimos o reflexo
da lua, aparecendo e desaparecendo do quadro junto a sons de sapos a coaxar,
trovoadas, chuva.
Shirin (2008)
Sinopse:Cento e
quatorze atrizes de teatro e cinema iranianas e uma estrela francesa são
filmadas em close em uma sala de cinema. Expectadoras mudas de uma
representação do poema persa Khosrow e Shirin. O jogo aqui é que o espectador
nunca vê o desenvolvimento do texto poético no palco; vê apenas as reações que
as atrizes na plateia esboçam diante da encenação.
A obra é uma
declaração de amor ao público espectador, ao fascínio daqueles que dividem a
mesma sala, o mesmo teatro, mas não as experiências; vivenciadas sozinhas no
íntimo de cada um. “Nenhuma ópera, nenhum espetáculo existe sem público. Depois
que todos vão embora, a obra só existe no imaginário do espectador”, afirmou o
cineasta na conferência para a imprensa na época que o filme foi exibido.
Foi munido desse
pensamento que Kiarostami acionou seu espírito vanguardista. Basta imaginar um
filme integralmente passado em supercloses sobre os rostos de mulheres na platéia
de uma peça teatral. A narrativa é totalmente construída através do som que
ouvimos sair da tela e das expressões e emoções dos belos semblantes femininos,
entre eles o de Juliette Binoche, sendo que atriz voltaria a trabalhar com o
cineasta em Copia Fiel.
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