Sinopse: Documentário
mostra a investigação do historiador Sidney Aguilar referente a tijolos com
suástica nazista numa fazenda do interior de São Paulo. Ao chegar lá, ele
descobre que nos anos 30, 50 meninos negros e mulatos foram usados como
escravos pelo dono da propriedade, que era simpatizante do nazismo.
“A mentira nunca fica
escondida por muito tempo”. Esta é a frase adotada na investigação nascida pelo
historiador e professor Sidney Aguilar e adotada pelo diretor e roteirista
Belisario Franca, cujo sua intenção é desvendar o que há por trás dos misteriosos
tijolos ornamentados com a suástica, símbolo nazista, que foram descobertas por
acaso numa fazenda do interior de São Paulo. Fica se sabendo que a família
Rocha Miranda, dona da fazenda na época, adotou cinqüenta meninos negros no Rio
de Janeiro do ano de 1933.
A época da qual se
passa esses fatos é num período nebuloso, onde o mundo cada vez mais se
afundava nos regimes nazistas. Infelizmente o Brasil possui uma mancha de irresponsabilidade
com relação a isso, pois além de ter sido um dos últimos países do ocidente ao
colocar um ponto final na escravidão, não houve uma ação social para ajudar os
ex-escravos da época. Além disso, havia o absurdo da propaganda da super raça
branca, ao ponto de haverem concursos para os bebês perfeitos, sendo um
verdadeiro ato de segregacionista. Mas o pior mesmo, e que poucos sabem, é que
o Brasil abrigou por um tempo a maior seção do Partido Nazista fora da Alemanha.
Após a descoberta
desses tijolos com símbolos nazistas, Franca e Aguilar juntos começaram a
buscar pistas sobre os cinqüenta meninos que viveram uma década de trabalho escravo
e que foram renegados pela história desse país. Dos cinqüenta meninos, acabamos
conhecendo a história de pelo menos três deles, no momento em que os
realizadores chegaram ao local e descobrindo com mais precisão essa história.
Ficou se sabendo que, ao chegarem à fazenda, os meninos eram enumerados, assim
como os nazistas faziam com os judeus no campo de concentração.
O passado desse lugar
acaba ecoando de uma forma tocante e triste pelas palavras de um sobrevivente.
Conhecemos então Aloísio Silva, de 89 anos e sendo ele justamente o menino 23 e
que dá titulo ao documentário. Não confortável com as lembranças do passado,
sentimos revolta nas palavras desse senhor de idade e que não esconde a
sensação de decepção com relação ao mundo em que vivia.
Através de fotos da família
Rocha e vídeos pela internet (propagandas preservadas da época) Aloíso também dá
de encontro com o orfanato do qual ele foi adotado. Todos esses momentos são
gradualmente expostos na tela e fazendo com que Aloísio se esforçava para não
cair em lágrimas devido ao horror pelo que passou na infância. São momentos
como esse que fazem de Menino 23 uma jornada tocante e triste de um passado
nebuloso e vergonhoso de nosso país.
Encontra partida,
temos o depoimento até bem humorado de Argemiro Santos que toca o assunto num tom
de humor e sem ser atingido pelas lembranças. Através dele, por exemplo, que
ficamos conhecendo mais a história do menino que todos chamavam de “Dois’. Esse,
aliás, foi escolhido para ser adotado pela família Rocha, aparentando ser parte
deles, mas não herdando nada e dando a entender pelos depoimentos dos
familiares que ele caiu em desgraça através da bebida.
Em pouco menos de uma
hora e meia, o documentário jamais perde o seu ritmo, principalmente por ela se
intercalar com cenas de arquivos da época, com momentos em que retratam o dia a
dia daqueles meninos e tudo moldurado num belo preto e branco. Essas passagens,
aliás, são narradas pelos realizadores e pelos protagonistas da obra e fazendo
com que o passado ecoe através do tempo. Com isso, o passado desses meninos se
torna ainda mais chocantes, principalmente quando fazemos uma comparação com os
dias de hoje e nos darmos conta que o país tem ainda muito chão pela frente em
termos de aprender com relação ao respeito e igualdade.
Desenterrando o passando, o
filme adota o aspecto de reflexão com relação à realidade de hoje: o que
estamos fazendo para não cometermos os erros do passado? Será que apenas
“liberar”, como o senhor Aloisio chama o dia em que foi jogado no mundo após
dez anos na fazenda, seria então suficiente? Qual seria ajuda que nós estamos
dando aos que não são da elite hipócrita de hoje? Parece que, assim como a
história nos conta, tirá-los de nosso lar ou da nossa frente é o suficiente
para resolver o ponto de interrogação. Porém, o documentário veio para esfregar
em nossa cara que não é bem assim e que precisamos acordar, mesmo quando a gente
quer acreditar que já evoluímos suficiente.
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