Sinopse: Um ensaio
poético, um olhar aprofundado e um retrato íntimo sobre o Cinema Novo,
movimento cinematográfico brasileiro que colocou o Brasil no mapa do cinema
mundial, lançou grandes diretores (como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos
Santos e Cacá Diegues) e criou uma estética única, essencial e visceral que
mudou a história do cinema e a história do Brasil para sempre.
O
cinema nasceu como entretenimento, como escapismo, para que as pessoas pudessem
fugir um pouco dos seus problemas do mundo real. Com o tempo, o cinema foi se
enveredando para um lado mais cru, menos plástico e isso se fortaleceu com o
nascimento do movimento do cinema “Neo Realismo Italiano” a partir da década de
40 e posteriormente com o movimento “Nouvelle vague” do cinema francês nos anos 60. São movimentos
que nascem a partir de inúmeras formas, desde um nascimento criativo para se
fazer um cinema diferente, ou até mesmo para se fazer uma crítica com relação
ao mundo do qual vive.
Isso se tornou um fenômeno em diversas partes
do mundo e o Brasil não ficou atrás com relação a isso. Formado por cineastas
como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues e dentre outros,
surgia entre o final dos anos 50 e início dos anos 60 o “Cinema Novo”,
movimento do qual mostrou a verdadeira cara de nosso país na época e que ecoa
até mesmo nos dias de hoje. Saindo para rua e esquecendo-se dos cenários artificiais,
esses cineastas filmavam o dia a dia da vida suburbana, a miséria do sertão,
relações conflituosas e os males da política contra o povo.
Cada um possuía um
modo de filmar, mas todos passando uma mesma idéia, sendo ela extraída das palavras
de Glauber Rocha: “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”. Infelizmente com a
chegada do golpe de 64, esse cinema aos poucos acabou sendo silenciado devido seu
grande teor crítico. O que não deixa de ser curioso, já que justamente no mesmo
ano, filmes como Deus e o diabo na terra do sol e Vidas Secas estavam conquistando
os festivais pelo mundo.
Anos se passam, o
cinema brasileiro vive entre seus altos e baixos, mas sempre mantendo uma forma
de resistência em se querer fazer algo de diferente. Muito disso veio do “Cinema Novo”, sendo que os cineastas pernambucanos de hoje como Kleber Mendonça Filho
(Aquarius) já deram inúmeras provas que fizeram a lição de casa com relação a
esse assunto. Mas como é um período muito rico, o diretor Eryk Rocha prova que
não basta apenas surgirem cineastas hoje em dia em querer fazer um cinema
resistente, mas sim uma vez ou outra nos lembrarmos desse período rico de
informação do nosso cinema. Portanto, o documentário “Cinema Novo” não é
somente sobre aquele período, mas uma mostra do melhor que ele tinha a
oferecer.
Diferente dos documentários
tradicionais, o filme não se envereda para depoimentos de pessoas de hoje que
viveram naquele período, mas sim compostos por imagens dos próprios filmes da
época e intercalados com imagens de arquivos dos seus cineastas. Com uma edição
de montagem caprichada criada por Renato Vallone, as imagens de inúmeras obras
acabam se casando uma com a outra, como se todos fossem um único filme e criando
então uma espécie de enredo, onde mostra a cara, os males, as alegrias e
tristezas do Brasil daquele tempo e que ecoam até mesmo nos dias de hoje.
Assistindo ao documentário, temos então uma plenitude daquele movimento e não é
toa que os donos da revista francesa Cahiers du Cinéma reconheceram esses
cineastas e fizeram com que os seus filmes fossem reconhecidos pelo mundo a
fora.
Por outro lado, se o
nosso cinema daquele tempo era reconhecido com prestigio em outros países, o
mesmo não se poderia dizer aqui mesmo no Brasil. Com imagens de arquivos,
observamos as opiniões de diversas pessoas na rua com relação ao cinema
brasileiro, sendo que a maioria delas não gosta, ou não possuem nenhuma noção
com relação a sua importância. É então que, ao assistirmos essas cenas, concluímos
que pouco mudou o brasileiro com relação aquele tempo para os dias de hoje, do
qual prefere o cinema internacional, ou um cinema brasileiro, cuja linguagem
sempre se envereda para o previsível ou para as comédias populares.
O que não deixa de
ser curioso, já que o próprio “Cinema Novo” também havia filmes com teor
popular, mas que o público em geral não assistia. Contudo, parece que quanto
mais o movimento era desprezado, mais prazeroso e crítico ele se tornava,
culminando com o nascimento de filmes como Terra em Transe de Glauber Rocha, do
qual incomodaram muitos em Brasília. O golpe foi posto em pratica em 64, filmes
foram censurados, cineastas perseguidos, mas parece que nada impediu para que
eles sobrevivessem ao tempo, pois eles não se tornaram somente um retrato
daquele tempo, mas sim vieram a se tornarem filmes a frente do seu tempo.
Assistir ao “Cinema
Novo” é mais do que conhecer um movimento enriquecedor do nosso cinema, mas também
para nos darmos conta que, infelizmente, tanto a cultura como a política brasileira
andam sempre em círculos, para então sempre voltamos para o mesmo caminho que
começamos.
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