Nos dias 21, 22 e 23
de março eu estarei participando em Porto Alegre do curso Analise e
Interpretação de Filmes, atividade criada pelo Cine Um e ministrada pela
jornalista Fatimarlei Lunardelli. Enquanto os dias da atividade não vêm, eu
irei fazer por aqui uma pequena analise dos principais filmes que serão analisados
no decorrer da atividade.
O Encouraçado
Potemkin (1925)
Sinopse:Em 1905, na Rússia czarista, aconteceu
um levante que pressagiou a Revolução de 1917. Tudo começou no navio de guerra
Potemkin quando os marinheiros estavam cansados de serem maltratados, sendo que
até carne estragada lhes era dada com o médico de bordo insistindo que ela era
perfeitamente comestível. Alguns marinheiros se recusam em comer esta carne,
então os oficiais do navio ordenam a execução deles. A tensão aumenta e,
gradativamente, a situação sai cada vez mais do controle. Logo depois dos
gatilhos serem apertados Vakulinchuk (Aleksandr Antonov), um marinheiro, grita
para os soldados e pede para eles pensarem e decidirem se estão com os oficiais
ou com os marinheiros. Os soldados hesitam e então abaixam suas armas. Louco de
ódio, um oficial tenta agarrar um dos rifles e provoca uma revolta no navio, na
qual o marinheiro é morto. Mas isto seria apenas o início de uma grande
tragédia.
Através da
descontinuidade, Eisenstein brinca com a “realidade” e inaugura um estilo de
montagem que inverte fluxos de movimentos e surpreende o espectador a cada
cena. “Eu não sou realista, sou materialista, acredito que a matéria provoca em
nós sensações”, já dizia o cineasta. A sequência “A Escadaria de Odessa” tem 11
minutos. Nela se desenrola o massacre do povo de Odessa pelos cossacos - guarda
imperial do Czar russo. Mulheres, crianças e homens desarmados são aniquilados
sem qualquer economia dramática. Eisenstein procura mostrar simbolicamente como
se inicia e desenrola a revolução socialista. As referências à estratificação
social russa e a utilização de diversos signos simbólicos faz com que se
reproduza em torno do filme todo o movimento social do país.
A cena da escadaria é
uma sequência brilhante de enquadramento mostra uma câmara suspensa que corre
pelas escadarias e acompanha o movimento nervoso dos cidadãos encurralados.
Como não havia trilhos de travelling e muito menos gruas, são surpreendentes as
possibilidades exploradas por Eisenstein, que utilizou com maestria a câmera
subjetiva nesta seqüência. Nota-se também aí o descarte da verossimilhança, uma
vez que a escada parece nunca acabar, pois as pessoas correm e não chegam a
lugar nenhum (o contraposição entre o tempo da narrativa e o tempo da
realidade).
O jogo de oposições
em conflito fica claro no momento em que os
cidadãos em pânico correm em direções contrárias e atravessadas. Não há mais
união aqui, pois cada um luta famigeradamente pela sua própria sobrevivência. O
pavor é tamanho que até mesmo uma mãe, que tenta fugir com o filho da mira das
baionetas sanguinárias, apenas percebe que a criança ficou para trás após algum
tempo. Nesta cena, um inesquecível semblante surge no rosto daquela mulher, que
presencia o desfalecimento do seu filho e o posterior atropelamento do corpo
pelos demais, que ainda têm esperança de permanecerem vivos. É comum o close no
rosto dos cidadãos, mas não se vê o rosto dos cossacos, pois eles não são
personagens em si, são apenas símbolos de um sistema político vigente, opressor
e cruel.
Surge então uma das mais
belas cenas do filme. A mãe, em prantos com o seu filho ferido no colo,
solicita aos cossacos que poupem a população. A cena, numa perspectiva
alegórica, faz uma clara referência ao fato histórico real conhecido como o
“estopim da revolução russa”. O faminto e miserável povo russo acreditava que o
Czar Nicolau II não sabia que eles passavam fome e viviam na miséria. Portanto,
decidiram escrever uma carta mostrando-lhe a situação, na esperança de que o
imperador se sensibilizasse e os ajudasse. No entanto, ao receber a carta, o
Czar considerou a iniciativa uma insolência e ordenou aos cossacos o imediato
extermínio de todos. Os cossacos se postaram e, ao grito de permissão para
atirar, massacraram toda a população. A cavalaria completou o extermínio
cegando, com furos nos olhos as crianças e mutilando o ventre das mulheres
grávidas. A sequência da Escadaria de Odessa faz uma representação exitosa
deste fato histórico.
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