Sinopse: Alfonso
(Haimer Leal) volta para casa após 17 anos de ausência, devido à doença que seu
filho sofre. A situação tem mobilizado toda a família, com a esposa dele e sua
mãe trabalhando na plantação de cana de açúcar para conseguir o sustento
financeiro necessário. Mesmo com Gerardo (Edison Raigosa) praticamente
trancafiado em casa, já que todas as janelas permanecem sempre fechadas para
que não entre poeira, ainda assim ele não apresenta melhora no estado de saúde.
Diante da situação, a família busca algum meio de interná-lo.
Atuado por
interpretes amadores (atriz Marleyda Soto, intérprete da esposa do filho, é a
única atriz realmente do elenco), o filme é franco desde o princípio na sua
aproximação do qual faz com o setor primário da economia da Colômbia. Da fúria
dos canavieiros, das queimadas ou mesmo da forma como a cana toma a casa, é
evidente que o cineasta Cezar Azevedo condene a tomada industrial na
agricultura colombiana e na forma como ela gradualmente acaba com a terra,
agora virada em cinzas e sem nenhum sinal de vida. A doença do filho dentro da
trama, assim como inúmeros outros exemplos a serem vistos, dá o movimento na
história, na identificação dos efeitos do capitalismo selvagem sobre o homem,
que dá pouco crédito e tão pouco dá assistência médica para aqueles que
trabalham ferozmente abaixo do sol.
Os planos de dentro
da casa são sombrios com o mais puro silencio. A penumbra e o silêncio comandam
o cenário e transformando o ambiente num clima de luto em respeito ao rapaz
doente após anos de sacrifício no trabalho de cana. Portas e janelas estão
sempre trancadas para que não entre sujeita, o que demonstra um trabalho quase
inútil visto a enorme montanha de cinzas que invadem o local por conta das
fumaças das queimadas constantes de terrenos ao redor.
Esse cenário é um
verdadeiro contraste quando nos deparamos com a parte externa da casa: quente e
cantada aos sons dos passarinhos. A paisagem, embora simples, é muito bela de
ser vista, registrada de uma forma sublime pela câmera e provando que, apesar
dos problemas e dramas humanos, há ali uma natureza viva e boa para ser
apreciada.
O drama da família é
um reflexo no espelho que reflete um problema sério vem do horror da exploração
dos ricos pelos pobres. O médico do local é um inútil e nada faz pela
recuperação do rapaz, além de lhe receitar meia dúzia de medicamentos, assim
como nada se pode esperar dos chefões dos canaviais, que sugam os seus
trabalhadores até o máximo possível sem sequer pagar os meses de trabalho a
fio.
O filme tem uma
aproximação com a nova onda que acontece no cinema do qual se chama
ficção/documentário (filmes como Castanha) e, portanto prega uma aproximação
quase documental, sempre deixando as imagens falarem por si, muito mais do que
as palavras, que são bem curtas. A janela da casa, raramente aberta, mostra
muito pouco o lado de fora da paisagem, que vai morrendo na frente dos nossos
olhos devido à exploração do homem.
O lado
cinematográfico é tão bem filmado que acaba reduzindo o impacto político
trazido pelos temas colocados na mesa, nos conquistando mais pela manifestação
estética. Algumas imagens se aproximam de um quadro em movimento, lembrando
aquelas imagens que dá sempre a sensação de estarem se mexendo. O filme
merecidamente ganhou o prêmio Câmera D’or no Cannes, destinado a diretores
estreantes.
Acima de tudo, o
personagem de Alfonso, que no principio poderia ser facilmente alvo de
desprezo, ganha gradualmente um brilho cada vez maior dentro da história,
abrindo o nosso olhar e perspectiva que não se contenta com maniqueísmos nem
com respostas de simples solução. Uma obra realmente bem feita que nos leva a
ficar atentos com os próximos trabalhos, não somente desse cineasta, como
também do cinema colombiano como um todo.
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