Sinopse: Acompanhamos a vida de Mason da infância até o fim da adolescência vivendo no Texas com sua irmã e os pais divorciados. O pai parece mais infantil que o próprio menino enquanto a mãe luta para terminar seus estudos e vive se apaixonando pelos homens errados. Entre 2002 e 2013 o diretor Richard Linklater (Antes do amanhecer e Antes da meia-noite) filmou a evolução da história acompanhando assim o crescimento do jovem ator Ellar Coltrane. Essa experiência inédita resultou num panorama íntimo dos desejos e ansiedades do amadurecimento humano. Melhor direção no Festival de Berlim 2014.
Eu ouvi muito falar a
respeito sobre o mais novo filme do diretor Richard Linklater (Antes do Amanhecer)
e, portanto fazia questão de ir assisti-lo. Não me resta dúvida nenhuma que Boyhood:
Da Infância à Juventude, não é somente um ótimo filme, como também um feito notável
e raro do cinema recente. Acompanhando doze anos da vida do pequeno Mason
(Ellar Coltrane) e a trama é basicamente isso, mas que nos enlaça de tal forma
que não vemos o tempo passar durante a projeção.
Embora o projeto seja
corajoso (rodado durante quatro dias por ano, num total de doze) basicamente é uma trama simples, onde assistimos
o seu protagonista envelhecendo (dos seis aos dezoito anos), acompanhando os
seus dramas do dia a dia com os seus familiares, seus conflitos internos da adolescência
e seus relacionamentos amorosos, que vão da curtição a frustração. Nesse sentido, Boyhood é uma entrada ou um retrato do
nosso mundo real, em vez de uma mera trama mirabolante juvenil. As conversas soam
familiares, a maneira de se vestir e a forma de como ele age com os seus familiares.
Tudo pelo que nós mesmos já passamos, talvez até com as mesmas reações de
Mason.
Embora comece de uma
forma devagar, o filme nos prende e nos cativa rapidamente. Talvez por
transmitir um olhar real do jovem interprete, sendo que o próprio já havia
afirmado em uma entrevista que ele mesmo não conseguia às vezes separar o seu
mundo real com a trama fictícia que participava. Isso se deve muito pelo fato
do filme não apresentar nenhum personagem fora do comum, mas isso torna mais um
ponto a favor para produção, já que o cinema contemporâneo de hoje vive escasso
com personagens que deveriam ser algumas vezes gente como a gente.
Em outra entrevista,
Ellar disse que ao assistir as imagens do filme pela primeira vez se maravilhou.
As lembranças em sua mente se misturavam e, após se dedicar doze anos participando
das filmagens, ele não se lembrava mais que tinha participado de determinadas
cenas. O jovem protagonista Mason realmente se confunde com seu interprete.
Existe muito do ator no personagem fictício,
sendo que ambos não comem carne e amam de paixão o mundo da fotografia. O ator
falou que quando tomava uma decisão de fazer algo com relação ao corpo, logo em
seguida ligava para o cineasta, para ver se dava para colocar um brinco ou
pintar o cabelo. Linklater por sua vez dava liberdade total para que Coltrane
fosse natural, para que o jovem de ontem e hoje se identificasse facilmente com
ele.
Alguns dos diálogos filosóficos
que Mason dispara na tela foram na realidade algumas sugestões do próprio ator.
Antes de começar as filmagens de cada ano, Linklater fazia uma rodada de conversas
descontraídas com o elenco principal, de onde se tirava inúmeras ideias para
serem aproveitadas durante as filmagens. Embora cineasta afirmasse que
realmente havia um roteiro escrito, as conversas dessas rodadas serviam unicamente
para que equipe e elenco se atualizassem e que pudessem passar durante as
filmagens uma forma de naturalismo ao máximo possível. Quem acompanha a obra do
diretor sabe que ele já usava esse artifício, principalmente na sua trilogia que
se iniciou em Antes do Amanhecer.
Embora a trama seja
toda concentrada em Mason, o filme não seria nada sem a presença de sua mãe.
Interpretada por Patrícia Arquette (Amor a Queima Roupa) ela passa uma imagem
real de uma mãe de ontem e hoje: tentando batalhar para realizar os sonhos dos
seus filhos e os seus, mas que infelizmente acaba se perdendo algumas vezes no
trajeto, alternando em escolhas erradas
(com relação a escolhas de maridos ) como também em certas, ao se dedicar a carreira
que queria. A irmã mais velha de Mason e o pai, interpretado por Ethan Hawke
(parceiro habitual do cineasta), são também personagens essências na vida do
jovem protagonista, mesmo eles não influenciando muito as suas escolhas.
Mason nunca tenta ser
uma imagem espelhada dos seus pais, mas isso não significa que ele não aceite
da maneira como eles são. Unicamente ele vive como um adolescente como os
outros, sem ser revoltado, mas também não muito conformado com a realidade em
que vive e com isso vive se perguntando para si mesmo inúmeras coisas, que por
vezes não obtém uma resposta. Embora nunca aja um letreiro nos dizendo quando
acontece um pulo no tempo, nós sabemos quando isso acontece: as mudanças do
rosto e o físico dos personagens, assim como a cultura, desde musicas, objetos,
cortes de cabelo e de um momento divertido com relação ao Harry Potter.
E é assim durante as
quase 3horas de projeção, acompanhamos o crescimento do protagonista, que desde
sua primeira cena, como um sonhador deitado na grama, para uma jornada de doze
anos aonde acompanhamos de tudo um pouco de sua vida. Vemos sua mudança física e
mental, suas desavenças na escola, sua chegada em uma faculdade, seu primeiro serviço
e as diversas mudanças com a mãe que vive também em busca de um lugar nesse
mundo. Infelizmente o filme termina de uma forma abrupta e fazendo com que nós quiséssemos
continuar ao lado do personagem e vê-lo até aonde ele vai durante o seu
percurso na vida. O protagonista se vai, para continuar a sua jornada, nos deixando
sem a sua presença, mas fazendo a gente pensar em suas atitudes e escolhas.
Boyhood: Da Infância a
Juventude pode não ser uma grande obra prima
como muitos dizem, mas está muito longe
de ser um mero filme como os outros que existe aos montes por ai. Acima de tudo,
é uma realização incomum sobre a vida comum e um feito de realização dos mais fascinantes
e que ficará sendo lembrado por todo cinéfilo que se preze.
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