Na minha ultima participação desse
ano, dentro dos cursos de cinema elaborados pelo Cena Um (dias 11 e 12 de
dezembro), o assunto será sobre o Cinema Marginal Brasileiro, que será
ministrado pelo jornalista Leonardo Bomfim. Enquanto a atividade não chega, estarei
por aqui postando sobre os principais filmes desse movimento que bateu de
frente com a censura da ditadura da época.
A Margem
Sinopse: Inspirado em acontecimentos reais
publicados em jornais popularescos, o filme aborda o dia-a-dia da população
pobre que vive às margens do rio Tietê: prostitutas, cafetões, deficientes
mentais, aleijados, tipos desesperados que aguardam a barca do inferno.
Em 1967, Ozualdo Candeias sacudiu o cinema
nacional com A Margem. O filme foi fracasso de bilheteria, mas
sucesso absoluto de crítica e, até hoje, só faz crescer em cada reavaliação. Ao
focalizar sua história de excluídos às margens do rio Tietê, em São Paulo, o
cineasta escalou Valéria Vidal, que não tinha experiência como atriz, para um
dos personagens principais do filme. E a atriz marcou para sempre não só o filme,
mas toda a cinematografia brasileira - como esquecer sua prostituta e seu sonho
do casamento de véu e grinalda? Por sua interpretação, Valéria Vidal ganhou o
prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pelo Instituto Nacional de Cinema de 1967,
que também premiou o diretor e a música de Luiz Chaves. A atriz recebeu também
menção honrosa no Festival de Brasília.
A Mulher de Todos
Sinopse: Um fim-de-semana nas praias
da Ilha dos Prazeres, para onde viajam Plirtz e sua esposa Ângela Carne e Osso,
a mulher dos homens boçais, como ela mesma se define. Ela é casada com um
milionário, arrogante, proprietário de inúmeras empresas, dentre elas uma que
edita histórias em quadrinhos.
Sem estrutura definida e cheia de personagens
tão malucos quanto bizarros do que a protagonista. Há o doutor nazista fã
de quadrinhos (feito pelo Jô Soares!) e um toureiro que só se ferra na
mão de Ângela e com personagens disparando frases inacreditáveis de tão
impensáveis do que dialogando propriamente, a estética que Sganzerla imprime a
cada plano é algo incrível, filmando com a profundidade e noção de quadro de
Orson Welles interiores dignos dos filmes mais toscos da era dourada do nosso
cinema de sacanagem, uns exteriores anárquicos, e uma movimentação ininterrupta
de dar dor de cabeça. Esse filme, particularmente, é um verdadeiro teco na
cara tanto dos falsos moralistas quanto dos pseudo liberais, e uma verdadeira
saraivada de deboche e sarcasmo impensável na época da ditadura, e mais
impensável ainda agora que, mesmo sem a sombra da censura, vivemos numa sociedade politicamente correta demais hoje em dia para se pensar em fazer filme tão experimental em forma e
conteúdo assim dentro do cinema de ficção.
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