MISSÃO DADA, MISSÃO (QUASE) COMPRIDA.
Sinopse: Em um futuro não
muito distante, no ano de 2028, drones não tripulados e robôs são usados para
garantir a segurança mundo afora, mas o combate ao crime nos Estados Unidos não
pode ser realizado por eles e a empresa OmniCorp, criadora das máquinas, quer
reverter esse cenário. Uma das razões para a proibição seria uma lei apoiada
pela maioria dos americanos. Querendo conquistar a população, o dono da
companhia Raymond Sellars (Michael Keaton) decide criar um robô que tenha
consciência humana e a oportunidade aparece quando o policial Alex Murphy (Joel
Kinnaman) sofre um atentado, deixando-o entre a vida e a morte.
Fazer uma refilmagem que
supere a obra original, que é considerada um grande clássico, é mesmo que querer
reverter o curso de um rio. Por muito tempo Robocop ficou sendo alvo dos estúdios
para retornar aos cinemas, mesmo sobre uma avalanche de protestos perante o
projeto. Para a surpresa de todos, a árdua tarefa coube ao nosso cineasta José
Padilha, que se por um lado faz um trabalho que não supera o original, por
outro ele injeta a sua forma pessoal de se criar um filme e evita do projeto
ter ido numa direção muito mais delicada.
Felizmente, a produção não
cai na armadilha de se fazer uma mesma historia que embora ajam alguns pontos
em semelhança, o filme de Padilha se envereda para outras questões não
exploradas no original, como o fato de ser essencial um policial robô ter ainda
o seu lado humano para que possa então ganhar a confiança do publico. Mas
talvez uma das melhores coisas dessa mais nova versão é ver o protagonista ter
que aceitar a sua condição meio homem e meio maquina.
Alex Murphy (Joel Kinnaman)
é quase morto num atentado arquitetado por bandidos. Felizmente (ou não) consegue
a oportunidade de continuar ainda vivo, graças ao projeto da empresa OmniCorp
comandada por Raymond Sellars (Michael Keaton), que tem a ambição de colocar um
ser humano num robô policial. É ai que entra em cena o cientista Norton (Gary
Oldman), que é incumbido de transformar Alex numa maquina de combate contra o
crime.
Diferente do original, Alex
não descobre aos poucos que um dia foi um ser humano, sendo que imediatamente
ele acorda após a operação (numa seqüência de sonhos com direito a musica de
Frank Sinatra) e começa a encarar a dura realidade do que aconteceu com ele.
Sem sombra de duvida essa é uma das partes mais corajosas do filme, onde a
armadura é tirada gradualmente e revela o que somente sobrou de Alex embaixo da
carcaça de metal. É nesse ponto que Joel Kinnaman surpreende ao interpretar
Alex Murphy, pois ele passa para nós toda a dor que está sentindo e desejando
não estar naquela situação.
Com isso, o filme se envereda
mais no drama do personagem em ter que aceitar as suas condições meio homem e
meio maquina, sendo que ter uma vida normal com sua esposa (Abbie Cornish) e
filho será praticamente impossível. Em meio a isso, o protagonista passa por inúmeros
testes para ver se é correto um homem meio robô patrulhar as ruas. Ao mesmo
tempo, começasse gradualmente o filme revelar as reais intenções, tanto Raymond Sellars como também da própria policia
que um dia Alex trabalhou.
É ai que se encontra o
motivo pelo qual Padilha quis trabalhar nesse projeto, pois o filme faz com que
o cineasta volte a trabalhar num assunto bem espinhoso visto em Tropa de Elite
2: a policia vendida, que por vezes trabalha até mesmo para aqueles que ela
mesmo caça. Isso faz com que a trama não caia numa vala comum e faz com que a
gente questione aqueles que deixemos nossas vidas por um desejo de segurança.
Não há como negar que vemos
a forma de Padilha filmar em boa parte do filme, sendo que a sequência inicial
onde vemos inúmeros drones tentando fazer uma pacificação no Teerâ, faz com que
por um momento sentirmos a sensação que voltamos ao lado de Capitão Nascimento
subindo ao morro. Isso claro se deve ao fenomenal trabalho de Lula Carvalho, cuja
sua câmera sempre está em movimento e fazendo com que a gente sinta certa
verossimilhança nas cenas. Criasse então a sensação de um documentário sendo filmado
ao vivo, mas que não é muito de se admirar, já que o estrelado de Padilha e
seus técnicos vieram do seu primeiro grande sucesso de critica que foi o documentário
Ônibus 174.
Infelizmente nem tudo são
flores nessa produção, já que se ouviu que Padilha se incomodou muito com os
produtores que não queriam que ele tivesse 100% de liberdade criativa para
criar o filme. Se tiver um olhar mais atento, irá reparar que do inicio até o
final do segundo ato do filme é Padilha puro. Contudo, do inicio do terceiro
ato em diante, tem a sensação que os produtores meteram as mãos nas rédeas e
queriam que a trama tomasse um novo rumo.
Obviamente que isso
aconteceu, já que até mesmo a trama da um espaço para uma possível sequência,
caso o filme seja um sucesso que tanto o estúdio deseja. Vendo esse terceiro
ato como ficou, imagina então como o filme seria se não tivesse um diretor autoral
como Padilha que desse um pouco de alma para o projeto. Com certeza o resultado
final seria muito pior.
No final das contas o filme
é bem divertido, com boas doses de reflexão, mas que com certeza irá se tornar
um bom exemplo de filme que seria melhor, se não fosse ambição de produtores
falando mais alto.
2 comentários:
Seria bom se algum dia lançassem em DVD uma "versão do diretor"... sem as interferências dos produtores!
quem sabe, né?... levou uns 20 anos, mas fizeram isso com o original tbm (tenho o 1º robocop sem cortes e com cenas q não passaram no cinema)!!
Abs!
Eu tenho essa versão sem cortes que é bem mais violenta. Como eu disse, não é fácil mudar o curso do rio!
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