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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Cine Dica: Streaming - 'Round 6 -2ª Temporada'

Sinopse: Após vencer o sádico e famoso torneio, Gi-hun (Lee Jung-jae) busca vingança.

Hwang Dong-hyuk criou um dos maiores fenômenos da Netflix nos últimos tempos. "Round 6" (2021) retrata um reality show não muito diferente do que se vê no mundo real, mas cuja palavra "eliminado" significa ser morto durante o processo. Essa segunda temporada dá continuidade aos eventos vistos no ano anterior, mas alcançando um novo patamar e cuja violência se torna cada vez mais extrema.

Neste segundo ano, Gi-hun (Lee Jung-jae) decide investigar quem está por trás da competição para colocar um fim no cruel reality show. Usando o dinheiro que ele adquiriu na última competição, ele financia uma investigação particular para tentar localizar primeiramente o homem de terno que lhe deu o convite no passado. Porém, durante essa busca Gi-hun acaba retornando ao jogo e decide tentar salvar o maior número de vidas possíveis durante esse processo.

Embora a premissa seja semelhante ao ano anterior o personagem  Gi-hun não esconde em seu rosto as cicatrizes emocionais que ele adquiriu no passado após ter enfrentado inúmeros desafios. Portanto, vemos um protagonista maduro, entendedor sobre onde está pisando e procurando fazer com que os demais competidores esqueçam do grande prêmio e decidam em se manter vivos. Porém, os personagens vistos na tela se dividem entre a ganância e o desejo de resolver as suas vidas fora do jogo.

Por mais absurdo que seja a escolha de muitos ali dentro da história em continuar nesta competição mortal, a série é o retrato de uma sociedade cada vez mais presa na necessidade de continuar existindo através de um sistema capitalista que fazem com que o indivíduo se torne cada vez mais miserável, endividado e preso ao símbolo do poder do dinheiro. Se  Gi-hun aprendeu com duras penas que dinheiro não é tudo, por outro lado, conhecemos novos personagens que não possuem o mesmo pensamento, desde a influencer como também pessoas comuns endividadas e que se sentem em um beco sem saída.

Hwang Dong-hyuk nos apresenta personagens dos quais nos identificamos facilmente e fazendo com que as suas mortes se tornem ainda mais sentidas no decorrer dos jogos. Ao mesmo tempo, a aflição aumenta ainda mais a partir do momento que sabemos que os líderes desse misterioso e mortal reality show não facilitará a vida do protagonista e usando métodos que o fará acreditar que pode sim driblar esse sistema. O segundo ano termina de uma forma abrupta e fazendo com que o protagonista se sinta impotente perante as consequências de suas próprias ações.

Com um tremendo gancho para o terceiro ano, 'Round 6 -2ª Temporada' dá continuidade ao enorme sucesso da Netflix, mas não se deixando cair no óbvio e indo para um novo patamar em temos de desdobramentos dentro do enredo.

Onde Assistir: Netflix. 

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Cine Curiosidade: Retrospectiva Clube de Cinema de Porto Alegre | 2024

 
Confira o que os cinéfilos associados do clube assistiram em 2024 clicando aqui. 


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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Cine Dica: Em Cartaz - ''Anora"

Sinopse: Anora é uma prostituta do Brooklyn que casa impulsivamente com o filho de um oligarca russo. Mas o seu conto de fadas é ameaçado quando a família dele quer anular o casamento.

Sean Baker já pode ser apontado facilmente como um dos melhores diretores norte americanos que surgiram nos últimos tempos. Se eu forcei essa observação basta pegarmos títulos como "Projeto Flórida" (2018) para termos uma dimensão de sua criatividade através de tramas que exploram a vida complexa da vida das pessoas por mais simplória que ela seja. Em "Anora" (2024) o realizador cria uma análise sobre a geração Z completamente perdida dentro da nossa realidade cada vez mais absurda.

Na trama, acompanhamos Anora (Mikey Madison), uma dançarina que trabalha em uma boate no Brooklyn, nos Estados Unidos. Em uma noite normal, a garota descobre que pode ter tirado a sorte grande, pois acredita ter encontrado o seu verdadeiro amor após se casar de forma impulsiva com o filho de um oligarca, o herdeiro russo Ivan (Mark Eidelshtein). Porém, não demora muito para a mesma se dar conta que tudo o que ela sonhou pode desmoronar, pois ela não conhece o seu marido como deveria.

Assim como foi em "Projeto Flórida", o diretor Sean Baker procura filmar de uma forma um pouco mais crua, com a sua câmera quase tremendo e parecendo que em alguns momentos a ficção se torna um curioso documentário. Essa sensação aumenta ainda mais quando os protagonistas contracenam com pessoas que, podem ser figurantes, ou simplesmente pessoas normais que estavam passando no decorrer da filmagem e fazendo tudo mais verossímil e ao mesmo tempo dando a chance para os intérpretes agirem com maior naturalidade. Isso, porém, logo vai dando a lugar a situações que beiram ao absurdo, mas cujo o mundo real não é muito diferente do que é apresentado na história como um todo.

Alguns apontam "Anora" como uma espécie de "Uma Linda Mulher" (1990) do século vinte um, mas tiramos o lado de conto de fadas inserido naquela trama e temos então uma realidade nua e crua e cujo o termo "felizes para sempre" fica apenas na superfície. Brilhantemente interpretada por Mikey Madison, Anora sabe onde está pisando, mesmo quando aceita de forma impulsiva o pedido de casamento de Ivan. No lado de cá da tela sabemos que isso não acabará bem, mas jamais imaginávamos de que maneira começaria.

Sean Baker cria uma história que transita entre a comédia pastelão para dramática e culminando em situações absurdas a partir do momento que os responsáveis de Ivan descobrem que ele havia se casado. Se a câmera do realizador já estava frenética durante as cenas de festas e sexo entre os protagonistas, aguardem para os momentos em que o sonho de Anora se desmancha e participando de situações que beiram quase ao surrealismo. Só mesmo um filme não convencional como esse é que veríamos russos agirem de uma forma mais humana, menos grotesca e ao mesmo tempo atrapalhada.

Neste último caso, o personagem russo Igor, vivido pelo ator Yura Borisov, se torna uma espécie de representante do nosso olhar com relação aos principais eventos que ocorrem a partir do momento que o conto de fadas da protagonista acaba. Com ele, nós procuramos compreender a dimensão de toda a situação, além de tentarmos aceitar o fato que Anora, por mais que tivesse os dois pés no chão, ainda tinha um fio de esperança em achar que havia encontrado a felicidade que tanto procurava. Portanto, a cena final dela com Igor seriamos nós com desejo de abraçá-la para consolá-la, pois vivemos com uma geração de jovens que se dizem adultos cada vez mais alienados e fazendo com que certos valores acabem cada vez mais se perdendo ao vento.

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024, "Anora" é uma comédia extremamente humana, da qual ficamos de frente perante uma situação absurda, porém, muito mais próxima de nossa realidade do que a gente imagina. 

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Cine Dica: CINEMATECA CAPITÓLIO PROGRAMAÇÃO 30 de janeiro a 5 de fevereiro

VIVA – A VIDA É UMA FESTA NA SESSÃO VAGALUME

A primeira Sessão Vagalume do ano apresenta Viva – A Vida é uma Festa (2017), nos dias 01 e 02 de fevereiro, às 15h. Produzido pela Pixar e vencedor do Oscar de Melhor Animação, o filme é uma celebração emocionante da música, família e das tradições mexicanas!

Mais informações: https://www.capitolio.org.br/eventos/8179/sessao-vagalume-viva-a-vida-e-uma-festa/


SALÃO DE BAILE, KASA BRANCA E SOL DE INVERNO EM CARTAZ

Na quinta-feira, 30 de janeiro, três filmes entram em cartaz na Cinemateca Capitólio: Kasa Branca, de Luciano Vidigal, Salão de Baile, de Juru e Vitã, e Sol de Inverno, do japonês Hiroshi Okuyama. O valor do ingresso é R$ 16,00.


Mais informações: https://www.capitolio.org.br/programacao/


HOMENS DE BARRO – PRÉ-ESTREIA

Na terça-feira, 4 de fevereiro, às 19h30, a Cinemateca Capitólio recebe uma sessão especial de pré-estreia de Homens de Barro, de Angelisa Stein. Rodado no Rio Grande do Sul, o longa-metragem conta a história de um amor proibido entre dois homens em meio a rivalidades familiares. O valor do ingresso é R$ 16,00.


Mais informações: https://www.capitolio.org.br/eventos/8174/homens-de-barro/


GRADE DE HORÁRIOS

30 de janeiro a 5 de fevereiro


30 de janeiro (quinta-feira)

15h – Kasa Branca

17h – Sol de Inverno

19h – Salão de Baile


31 de janeiro (sexta-feira)

15h – Kasa Branca

17h – Sol de Inverno

19h – Salão de Baile


1º de fevereiro (sábado)

15h – Sessão Vagalume: Viva – A Vida é uma Festa

17h – Sol de Inverno

19h – Salão de Baile


2 de fevereiro (domingo)

15h – Sessão Vagalume: Viva – A Vida é uma Festa

17h – Kasa Branca

19h – Salão de Baile


4 de fevereiro (terça-feira)

15h – Kasa Branca

17h – Misericórdia

19h – Homens de Barro (pré-estreia)


5 de fevereiro (quarta-feira)

15h – Kasa Branca

17h – Sol de Inverno

19h – Misericórdia

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Cine Dica: Em Cartaz - 'Conclave'

Sinopse: O filme acompanha os eventos da votação de um novo Papa mas tendo desdobramentos surpreendentes. 


Edward Berger surpreendeu o mundo com o seu filme de guerra "Nada de Novo no Front" (2022), filme que foi conquistando o público e a crítica aos poucos e levando diversos prêmios. Era só uma questão de tempo para que o realizador pudesse adquirir um projeto que chamasse novamente a nossa atenção. Em "Conclave" (2024) vemos um realizador seguro de si, mesmo correndo sério risco de comprar briga com a Igreja Católica por um longo tempo.

Baseado na obra de Robert Harris em 2006, o filme conta sobre os eventos de uma das votações mais secretas do mundo que é a escolha para um novo Papa. O Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é encarregado de executar esse processo de votação após a morte do Papa anterior. Porém, na medida em que a votação avança, o Cardeal descobre certos segredos do falecido Pontífice e que pode afetar diversos cardeais que estão na disputa.

Quando eu soube que o filme era baseado em um livro de sucesso em que a trama se passava no Vaticano logo me veio à mente a série de livros de Dan Browm, dos quais funcionam muito bem no universo literário, mas que se tornaram vazios quando foram adaptados para o cinema. Felizmente Edward Berger consegue fazer com que a trama se torne verossímil para os padrões da sétima arte, mesmo com os desdobramentos que acontecem no decorrer do enredo quase a todo momento. Porém, essas reviravoltas fazem com que a nossa atenção se torne ainda mais redobrada e para que assim analisemos os principais personagens vistos na história.

Logicamente Ralph Fieenes é o melhor em cena do começo ao final da obra, ao criar para si um Cardeal Lawrence ambíguo, do qual não aceita a possibilidade de ser o próximo Papa. Porém, no decorrer do tempo, suas ações para descobrir os mistérios que envolvem a morte do Pontífice o faz descobrir segredos que põem em xeque a conduta de vários candidatos e ao mesmo tempo fazendo com que se fortaleça durante a votação. Contudo, a todo momento ele deixa claro que não deseja esse fardo, mas Fiennes se sobressai ao construir um personagem que transita entre o desejo e a falta de fé perante as mudanças que a Igreja adquiriu nos últimos anos.

O filme em si fala sobre o status da igreja Católica atual, sendo cada vez mais ofuscada pelas demais religiões e sendo afundada por acusações nos últimos anos que chocaram o mundo.   Edward Berger, portanto, cria um cenário que não é muito diferente de um "Game Of Trones", onde o jogo político, traições e revelações não são nenhum pouco diferentes do que acontece por detrás das cortinas dos mais diversos poderes do mundo, mas cuja última diferença é a palavra de Deus no meio e da qual influencia todos os cantos do globo. Todos presentes na trama desejam ser o futuro Papa, mas não escondem o fato de também serem seres humanos com diversas falhas, mas das quais são suficientes para perder a chance ao trono.

Embora muitas cenas tenham sido filmadas no Vaticano, a produção foi proibida de filmar dentro da Capela Sistina. Isso, porém, não impediu Edward Berger em montar uma incrível cópia do lugar e fazendo com que a edição de arte se torne um dos grandes pontos positivos da parte técnica. Vale destacar o belo casamento nas edições de cena com a trilha musical, fazendo com que a votação secreta se torne dinâmica e aumentando um certo grau de suspense na medida em que a trama avança. Isso culmina em uma situação inesperada e fazendo com que a trama tome um rumo inesperado.

Neste último caso, devo reconhecer que o escritor Robert Harris foi corajoso na finalização de sua obra, cuja intenção talvez seja fazer uma crítica ácida contra a própria igreja e cuja mesma se afunda em um conservadorismo ao invés de abrir as portas atualmente para a diversidade. Portanto, a cena final do protagonista vendo e ouvindo os risos das irmãs correndo no pátio seria um sinal de que certas mudanças precisam ser aceitas, mesmo quando elas ainda são cobertas por medo ou preconceito cego e que prejudica o resto do mundo. É uma pena portanto que boas ideias ainda permaneçam na ficção.

"Conclave" é um filme envolvente, corajoso e que mostra as entranhas de um Vaticano movido por política, ambição e o medo perante as novas mudanças que ocorrem no mundo. 

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Cine Especial: 'David Lynch - O Mestre do Surreal'

É engraçado a maneira como conheço determinados cineastas e que, por vezes, foi de forma tardia, mas muito bem-vinda. Conheci David Lynch mais precisamente nos tempos em que eu comprava a revista de cinema Set, onde a edição tinha o saudoso ET na capa. Na edição, havia uma retrospectiva sobre a carreira do realizador, sobre a forma como ele conduzia as suas obras e uma crítica sobre o seu último filme daquela época que viria a ser um dos meus favoritos, "Cidade dos Sonhos" (2001). 

“Os filmes não precisam ter sentido, pois a própria vida não tem" 

David Lynch 


Essa frase era uma de muitas em que o realizador usava como justificativa para explicar os seus longas, sendo na maioria das vezes são tramas em que há uma transição para o verossímil para situações surrealistas e que nos fazem criar um nó em nossas cabeças. Em sua juventude ele sempre pulava de uma Universidade para outra, pois quase nenhuma lhe agradava na questão do ensino das artes plásticas. Porém, foi na universidade da Belas-Artes da Pensilvânia em que ele finalmente se formou e das artes teve o seu primeiro contato na realização de curtas metragens.

"Six Men Getting Sick" (1966), "The Alphabet" (1968), "The Grandmother" (1970) e "The Amputee"(1974) foram curtas que já colocavam o cinéfilo fora de sua zona de conforto e faziam com que os mesmos ficassem pensando sobre o que realmente haviam testemunhado. Essa estranheza fez com que os seus futuros projetos demorassem para ganhar sinal verde para serem realizadores, ao ponto que o seu primeiro longa "Eraserhead" (1977) levasse anos para ser concluído. Porém, o filme ganhou status de cult rapidamente, pois a obra acabou sendo revisitada diversas vezes em sessões da meia noite, além de ganhar grande prestígio nas cinematecas e posteriormente sendo preservado pela National Film Registry na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos como "cultural, histórico ou esteticamente significativo".

Em 1980, David Lynch realizou o seu primeiro longa em que obteve sucesso de público e de crítica de forma imediata que foi "O Homem Elefante", longa que reconstitui a história real de John Merrick (John Hurt) que nasceu desfigurado e parecia estar condenado a uma triste existência como atração de um show de aberrações. Com oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Diretor e Melhor Filme, o realizador acabou sendo convidado a dirigir os mais diferentes tipos de ideias que poderia imaginar, mas ao mesmo tempo conhecendo o inferno quando os produtores não estavam de acordo com a sua visão autoral e interferiam em suas obras. A sua versão sobre "Duna" (1984), por exemplo, se tornou um fracasso para época mesmo tendo sido cultuada no decorrer dos anos, mas sendo o suficiente para que Lynch fugisse cada vez mais dos produtores que quase sempre metiam o dedo nos seus projetos.

Isso não o abalou, pois já em 1986 ele lançaria "Veludo Azul", longa que conta a enigmática história do jovem Jeffrey Beaumont (Kyle MacLachlan) que certo dia encontra na grama uma orelha decepada. Essa descoberta lhe faz adentrar em uma trama surpreendente, em que envolve máfia, drogas sexo e momentos absurdos. O filme marcou um dos primeiros grandes sucessos da carreira das atrizes Isabella Rossellini e principalmente de Laura Dern. 



“Eu não estava desiludido com o cinema, eu estava sem paciência para os processos e a estrutura que tinha se criado em torno do cinema” 

David Lynch


Novamente indicado a diversos prêmios, Lynch novamente foi convidado por outros grandes estúdios, mas sempre procurava se distanciar dos mesmos, pois não queria conviver novamente com uma experiência desagradável que teve como "Duna". Por conta disso, ele sempre procurou novos meios de expandir o seu trabalho, mesmo não sendo no formato do cinema como um todo. Só isso para explicar o seu envolvimento com a série "Twin Peaks" (1990), programa criado pelo canal ABC em que o realizador foi o diretor e roteirista de boa parte da primeira temporada.

Até aquela época existia uma grande diferença em se fazer cinema e TV, sendo que neste último caso servia mais como refúgio de realizadores que não obtinham mais prestígio na tela grande. Porém, a história sobre Laura Palmer (Sheryl Lee) que é assassinada e cujo caso é investigado pelo agente do FBI Cooper (Kyle MacLachlan), se tornou um verdadeiro fenômeno de audiência, além de revolucionar a linguagem televisiva e se tornando ainda mais próxima do que se faz no cinema. Pode-se dizer que o programa foi algo à frente do seu tempo e servindo até mesmo de influência para outras séries como "Arquivo X" e "LOST".

Embora com todo o sucesso, Lynch também sofreu nas mãos dos produtores da época, fazendo com que a série fosse mais além da premissa principal da trama e fazendo com que o realizador somente retornasse no episódio final da segunda temporada. Após isso, o realizador conquistaria novamente outro grande sucesso através de "Coração Selvagem" (1990), um roadie movie estrelado por Nicolas Cage e Laura Dern e que presta uma bela homenagem a outros clássicos como "O Mágico de Oz" (1939). O resultado foi a Palma de Ouro em Cannes dada merecidamente para o realizador.

Porém, não satisfeito com a conclusão da segunda temporada de "Twin Peaks", o realizador decidiu na criação de um longa-metragem em 1992 e que ficasse nos últimos dias de Laura Palmer. O filme explorou o grande talento da atriz Sheryl Lee, além do fato do diretor ter tido o direito de fazer tudo o que ele queria e que não havia sido feito para a série. O resultado foi um filme em que adentrava ainda mais o surrealismo do cineasta e cujos sonhos e pesadelos seriam o seu cartão de visita.

Vale mencionar os cenários que o realizador construía para os seus filmes, sendo que uma de suas principais características era as cortinas, sejam elas vermelhas ou azuis, que moldavam o local como um todo. Ao meu ver os cenários serviam como um simbolismo em que se escondia os verdadeiros fatos da trama principal. Portanto, a homenagem que o realizador fez ao "Mágico de Oz" em "Coração Selvagem" não é mera coincidência, pois na fantasia sempre há um fundo de verdade.  


"Ideias são como peixes. Se quiser pescar peixes pequenos, pode ficar na água rasa. Mas se quiser pescar peixe grande, precisará ir mais fundo. No fundo, os peixes são mais poderosos e mais puros. São enormes e abstratos. E eles são muito bonitos". 

David Lynch 

Embora seja apreciado por muitos daqueles que vivem da Hollywood, David Lynch nunca escondeu o seu desapontamento com relação a cidade, sendo rotulada como a terra das oportunidades para aqueles que buscam pelo sucesso, mas que por vezes se tornam somente meros sonhos. Diante desse pensamento ele criou uma espécie de trilogia não oficial sobre o lado mais sombrio desta cidade, sendo que o primeiro longa "Estrada Perdida" (1997) é uma jornada complexa sobre Fred Madison (Bill Pullman), um saxofonista que é casado com Renee (Patricia Arquette) e da qual ele suspeita que ela esteja sendo infiel a ele. Ao mesmo tempo, eles recebem uma fita VHS com imagens do lado de fora da sua casa.

Esse é o ponto pé inicial de uma trama que foge completamente das regras de um cinema convencional, onde os personagens fogem para se esconderem através de outras identidades e sendo uma verdadeira crítica ácida à própria Hollywood. Curiosamente, o realizador fez uma pausa do seu surrealismo para algo mais verossímil que foi "História Real" (1999), onde vemos um aposentado (Richard Farnsworth) que atravessa os EUA com um pequeno trator para reencontrar o seu irmão (Harry Dean Stanton) que está doente. Embora com uma trama simples, David Lynch nos passa ideia através desse longa que as situações cotidianas da vida podem sim serem mais estranhas do que a sua própria visão na criação de suas obras.  


“Toda coisa no mundo feita por alguém começou com uma ideia. Então apanhar uma poderosa o suficiente para te apaixonar, é uma das experiências mais belas. É como ser atingido por eletricidade e conhecimento ao mesmo tempo.” 

David Lynch 

Voltando a sua trilogia particular sobre Hollywood, Lynch realizou em 2001 o que talvez seja a sua maior obra prima e um dos meus filmes favoritos. "Cidade dos Sonhos" marcou o primeiro grande sucesso da atriz Naomi Watts, cuja a sua personagem busca pelo seu sucesso na cidade do cinema, mas se vê em um mistério a partir do momento que ajuda Rita ( Laura Harring) que se encontra sem memória. Se o filme possui certa compreensão em seu primeiro ato, logo ele dá um verdadeiro giro de 360º graus e fazendo com que tudo o que a gente estava assistindo seja questionado e analisado.

Inicialmente pensado para ser uma série de tv, o projeto foi recusado pelo canal por ser confuso demais para os engravatados e fazendo com que Lynch fizesse alterações para que fosse levado ao cinema como um longa-metragem. O filme foi um dos primeiros longas da história a ser diversas vezes citado em redes sociais no início do século, onde os fãs levantaram diversas teorias sobre a trama e sendo uma mais criativa do que a outra. Prêmio de direção no Festival de Cannes de 2001, além de uma indicação ao Oscar de Melhor Direção, "Cidade dos Sonhos" é o único filme do século XXI presente na atual lista dos melhores filmes de todos os tempos, da tradicional revista Sight & Sound, ocupando a 8ª posição e considerado o melhor filme do século também segundo a lista dos 100 melhores, da BBC.

Fechando a sua trilogia temos então "Império dos Sonhos" (2006), filme estrelado por novamente por Laura Dern, onde ela interpreta uma atriz que recebe a proposta de atuar em um novo projeto, mas cuja a sua identidade se perde no decorrer do caminho. Isso o que eu falei é somente uma implicação desse filme complexo, já que inicialmente David Lynch queria somente realizar um experimento com câmeras digitais, sendo uma novidade para época e cuja cenas rodadas poderiam se interligar, ou não, com as demais que ele ia rodando ao longo do projeto. Reavaliando agora, percebo que o longa não somente encerra a sua jornada com relação a essa trilogia, como também pode ser rotulado como espécie de carta de Adeus para o próprio cinema. 

"Nem sempre sou bom com as palavras. Algumas pessoas são poetas e têm uma linda forma de se expressar com palavras. Mas o cinema é sua própria linguagem. E, com ele, você pode dizer tantas coisas, porque você tem tempo e sequências. Tem diálogo. Tem música. Tem efeitos sonoros. Tem tantas ferramentas. E então você pode expressar um sentimento e um pensamento que não poderiam ser transmitidos de nenhuma outra forma. É um meio mágico". 

David Lynch 


Após "Império dos Sonhos" o realizador se dedicou à meditação e pintura no decorrer dos anos, sendo que em 2007 ele somente dirigiu um curta de apenas três minutos para longa "Cada um com seu Cinema" (2007). Porém, o realizador voltaria para direção de um grande projeto, mas novamente para tv e surpreendendo os seus fãs ao retornar para o universo de Twin Peaks. Tendo total controle criativo no decorrer de dezoito episódios, o realizador cria uma belíssima experiência sensorial fazendo com que o programa se tornasse puramente cinema da sua maneira.

Nos seus últimos anos de vida, o diretor foi visto atuando em longas como "Os Fabelmans" (2022), de Steven Spielberg, onde interpretou ninguém mesmo que o próprio John Ford. Diagnosticado anos atrás com enfisema pulmonar, David Lynch sabia que isso poderia provocar a sua morte, porém, ele jamais largou o seu vício pelo cigarro, pois sempre estava consigo durante os seus pensamentos para a realização dos seus projetos. Por fim, o realizador repousaria para o seu sono eterno no último dia 16 de janeiro e deixando um legado único para os fãs do cinema como um todo.

Para mim foi com uma enorme tristeza quando recebi a notícia, pois ele ser o criador de um dos meus filmes preferidos, que é "Cidade dos Sonhos", é como se eu tivesse perdido aquele parente próximo, do qual é rotulado o menos sociável da família, mas que eu sempre o via com outros olhos. Claro que há e haverá outros diretores que tentarão sair da zona de conforto para ter a chance de criar algo no mínimo diferente, mas que dificilmente obterão o mesmo patamar que o cineasta havia obtido. Ele foi um estranho no ninho em uma Hollywood viciada na realização do óbvio, mas que será lembrado como um dos poucos que elaboraram algo reflexivo em um sistema cinematográfico movido apenas pelo dinheiro.

Descanse em paz senhor David Lynch e que continue servindo de inspiração para aqueles que apreciam a verdadeira arte de se fazer cinema para os próximos anos que virão.  

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Cine Dicas: Estreias do Final de Semana (24/01/25)

 CONCLAVE 

Sinopse: Um m dos eventos mais secretos e antigos do mundo: a escolha de um novo Papa. Após a morte inesperada do atual pontífice, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é encarregado de conduzir esse processo confidencial. Os líderes mais poderosos da Igreja Católica de todo o mundo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção, cada um com suas próprias ambições.


ANORA

Sinopse: Anora, uma profissional do sexo do Brooklyn, conhece e se casa com o filho de um oligarca. Assim que a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado quando os pais de seu marido partem para Nova York para anular o casamento.



Paddington - Uma Aventura na Floresta

Sinopse: O urso icônico retorna ao Peru com a família Brown para uma emocionante jornada pela Amazônia, enfrentando desafios e celebrando amizade e coragem Classificação indicativa 10 Anos. Contém violência.

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