Sinopse: A catadora de recicláveis Gal decide fugir dos abusos do marido Leandro após tentar denunciá-lo e ser ignorada pela polícia.
Anna Muylaert é uma cineasta que se consolidou ao dirigir tramas que explorassem as mais diversas camadas da família contemporânea brasileira. Se em "Que Horas Ela Volta?" (2015) ela explorava o papel da empregada doméstica dentro de uma família que a tratava com um ser invisível, por outro, em "Mãe só há Uma" (2016) é uma análise delicada sobre o fato que nem sempre os laços de sangue formam um laço familiar saudável. Em "A Melhor Mãe do Mundo" (2025) a realizadora vai mais a fundo sobre a luta de uma mulher perante os abusos e o trabalho árduo de sobreviver e cuidar dos seus filhos.
Na trama, acompanhamos a catadora dada Gal (Shirley Cruz) que decide fugir dos abusos do marido Leandro (Seu Jorge) após tentar denunciá-lo para a polícia. Querendo proteger seus filhos, a mulher fode de casa, coloca suas duas crianças pequenas, Rihanna e Benin, na carroça e as leva numa jornada pela cidade de São Paulo. Não demora muito para eles passarem por diversos obstáculos nesta jornada, desde dormir na rua, como também passar fome.
Anna Muylaert acerta ao focar no primeiro plano do longa atuação assombrosa de Shirley Cruz como Gal, onde através da sua expressão concluímos que estamos diante de uma pessoa que já passou por diversas adversidades, mas que não desiste para proteger ao que mais preza na vida. A realidade da personagem é uma de inúmeras mulheres do Brasil que passam por diversos obstáculos, além de sofrer abusos nas mãos de um machismo que não pode ser mais tolerado neste último caso, por exemplo, esse papel é muito bem defendido pelo Seu Jorge, do qual nos causa repulsa, mas ao mesmo tempo pena ao se entregar ao vício da bebida e de uma mentalidade atrasada.
Tecnicamente o filme é impecável em termos de edição, já que Anna Muylaert cria um filme dinâmico, onde quase todo o tempo acompanhamos a protagonista como se fosse a nossa guia e termos uma melhor noção de sua realidade nua e crua. Com um movimento de câmera quase documental, o filme nos ressoa família, já que no dia a dia sempre cruzamos com uma Gal, mas nunca damos a devida atenção como merecia. No final das contas, é uma representação de uma mulher forte em proteger os filhos e a si mesma, mesmo quando se balança na possibilidade de retornar para alguém que não vale a pena.
Acima de tudo, o coração do filme pertence a interação entre Gal e os pequenos atores, onde cada um deles nos brinda com atuações singelas, verossímeis e muito próximo da realidade. Ao mesmo tempo, o filme é uma análise lúcida do outro lado da moeda, onde vemos uma parte da sociedade excluída, mas que ajuda uns aos outros perante situações desesperadoras. O final dá um fio de esperança, mesmo quando a gente se pergunta qual será o futuro daquela família.
"A Melhor Mãe do Mundo" é o retrato cru de uma mulher invisível para a maioria da sociedade, mas que existe e segue em frente.
Onde Assistir: Netflix.
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948



Nenhum comentário:
Postar um comentário