Quando se pensa no estúdio Ghibli logo vem em nossa mente obras primas cuja fantasia nos conquista, como foi no caso do clássico "A Viagem de Chihiro" (2001). Porém, é curioso observar como o mesmo estúdio realizava obras bem próximas que levantasse dilemas vindos de nossa realidade, mas jamais se esquecendo de um toque mágico. "Sussurros do Coração" (1995) é um desses casos em que a fantasia fica em segundo plano, mas fazendo a gente se dar conta o quanto o nosso mundo real pode sim ser verdadeiramente fantástico.
Dirigido por Yoshifumi Kondō, que infelizmente viria a falecer quando entregou esse filme, a trama conta a história de Shizuku Tsukishima, uma estudante de 14 anos, muito leitora e frequentadora de bibliotecas, que mora com seus pais e sua irmã mais velha. Enquanto lia seu cartão para verificar o dia da entrega de seus livros à biblioteca, algo a deixa intrigada, o nome Amasawa Seiji aparece em todos os livros emprestados à menina. A partir deste momento, ela resolve investigar quem é essa pessoa que compartilha de seu mesmo gosto literário.
O filme já começa de uma forma bastante curiosa, já que as primeiras cenas são embaladas pela música "Country Road" que originalmente é de John Denver. A escolha da canção por Miyazaki foi proposital, com base na crítica sobre asfaltar as colinas fazendo as pessoas terem cada vez menos contato com a natureza.
Estrada do interior
Sinto como se esta longa estrada
Sempre levasse àquela cidade
Estrada do interior
Mesmo que venham momentos difíceis
Eu nunca vou derramar uma lágrima
Sem coração, eu vou pegar logo o jeito
E apagarei as memórias
Estrada do interior
Esta estrada leva até minha cidade natal
Eu quero ir, mas não vou
Estrada do interior
Estrada do interior
Amanhã continuarei sendo eu
Quero voltar, mas não posso
Adeus
Estrada do interior
A música sintetiza a beleza com relação a natureza alinhada com a arquitetura da cidade onde a protagonista vive. É impressionante os detalhes de cada cena, como se os realizadores do estúdio tivessem escolhido cada local de forma específica para então ser adaptado para a tela. O resultado é um mosaico cheio de detalhes, onde cada ponto pode ter um maior significado, principalmente com relação à figura de um gato. Curiosamente, a figura de um gato fofo terá um papel fundamental dentro da trama, assim como um gato de cerâmica que possui uma incrível história.
É a partir dele, por exemplo, que a nossa pequena protagonista decide criar a sua própria história para, não somente fugir dos dilemas com relação ao mundo real, como também se encontrar consigo mesmo. É neste ponto que o filme dá espaço ao gênero fantástico tão conhecido pelo estúdio, sendo que ele surge de forma esporádica, mas em momentos que fazem toda a diferença para a protagonista. Vale salientar que a figura de cerâmica do gato possui uma das mais belas histórias de amor que eu assisti em um anime, mas só assistindo para compreenderem isso.
Acima de tudo, é um filme que cada um se identificará de uma forma diferente. Se você assiste a esse longa quando novo irá ter uma perspectiva completamente diferente quando revê-lo, principalmente quando você for ainda mais velho. É um longa que levanta questões sobre o que você quer ser na vida, se você quer ser realmente você mesmo, ou seguir um caminho que outros ditam. Não é um filme que nos diz que é preciso mudar de vida, mas sim aproveitar ela.
Lançado recentemente em DVD especial pelo selo Obras Primas do Cinema, "Sussurros do Coração" é um filme que eu conheci somente recentemente, mas que fala muito sobre mim e da maioria de nós que busca o seu lugar neste mundo mágico e cheio de mistério.
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