Sinopse: uma releitura sombria do conto de fadas Cinderela, onde Elvira, uma jovem que não se encaixa nos padrões de beleza da corte, luta para conquistar o príncipe, rivalizando com sua bela meia-irmã, Agnes (Cinderela).
Os contos de fadas, principalmente aqueles escritos pelos irmãos Grim, possuem um teor bastante sombrio e sendo verdadeiro contraste se formos comparar com as suas adaptações feitas pela Disney. No conto original da "Pequena Sereia", por exemplo, Ariel morre e sendo que o próprio Disney quando ainda era vivo desejava que a sua versão fosse a mais fiel ao conto. "A Meia-Irmã Feia" (2025), porém, vai pôr um outro caminho sobre o conto de Cinderela, mas com um teor pesado, com humor ácido e que chocou as plateias que tiveram coragem de assistir.
Dirigido por Emilie Blichfeldt, essa produção norueguesa conta a história de uma viúva chamada Rebekka, que tem duas filhas, Elvira e Alma; um viúvo mais velho, Otto, tem uma filha chamada Agnes. Endividados e cada um confundindo o outro com dinheiro, Otto e Rebekkah se casam e unem suas famílias. As esperanças de riqueza e privilégio de Rebekka são frustradas quando, na noite de núpcias, Otto morre e a família descobre que ele, na verdade, não tem um tostão. Rebekka usa todos os meios para que Elvira se torne uma bela mulher para conquistar o príncipe local, mas transformando a vida da jovem em um verdadeiro inferno.
O filme possui elementos do já clássico "Cisne Negro" (2009) e do mais recente "Substância" (2024) que deu o que falar. Em comum se percebe que as protagonistas lutam em busca da perfeição e aqui no caso não é diferente, pois vemos Elvira lutar para mudar o seu nariz, assim como também emagrecer e usando um método, por vezes, sinistro para se dizer o mínimo. A protagonista participa de cenas que são difíceis de encarar, sendo que Emília Blichedt trata tudo isso como uma espécie de metáfora dos tempos não tão distantes em que as mulheres se sujeitam de todas as maneiras para agradar homens que não valiam os seus esforços.
Vale destacar o papel do homem visto aqui na trama, sendo que na maioria dos casos não passam de assediadores, mesquinhos e manipuladores. Neste cenário vemos, portanto, mulheres lutando para sobreviverem, mas perdendo a sua dignidade e se entregando aos meros prazeres que a ala masculina tanto anseia. Neste cenário temos então Elvira que sonha com o seu príncipe encantado, mas logo descobre que tudo é espantado pelo vento.
Lea Myren nos brinda com uma das interpretações mais perturbadoras e intensas do ano, pois a sua Elvira nos transmite, tanto lucidez como também traços de loucura através do seu olhar que não esconde suas cicatrizes emocionais que ganha no decorrer do tempo. Pode-se dizer que a sua Elvira transita entre o lado meigo para um teor sombrio do qual a própria procura enfrentar para não despertar. Porém, os obstáculos que ela enfrenta desencadeiam tantas situações absurdas que muitas aderem ao puro gore e fazem a gente recuar os olhos por alguns momentos.
Curiosamente, Alma, interpretada pela atriz Flo Fagerli possui um papel significativo no ato final, principalmente pelo fato da própria encarar o terrível status em que a sua irmã se encontra e tomando espécie de esperança em meio ao pesadelo que Elvira se encontra. Embora pouco explorada no decorrer da trama, Alma se torna uma espécie de força matriz para que Elvira se salve antes que perca a sua sanidade. Os minutos finais, por sua vez, servem como alívio, mas não tirando o peso que foi jogado diante dos nossos olhos no decorrer da projeção.
Com uma fotografia deslumbrante, assim como uma edição de arte e figurino que nos enche os olhos, o filme tem chamado atenção por onde passa e surpreendendo os desinformados que até então não imaginavam que se tratava de uma versão sombria do conto de Cinderela. Em tempos em que a figura do Príncipe encantado se torna cada vez mais banal, o filme vem para dar um verdadeiro tapa na cara para aqueles que ainda acreditam em conto de fadas, sendo que os contos raízes já nos dizia que o mundo, por vezes, é cruel e que não é necessário um lobo atrás da porta nos esperando, pois já existe muitos em volta. O filme, portanto, vem nos dizer que não adianta esperar pelo príncipe lhe beijar para acordar, pois é você mesma sozinha que precisa se levantar.
"A Meia-Irmã Feia" é um verdadeiro soco no estômago para aqueles que ainda sonham acordados na espera do seu Príncipe Encantado.
Faça parte:
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948



Nenhum comentário:
Postar um comentário