Sinopse: Um cientista brilhante, mas egoísta, traz uma criatura monstruosa à vida em um experimento ousado que, em última análise, leva à ruína tanto do criador quanto de sua trágica criação.
Guillermo del Toro construiu a sua carreira através do que leu e assistiu em sua vida. Através dos seus filmes testemunhamos seres que mais parece que saíram de um velho armário, mas todos moldados com coração e perfeccionismo. "'Frankenstein" (2025) é a realização de um sonho antigo do cineasta e que obtém aqui com certo êxito.
Na trama, acompanhamos o cientista Victor Frankenstein (Oscar Isaac) que decide criar vida através de corpos de falecidos durante a guerra. Da tragédia nasce a sua criatura (Jacob Elordi), mas da qual é abandonada pelo seu criador a partir do momento que ela não corresponde com as suas expectativas. O monstro, por sua vez, irá assombrá-lo por tê-lo abandonado no passado.
É notório que Guillermo del Toro é um grande fã dos filmes de horror clássicos, principalmente aqueles do início dos anos trinta lançados pelo estúdio Universal. Mesmo não sendo exatamente fiel a obra de Mary Shelley a versão de 1931, dirigida por James Whale e protagonizada por Boris Karloff, se tornou um dos maiores clássicos da história do cinema e que com certeza moldou a mente do cineasta e fazendo surgir dentro de si a ideia de realizar uma adaptação de sua autoria. O resultado é um filme que possui todos os ingredientes do que já tínhamos visto em seus longas anteriores, mas ao mesmo tempo sendo fiel a obra literária da escritora Mary Shelley.
Visualmente o filme é um verdadeiro espetáculo, onde a fotografia de cores vibrantes é algo que não via em sua filmografia desde "A Forma da Água" (2017) e cuja edição de arte remete, não somente o seu lado perfeccionista, como também o melhor do que se testemunhava nos filmes de horror de antigamente, seja eles feitos nos EUA, como também daqueles feitos na Itália e dirigidos por Mario Bava e Dario Argento. É impressionante testemunharmos uma história tão conhecida pelo público sendo adaptada por um outro ângulo, onde o visual e até mesmo objetos a gente reconhece que já tínhamos presenciado em seus outros projetos. Quem acompanhou a carreira do diretor desde o início irá reparar referência de seus outros longas, que vai desde "A Espinha do Diabo" (2001), como também o próprio "O Labirinto do Fauno" (2006).
Porém, o realizador também faz pequenas, porém significativas homenagens às outras adaptações do conto como um todo. Se a já citada versão de 1931 é homenageada em algumas passagens do longa, por outro lado, até mesmo a versão da Hammer, "A Maldição de Frankenstein" (1957) é homenageada em uma rápida, porém significativa cena. Em suma, é um prato cheio para cinéfilos atentos, mas ao mesmo tempo um convite para despertar a curiosidade daqueles que não assistiram as outras versões do clássico literário.
Moldado com grandes talentos, cada intérprete se entrega ao máximo em cena e se alinhando com o lado obsessivo do cineasta com relação à adaptação. Oscar Isaac cria para si um Frankenstein obsessivo em derrotar a morte, ao ponto de ser alguém animalesco, porém, não caricato e despertando em nós admiração e ódio. Já a criatura ganha vida através de uma ótima atuação de Jacob Elordi que, mesmo sob uma pesada maquiagem, consegue nos passar confusão, doçura e raiva em todas as medidas. É a versão do monstro mais humana que eu já assisti desde a adaptação de 1994 comandada por Kenneth Branagh e talvez a mais próxima da ideia primordial da versão literária de Mary Shelley.
Curiosamente, Mia Goth nos brinda com uma versão de Elizabeth que ressoa diferente de todas as outras adaptações. Visualmente se casando com perfeição com a visão autoral de Guillermo del Toro, a atriz se sobressai com uma Elizabeth complexa sobre as questões sobre a paixão, vida e morte e cujo encontro com a criatura se torna simbólico e posteriormente trágico. Não posso também deixar de mencionar como é ótimo rever Christoph Waltz em cena, cujo seu personagem desperta ainda mais a obsessão de Frankenstein e o levando por um caminho sem volta.
Embora seja uma versão nova de um conto tão conhecido, por outro lado, é curioso observar que Guillermo del Toro dá espaço para a visão dos fatos, tanto aquela feita por Frankenstein, como também dita pela própria criatura. A passagem do homem cego, por exemplo, ganha ainda maior relevância ao ser narrada pelo monstro e explorando ainda a possibilidade que Mary Shelley tenha se inspirado, tanto no mito Prometeu, como também até mesmo com relação às passagens do velho testamento. Ou seja, um conto que levanta o debate sobre até que ponto o homem pode brincar de Deus e cujo esse debate ainda funciona até nos dias de hoje, onde a humanidade cada vez mais se perde na tecnologia e perdendo aos poucos a sua real essência.
Eu só acho uma pena que Guillermo del Toro tenha se apressado por demais em seu ato final, cuja algumas passagens foram resumidas por demais e culminando no mesmo cenário em que a trama havia começado. Além disso, o perdão visto nos minutos finais da trama poderá talvez soar forçado por alguns, principalmente depois de tudo o que a criatura passou. Isso, porém, não diminui o impacto visual e emocional que a obra passa e que, para mim ao menos, foi um prato cheio do mais puro cinema.
"Frankenstein" é um dos maiores feitos da carreira de Guillermo del Toro e cujo feito tardou, mas não falhou em seu propósito principal.
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