Sinopse: Um ex-membro de um grupo busca ajuda de outros revolucionários para encontrar sua filha.
Quando Paul Thomas Anderson lançou o seu primeiro grande sucesso "Boogie Nights - Prazer Sem Limites" (1998) alguns críticos da época apontavam como um novo Quentin Tarantino, o que é na verdade um grande erro, já que o realizador tem uma visão própria para realização dos seus longas. Tanto "Magnólia" (1999) como "Sangue Negro" (2008) se percebe um ritmo constante, alinhado com uma trilha sonora frenética e fazendo com que a gente não pisque na frente da tela. "Uma Batalha Após a Outra" (2025) não é somente um dos seus grandes filmes de sua carreira, como pode entrar facilmente na lista dos melhores filmes deste século, mesmo correndo o risco de eu estar errado.
Na trama, Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio) é um ex-revolucionário que sai da aposentadoria para resgatar a sua filha (Chase Infiniti). O sequestrador é o capitão Steven J. Lockjaw (Sean Penn) e que no passado possuía certa ligação com a guerrilheira erfidia Beverly Hills (Teyana Taylor). Nesta cruzada, as verdades vem à tona em meio a uma realidade opressiva.
Embora o filme se passe em um futuro distópico dos EUA não há como negar que ele não é muito diferente da nossa realidade atual, já que o governo norte americano está cada vez mais se isolando do mundo devido às suas leis retrógradas contra a imigração e revelando ainda mais um cenário racista em tempos comandados Donald Trump. Por conta desse cenário, acaba se tornando um prato cheio para realização de uma trama que possa se tornar, não somente ser uma crítica lúcida sobre a nossa realidade, como também uma forma de alerta sobre o cenário que estão nos levando, se é que já não estamos nele. Por conta disso, Paul Thomas Anderson acerta precisamente ao pegar uma trama aparentemente simples, mas introduzindo nela reflexão e o seu lado autoral em potência máxima.
Para aqueles que estavam com saudades da sua forma de filmar, posso dizer com tranquilidade que o realizador usa e abusa de sua câmera, desde ao realizar planos sequências absurdos, como também alinhado com uma trilha sonora nervosa e composta pelo artista Jonny Greenwood. Neste último caso, por exemplo, as passagens onde é tocado um piano enquanto ocorrem diversas cenas de perseguição dentro de um prédio se tornam um dos pontos altos do filme como um todo. Se essa trilha não for indicada no próximo Oscar com certeza será outra injustiça da história vindo da academia.
Além disso, Paul Thomas Anderson surpreende ao realizar as cenas de perseguição de carros mais eletrizantes e das quais faziam um bom tempo que não assistia algo parecido no cinema recente. Em tempos em que o CGI se encontra desgastado é sempre bom ver um cineasta que se volta para as raízes de como se fazia cinema com a mão na massa e fazendo com que as cenas ganhem peso e maior relevância. Atenção para a incrível cena de subidas e descidas em uma estrada no deserto e desde já uma das melhores cenas de ação do ano dito e feito.
Ao mesmo tempo, o cineasta consegue extrair o melhor desempenho de cada um dos envolvidos e nos surpreendendo em cada atuação digna de Oscar para dizer o mínimo. Leonardo DiCaprio faz o seu personagem transitar entre a lucidez e de uma mente prestes a explodir, ao fazer com que o seu personagem perceba que não possui controle sobre as suas próprias escolhas e nos brindando com momentos até mesmo hilários. Ao mesmo tempo, é preciso destacar os intérpretes que possuem poucos momentos em cena, mas que nos proporcionam situações dignas de nota, como no caso da atriz Teyana Taylor e principalmente do ótimo Benicio Del Toro.
Porém, é com Sean Penn que eu testemunho uma das melhores atuações do ano, ao dar vida a um típico vilão que adoramos odiar, mas que não consegue esconder a sua fragilidade mesmo com toda a pinta de durão. Aliás, a figura do personagem de Penn nada mais é do que uma síntese sobre o lado hipócrita dos fascistas e racistas de hoje, ao abominar aqueles que o mesmo acha diferente, mas que acaba se envolvendo até mesmo de forma direta e fazendo de sua pessoa perder por completo a sua identidade própria. Graças aos seus trejeitos esquisitos, além de um cacoete vindo da boca de forma absurda, não me surpreenderia que o intérprete venha a se tornar um dos favoritos para o próximo Oscar na categoria de ator coadjuvante.
Acima de tudo, é um filme que fala sobre os tempos nebulosos atuais, onde querendo ou não, será preciso um dia ter que lutar contra esse sistema opressivo antes que todos terminem em gaiolas. Paul Tomas Anderson consegue elaborar esse quadro com reflexão, humor ácido e acima de tudo com o melhor que o cinema pode oferecer. Em tempos em que entretenimento e reflexão em um único longa está cada vez mais raro, o filme acaba se tornando um prato cheio.
"Uma Batalha Após a Outra" é uma surpreendente cruzada pessimista e ao mesmo tempo bem-humorada sobre os EUA cada vez mais isolado do mundo e adentrando ao seu inevitável declínio.
Faça parte:
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948
Nenhum comentário:
Postar um comentário