Sinopse: Relembra a história da revista que transformou o jornalismo esportivo em um ato de resistência.
Ser crítico de cinema é o mesmo que obter uma janela para conhecer melhor o mundo, principalmente em uma realidade que não desfrutou ao longo de sua vida como um todo. Na prática, eu sempre quando assisto ao futebol é de uma forma esportiva, nunca religiosa, mas tendo total consciência da força como esse esporte atrai as pessoas. "Placar: A Revista Militante" (2025) não somente revela os bastidores dessa revista, como também a paixão e as principais histórias desse esporte ao longo de sua história.
Dirigido por Ricardo Corrêa e Sérgio Xavier Filho, o documentário cria uma linha do tempo na história da Revista Placar, que não só influenciou o futebol e o jornalismo esportivo, como também o debate político no Brasil. Através de depoimentos de lendas do futebol e do jornalismo como Pelé, Zico e Walter Casagrande, Juca Kfouri, Mauro Beting e Paulo Vinícius Coelho, o longa discute o potencial da publicação jornalística como ferramenta de resistência durante a ditadura militar brasileira.
Em tempos ditatoriais era comum surgirem revistas e jornais independentes e para que assim fugissem da censura dos tempos de chumbo. No caso da revista Placar ela surgiu dentro da editora Abril, na época a mais poderosa do Brasil, mas que sempre seguia as regras exigidas pelo governo militar daqueles tempos. Porém, o documentário revela que a revista foi criada por jornalistas que sabiam driblar essa sombra e que colaborou para dar voz aos jogadores que não ficavam em cima do muro na época.
O longa, portanto, revela um paralelo entre o universo do futebol com o que acontece no mundo político, sendo que existe até mesmo nos dias de hoje corrupção e fazendo dos jogadores meros bonecos a serem controlados. A ideia, por exemplo, dos jogadores lutarem pelo direito de escolher os times que desejam jogar foi algo até então inédito para época, sendo que foi a partir da revista que eles obtivessem a sua voz, como foi no caso do jogador Casagrande. Em 1982 ele fez parte da Democracia Corintiana, movimento que dizia respeito tanto ao esporte quanto à política.
O grande charme do documentário se encontra também no fato dele transmitir o lado mais romântico e dourado deste esporte, onde muitos jogadores jogavam pela camisa e não somente pelo lucro que ela poderia gerar futuramente. Portanto, é sempre bom revermos na tela talentos como Pelé, Zico e Walter Casagrande que conseguem nos passar toda uma história, não somente por palavras, como também através de olhares profundos e que tem muito a dizer como um todo.
Curiosamente, os próprios jornalistas reconhecem os erros que a revista acabou cometendo ao longo da história, principalmente nos anos noventa em que o sexismo estava em alta. Portanto, era comum a revista explorar o lado sensual daquelas que carregavam o termo "Maria Chuteira", cujo estereótipo foi usado à exaustão não somente pela revista, como também em programas de domingo e colunas de fofoca. Em tempos atuais, em que o politicamente correto domina nas redes até mesmo com certo exagero, isso seria visto para essa nova geração como espécie de abominação, mas que não se pode mudar o que já se encontra incrustado na história.
Assistindo ao documentário me surpreende que ainda hoje exista a revista, principalmente em tempos em que a internet domina. Porém, devido ao seu legado como um todo, é justo que a mesma ainda sobreviva, ao possuir uma bagagem de histórias sobre o futebol e de como o jornalismo desse meio se aventurou. É um documentário que sintetiza um pedaço da história do Brasil, cuja maioria do povo se vê atraída por esse esporte e que testemunhou vários campeonatos e mundiais até aqui.
Com a participação emocionante do rei Pelé, "Placar: A Revista Militante" é um curioso documentário que explora, não somente o jornalismo esportivo, como também sobre a maneira que esses profissionais souberam driblar as adversidades nos tempos de chumbo.
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