Nota: Filme exibido para os associados no último dia 30/11/25.
Sinopse: Uma mulher tunisiana se vê dividida entre o amor maternal e a busca pela verdade quando seu filho retorna da guerra trazendo consigo mistérios que lançam uma escuridão sobre toda a aldeia.
Recentemente eu assisti ao documentário "Guarde o Coração na Palma da Mão e Caminhe" (2025) e do qual sintetiza o horror do conflito entre Israel e Gaza. Quando assisti fiquei com a mente nublada, pois constato o quanto a guerra é uma droga e ninguém sai ganhando dela, mas sim somente perdas. Já "A Quem eu Pertenço" (2025) é uma ficção, mas que explora o absurdo de um conflito e do qual nos gera um grande desconforto.
Dirigido pela cineasta Meryam Joobeur, o filme se passa no interior da Tunizia, onde os filhos mais velhos de Aïcha (Salha Nasraoui), deixam a família da noite para o dia e abandonando o mais novo Adam (Rayen Mechergui) O tempo passa, e um dos filhos retorna de uma guerra e trazendo consigo uma estranha mulher que usa um niqab roxo e está gravida. Aos poucos, estranhos acontecimentos vão acontecendo e gerando certa tensão na medida em que o tempo vai passando.
Desde a primavera Árabe de 2011 a Tunísia se tornou um país mais Livre, democrático, mas não escapando de grupos que defendiam o autoritarismo e cuja religião comandava com mão de ferro. Embora isso fique somente explicado nas entrelinhas do longa há uma sensação de temor, como se tempos sombrios retornassem e fazendo com que aquela família se sentisse ameaçada quase sempre. Curiosamente, Aicha tem um certo dom da visão, além de diversas vezes ter pesadelos e que aos poucos vão se revelando para ela como algo grotesco.
Meryam Joobeur capricha na transição entre os gêneros, onde o filme começa com pinceladas de drama, para se encaminhar para elementos de horror quase sobrenaturais. Porém, estamos diante de uma realidade nua e crua, sendo que o lado sombrio da história não se encontra através de vultos fantasmagóricos, mas assim através da ação e reação dos seres humanos. O resultado culmina elementos que geram até momentos claustrofóbicos e fazem a gente se perguntar o que realmente está acontecendo.
O filme se torna também um prato cheio para aqueles que analisam sonhos e pesadelos e dos quais não sabemos ao certo se há um fundo de verdade sobre o que é jogado na tela. Pode-se dizer que Aicha é a nossa guia perante aqueles eventos que vão acontecendo naquele local. Porém, a própria não compreende em um primeiro momento que está acontecendo, mesmo quando nos dá a entender que esteja evitando a trágica verdade dentro do seu íntimo. Tudo isso culmina com uma fotografia fantástica e alinhada com uma edição de arte digna de nota.
Embora seja o seu primeiro longa-metragem, Meryam Joobeur já havia chamado atenção na direção de curtas metragens como no caso de "Irmandade" (2018) e que acabou recebendo até mesmo uma indicação ao Oscar. Já o resultado dessa nova empreitada nos faz desejar que ela retorne em novos projetos, principalmente por ela saber nos conduzir para uma trama que irá deixar os nossos sentimentos em frangalhos e isso graças ao seu final perturbador, porém, necessário para ser visto. Não é sempre que um filme nubla a minha mente após a sessão, mas cujo resultado acaba se tornando mais do que positivo.
"A Quem eu Pertenço" é uma verdadeira aula sobre como se faz o entrelaçamento de diversos gêneros cinematográficos e culminando em uma experiência impactante para dizer o mínimo.
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