Quando eu penso no cinema francês logo me vem à mente "Nouvelle Vague", movimento cinematográfico que mudou o cinema de lá para sempre. Por conta disso, é comum a maioria de nós esquecermos que antes disso havia um outro tipo de cinema francês, sendo que muitos títulos antes desse movimento merecem ser redescobertos. É o caso por exemplo de "As Diabólicas" (1955), obra à frente de sua época e que serviu de modelo para diversos filmes de suspense que viriam logo em seguida.
Dirigido por Henri-Georges Clouzot, a trama é sobre Christina (Vera Clouzot), que é casada com o estupido Michel Delassalle (Paul Meurisse). Sendo uma mão de ferro como diretor do colégio que a pertence, ele sempre a humilha, maltrata alunos e funcionários e é odiado por todos. Porém, Christina e Nicole (Simone Signoret), amante de Michel, decidem matá-lo e na sequência jogam o cadáver na suja piscina da escola. Uma vez que o local é esvaziado logo se percebe que não há corpo e fazendo com que as duas percam o controle de tudo.
Reza a lenda que o mestre Alfred Hitchcock queria comprar os direitos do livro que deu origem ao filme anos antes. O que não é nenhuma surpresa, já que a obra foi escrita por Pierre Boileau e Thomas Narcejac, sendo que a dupla foi responsável também pelo livro que originou "Um Corpo que Cai" (1958). Em uma realidade alternativa fico me perguntando como teria sido a adaptação nas mãos de Hitchcock, já que pelas mãos de Henri-Georges Clouzot ela já surpreende do começo ao final da projeção.
Com um belíssimo preto e branco, o filme remete aos bons tempos do cinema Noir norte americano, mas ao mesmo tempo já nos dando pistas do que seria o cinema de horror psicológico que começaria na década seguinte é justamente a partir de "Psicose" (1960). Os personagens aqui são peculiares, cada um com motivações pessoais que os levam para um caminho tortuoso e sem nenhum retorno. A escola por si só se torna uma espécie de castelo mal assombrado, mas onde não há fantasmas por trás das sombras, mas sim somente olhares intimidadores e peculiares.
Vera Clouzot e Simone Signoret interpretam as típicas damas fatais do cinema policial de antigamente, sendo que a última, visualmente, remete à articuladora protagonista de "Pacto de Sangue" (1944). A cena do crime, por sua vez, é muito bem filmada, mas ao mesmo tempo nos dando pequenos indícios sobre o que realmente está por trás desse crime aparentemente perfeito. A partir do momento que o corpo desaparece o filme se envereda para diversas camadas de teorias que faz com que criemos para nós, mas cujo final constatamos que todas estavam erradas.
O final por sua vez é surpreendente, fazendo entender cada vez mais do porque Alfred Hitchcock queria adaptar essa obra. Se em "Psicose" o realizador criou uma das mais famosas cenas de assassinato dentro de um banheiro, o que então ele faria na cena crucial da trama em que também se passa neste local. Porém, Henri-Georges Clouzot filma como ninguém e que serviu até mesmo de modelo para o mestre do suspense.
Curiosamente, eu só sabia desse filme por cima através de sua refilmagem americana "Diabolique" (1996) hoje completamente esquecida. Revisto hoje se percebe o quanto o longa envelheceu bem e sendo um belo representante do cinema pré Nouvelle Vague Francês. "As Diabólicas" é um cinema de suspense de primeira e serviu de modelo para um terror mais psicológico e verossímil.
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