Sinopse: A viúva Sidonie inicia um caso com um editor enquanto é assombrada pelo fantasma de seu marido.
Isabelle Huppert é uma das atrizes mais versáteis e atuantes do cinema francês e se tornando uma figura presente nas Cinematecas de Porto Alegre. Porém, a intérprete também se arrisca em novos cenários, principalmente no oriente onde atuou em filmes como "A Visitante Francesa" (2012) e "A Câmera de Claire" (2017), sendo ambos feitos na Coreia e pelo diretor Hong Sang-Soo. Em "Sidonie no Japão" (2023) a intérprete retorna ao oriente, mas desta vez no Japão, onde a sua personagem transita entre a saudade, solidão e recomeços.
Dirigido por Élise Girard, o filme conta a história de Sidonie Perceval (Isabelle Huppert) escritora francesa que viaja para o Japão para o relançamento do seu livro mais conhecido. Chegando na cidade de Kioto, ela é acompanhada pelo seu editor Japonês Zenso (Tsuyoshi Ihara) e deste encontro nasce uma curiosa relação de amor e amizade enquanto ambos visitam monumentos históricos do país. Porém, Élise começa a ser assombrada pelo espírito do seu falecido marido (August Diehl) e fazendo com que ela transite entre lembranças e novas escolhas no decorrer do percurso.
É bom ir assistir a um filme com poucas informações, fazendo com que o longa se torne uma grata surpresa. No caso aqui, Élise Girard cria uma trama que transita em elementos já vistos em outros clássicos, que vão desde ao brasileiro "Dona Flor e Seus Dois Maridos"(1976), como a produção gringa "Ghost - Do Outro Lado da Vida" (1990). Porém, "Sidonie no Japão" se diferencia ao não cair no óbvio, já que nunca sabemos ao certo se a protagonista está vendo realmente um fantasma ou se tudo não passa do seu desejo em não deixar o passado e cujo mesmo vai aos poucos se materializando.
Elise Girard aproveita essa questão para explorar os mistérios sobre a vida e a morte de acordo com os costumes vindos do Japão, sendo que o ritmo lento da trama se torna proposital para desfrutarmos de belas imagens de locais turísticos e que nos passam uma ideia dos costumes de lá como um todo. Porém, o filme possui até mesmo umas pinceladas de um humor refinado, mesmo que tímido, mas que deixa o espectador mais descontraído e atraído sobre o significado da aparição do falecido marido. As aparições, aliás, surgem sem menor aviso e fazendo a gente questionar a lucidez da protagonista por alguns momentos.
Como não poderia deixar de ser, Isabelle Huppert novamente interpreta uma personagem complexa, cuja solidão é vista em seu olhar, mas que aos poucos ganha novo significado a partir do momento que se envolve cada vez mais com seu editor. Curiosamente, o personagem Zenso é talvez a figura que mais muda na medida em que a trama avança, sendo uma pessoa vazia por dentro, mas que aos poucos vai sendo preenchido pela protagonista e fazendo com que o mesmo libere o seu lado mais significativo de sua pessoa. Embora pouco conhecido mundialmente Tsuyoshi Ihara se sai muito bem perante a veterana e fazendo com que ambos os personagens se casem perfeitamente em cena.
Assim como o cultuado "Encontros e Desencontros" (2004) de Sofia Coppola, o filme funciona também ao tornar o cenário japonês como uma espécie de lugar em que os personagens buscam uma forma de se encontrarem com eles mesmos e para que assim possam dar um novo passo que antes parecia até mesmo impossível. Se por um lado os protagonistas desfrutam de momentos românticos, do outro, o filme propõe em não esconder o quanto é complexo tempos atuais em que é cada vez mais complicado manter um relacionamento enquanto o mundo cada vez se torna mais complicado. Ao menos, há sempre uma pequena esperança no final do túnel, mesmo quando os próprios personagens vistos na tela digam ao contrário.
"Sidonie no Japão" é uma singela história sobre como se conhecer a si próprio em novo território e nunca se limitar aos novos desafios que irão surgir mesmo quando o mundo lhe tirou tudo.
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