Sinopse: Anna Fox mora sozinha em uma casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo vinho, assistindo filmes antigos e conversando com estranhos na internet.
Assim como as adaptações de sucesso das HQ para o cinema, os filmes baseados em livros sofrem do mesmo mal quando muitos fãs fazem comparações da sua fonte original para a sua versão para as telas. Se por um lado temos obras como, por exemplo, "O Poderoso Chefão" (1972) que adquiriu identidade própria ao ser adaptado para o cinema, do outro, temos adaptações horríveis de ótimos livros, como no caso do desastroso "O Código de Vinci" (2006).
Em alguns casos, algumas produções sofrem pelo fato de serem fieis demais a sua fonte original e com isso perdendo a sua identidade própria. Porém, quando os realizadores se lembram que estão lidando com cinema se tem, portanto, um filme que consegue andar com as suas próprias pernas e independente se for superior ou inferior à sua fonte literária. "A Mulher na Janela" (2021) é um filme que tem dividido opiniões de muitos, mas que, felizmente, os realizadores não se esqueceram de dar alma própria para a adaptação.
Dirigido por Joe Wright, conhecido realizador de filmes de época como "Desejo e Reparação"(2007), o filme conta a história de Anna Fox (Amy Adams) uma psicóloga reclusa que passa os dias em seu apartamento em Nova York, assistindo a filmes antigos e observando seus vizinhos. Quando a família Russell se muda para o prédio da frente, ela passa a espionar o que seria a família perfeita, até testemunhar uma cena chocante que muda sua vida.
Antes de mais nada é preciso deixar claro que eu ainda não li o livro de A. J. Finn e, por conta disso, fui assistir a sua adaptação de mente aberta e sem muita expectativa após várias críticas negativas recentes que eu li. Curiosamente, me surpreendi pela boa direção de Joe Wright, que consegue manter um bom ritmo do filme do começo ao fim e sempre nos surpreendo com novas revelações no decorrer da trama. Logicamente, o cinéfilo de olhar mais atento irá reparar diversas homenagens ao mestre do suspense Alfred Hitchcock, que vai de "Janela Indiscreta" (1954), para "Quando Fala o Coração" (1945) e sua obra prima "Um Corpo que Cai" (1958).
Isso é proposital, já que isso colabora para que o conto ganhe alma própria nas telas, ao possuir uma linguagem cinematográfica já identificada pelos cinéfilos e não se tornando uma mera cópia de sua fonte original. Logicamente, ao prestar homenagem ao mestre do suspense, Joe Wright faz com que a adaptação se encaixe melhor em sua narrativa, já que algumas ideias vistas na obra literária poderiam não funcionar nas telas. como no caso, por exemplo, do apartamento do vizinho estar localizado na frente da casa da protagonista e não mais ao lado como alguns me disseram que estava assim no livro. É claro que o título de "Janela Indiscreta" já dispara em nossas mentes devido aquele cenário da frente do apartamento e cinéfilos como eu só agradecem por isso.
Porém, mesmo que a pessoa não tenha assistido essas obras citadas, o filme não possui uma trama de tamanha complexidade que não possa ser compreendida. Em outras mãos, o filme correria o risco de ser um mero suspense previsível, mas ganhando novas camadas não somente pela boa direção, como também pela parte técnica, da qual nos chama atenção a sua belíssima fotografia e uma ótima edição de arte que torna o apartamento da protagonista quase como um mosaico de inúmeros detalhes. É claro que o filme não seria nada sem uma boa protagonista, mas felizmente Amy Adams tira isso de letra.
Várias vezes indicada ao Oscar, Amy Adams nos surpreende ao interpretar a personagem Anna Fox, mulher que já na primeira cena percebemos que ela possui sérios problemas e fazendo a gente se perguntar o que é real ou não visto na tela, já que acompanhamos a trama somente pela sua perspectiva. Isso nos coloca em posição de dúvida, mas não somente com relação a ela, como também os demais personagens centrais que surgem na tela, interpretados por um super elenco, incluindo Gary Oldman, Jennifer Jason Leigh, Julianne Moore, Anthony Mackie e Myatt Russell.
Infelizmente a maioria desses talentos ficam, por vezes, em segundo plano, já que o foco está tudo voltado na realidade da personagem de Amy Adams. Porém, mesmo com poucos minutos de cena, é preciso reconhecer que a veterana Julianne Moore nos brinda com uma atuação surpreendente, ao fazer da sua personagem a peça fundamental da trama investigativa e colocando ao mesmo tempo em cheque a saúde mental da protagonista. Falando nela, a revelação sobre o seu passado trágico somente ganha dimensão maior graças a uma ideia criativa da direção, assim como a bela atuação de Amy Adams.
O filme somente se torna problemático em seu ato final, pois as reviravoltas da trama são muitas e os realizadores cometeram o deslize de agilizar elas em poucos minutos em uma importante cena. Com certeza deve estar muito melhor explicado em sua versão literária, pois se por um lado as revelações de uma boa trama podem ser explicadas em algumas páginas, o mesmo não se pode dizer que o mesmo feito ocorra em uma adaptação para o cinema. Fora isso, o filme termina de forma satisfatória, mas nada que a gente já tenha visto em outras obras.
De todo modo, "Uma Mulher na Janela" me surpreendeu como boa adaptação da literária para o cinema, ao possuir alma própria e prestando uma bela homenagem a um determinado mestre da história da sétima arte.
Onde Assistir: Netflix.
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